Capítulo 67

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- Pai? - Mateus engoliu seco ao notar que seu pai havia escutado toda a conversa.

Augusto se aproximou. Não estava nada contente, claro. Nenhum pai queria ver seu filho envolvido com drogas.

- Maite, o que foi que você disse? - ele repetiu, porém olhava friamente para Mateus.

- Eu não disse nada pai. - Maite tentava reconstruir a situação, mas era algo inútil a se fazer naquele momento. Seu pai já havia escutado claramente aquelas palavras saírem de sua boca.

- DISSE! - berrou. - NÃO DEFENDA MAIS, POIS EU OUVI TUDO!

Com os gritos de seu marido, Silvana correu para a sala para entender o que se passava. Aquele era o sinal que algo estava acontecendo, e que não era nada bom.

- Mas o que está havendo aqui? - Silvana disse, olhando para cada um deles.

- Silvana, fomos enganados! - Augusto começou.

- Enganados? Como assim enganados? Do que está falando?

- Do que estou falando? - seu riso de nervosismo ocupava a sala. - Pergunte para Maite, do que estou falando.

- Não é nada. - Maite tentava se manter tranquila diante daquela situação.

- DIGA! DIGA!!!! - ordenava.

- Se ela não quer me dizer, me diga você, Augusto.

- Tá, eu falo. - respirou fundo. - O fato de termos sidos enganados o tempo todo é que Maite tomou as dores do irmão. AQUELE PACOTE DE COCAINA, ERA DO MATEUS! NÃO DELA, COMO HAVIA ADMITIDO.

- O que? - Silvana olhou para o filho. - COMO VOCÊ TEVE CORAGEM DE USAR E ALÉM DE TUDO TER A CORAGEM DE TER DEIXADO SUA IRMÃ SE FERRAR POR TUA CULPA?

- Mas mãe eu só usei umas vezes porque... estavam todos usando e...

- Estavam todos usando? Então quer dizer que se todo mundo resolver se matar, você vai se matar também? Se todo mundo começar a beber, você vai beber também? Se todos os homens do mundo começarem a virar gays, você também irá virar? Que tipo de filho eu criei que vai pela cabeça das pessoas?

- Gay ele já é a muito tempo. - na hora da raiva, Maite disse, e claro, chamou a atenção dos pais.

- GAY? Que papo é esse de Gay? - Augusto olhou novamente para Mateus, que olhava para Maite com muito ódio.

- Ué, pai, esqueci de te contar? - Maite dizia, sem pensar nas consequências do que aquilo poderia lhe causar. - Faz um tempinho, que meu querido irmão foi pego no banheiro do colégio, em horário de aula, vendo a tão famosa G Magazine, ou melhor, revista de homens nus.

Silvana se espantou ao ver aquilo! Não tinha preconceito, nem algo assim, mas não são todos os dias que uma família recebe a revelação que há um homossexual entre eles.

- Meu filho... gay! - Silvana levou sua mão a testa e fechou os olhos.

- Gay... - Augusto encarava o filho, que até então não dizia nenhuma palavra, mas que estava prestes a explodir.

- SIM! - Mateus gritou. - EU SOU GAY. FIZ A MINHA ESCOLHA, GOSTO DE HOMENS E MULHERES ME ENOJAM. NÃO TÔ NEM AÍ SE IRÃO ME ACEITAR OU NÃO. NUNCA FEZ NENHUMA DIFERENÇA MESMO, VOCÊS NUNCA ME OUVIRAM, NÃO SEI PORQUÊ DEMÔNIOS TENHO VOCÊS COMO PAIS.

O sangue de Augusto subiu ao ouvir aquele desaforo. Tá, ele não era O PAI! Mas também não era um pai péssimo como Mateus o descreveu. Não aguento, o tapa na face de Mateus foi impossível de controlar.

Mateus, após sentir a pesada mão do pai, se revoltou ainda mais. Adolescentes não são mesmos fáceis, isso nenhum estudo precisa provar, mas fazer o que. A fase mais difícil da vida, é essa. Mateus encarou o pai por mais alguns segundos e avançou para cima dele, para devolver aquele tapa que estava doendo na alma, mas foi impedido por Maite que o segurou forte e disse:

- Mateus, não!!!!

- NÃO TOCA EM MIM! - Mateus gritou.

- Você tá errado em ter essa atitude, se acalme.

- Errado? - Mateus se afastou e começou a andar pela sala, rindo e balançando a cabeça negativamente. - A MAIS ERRADA NESSA CASA É VOCÊ, SUA PUTA!

- Não chame sua irmã assim, não há motivos para ofendê-la desta maneira. - Augusto disse.

- NÃO HÁ MOTIVOS? Ué, pai, esqueci de te contar? Esqueci de dizer que sua princesa tem suas falhas e te garanto que são muito piores do que a minha?

Maite sentiu seu estômago embrulhar tanto que pensou que fosse vomitar mais uma vez. Se controlou. Suas pernas tremiam e ela lutava para continuar em pé. Queria ver até que ponto ele chegaria.

- SUA FILHINHA É UMA********. - ele berrava. - DIZ PRA ELE, MANINHA... DIZ!!!!

- E-eu não tenho a-absolutamente nada para dizer.

- Oh não? - Mateus fez cara de pena. - Quer ajuda pra falar de sua vida praticamente dupla? Quer ajuda para dizer que você está traindo o papai? Quer ajuda para dizer que você está noiva... eu disse NOIVA, de ninguém menos que William, o chefe do pavão-pavãozinho.

Augusto e Silvana arregalaram os olhos, mas com o choque, Silvana se sentou no sofá, com as mãos tremendo.

- É isso mesmo, a princesa, a filha do delegado da cidade, namora um marginal. Um bandido.

Augusto, cheio de ódio no olhar, se aproximou de Maite que estava tensa e com os olhos marejados.

- MULHER DE BANDIDO? - Augusto disse, em seguida deu um tapa fortíssimo na filha. - VAGABUNDA!!!

- Augusto!!!!! - Silvana já desesperada, gritou.

- NÃO ME DIRIJA A PALAVRA. MEU PAPO É COM A MAITE.

- Pai... - ela estava com a mão no rosto, chorando.

- COMO VOCÊ TEVE CORAGEM DE SE ENVOLVER COM UM VERME DESSE? ME DIZ!!!!!

- Pai... eu o amo, pai... eu o amo!

- QUE TIPO DE MULHER É VOCÊ PARA AMAR ALGUÉM QUE NÃO PODE TE DAR FUTURO? UMA GAROTA CULTA, SE TRANSFORMOU NUMA VADIA DE PIOR ESPÉCIE.

- Não diz isso, pai! - ela chorava.

- E tem mais... - Mateus continuou. - Há uns meses, ela não foi viajar com a Dulce coisa nenhuma. Ela foi viajar com William! E transou com ele nessa viagem. No dia em que ela estava trancada no quarto, ele estava aqui.

Augusto olhou pra Maite como se ela fosse um bicho nojento. Estava com ódio e nojo da sua própria filha.

- Então era isso. Alan dizia que as vezes, via William por aqui. Agora tudo faz sentido. - Augusto respirou fundo.

- Pai, por favor me ouve... eu quero te...

Sem poder completar a frase, Maite sentiu a face arder com mais um tapa do pai.

- VAGABUNDA! EU NÃO CRIEI UMA FILHA PARA SER MULHER DE BANDIDO! -outro tapa.

Silvana não se sentia disposta a ajudar. Só estava sentada, mergulhando em suas próprias lágrimas.

- VÁ PRO SEU QUARTO! AGORA. NÃO QUERO TE VER FORA DELE, ATÉ SEGUNDA ORDEM. E AH... PODE DAR ADEUS AO WILLIAM E ESSE NAMORO SEM FUTURO.

Maite correu pro quarto, em lágrimas. Sentia seu rosto arder. Fechou a porta e se caiu no chão, pelo desespero que estava sentindo. Tudo estava perdido!

Amor Blindado Where stories live. Discover now