Capítulo 2

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Levemente alcoolizada
Seis anos atrás,
Bar do Steve's

Agnes Miller

O bar estava cheio, o falatório não parava um segundo sequer me dando uma leve dor de cabeça. A conjunção dos gritos da mesa de trás, com a música suave ao fundo, me fez pensar duas vezes antes de entrar em um lugar como esse. Mas o que poderia esperar de um lugar repleto de universitários bêbados e elétricos?

Entretanto, ali tinha Wi-Fi grátis, então não podia reclamar.

Olhei as mesas ao redor sentindo vontade de correr para casa o mais rápido possível, não estava com clima para sair. O céu tinha sido nublado o dia todo e um vento gelado fazia meu corpo todo tremer de frio, mesmo que tivéssemos em uma parte relativamente fechada do lugar. No entanto, estava em uma conversa com aquelas duas meninas e logo elas iriam acabar com a minha paciência se dissesse que estava querendo voltar ao meu ninho.

A verdade era que aquele semana tinha sido um grande caos para mim. Havia acabado de pegar mais matérias do que estava dando conta, brigado com a minha mãe por não ter ligado para a mesma por duas semanas seguidas, acabado com toda a minha coleção de cigarros por estar muito ansiosa para me dar conta. Estava presa em um verdadeiro turbilhão de problemas, ainda que tivesse mais vazia do que nunca, ter que ficar desgastando a minha parte boa para atender esses conflitos estava consumindo tudo, toda a minha vontade de continuar com a minha faculdade e naquela cidade. Era como se todos os caminhos tivessem apontando para voltar a seguir o pedido da senhora Miller e voltar para a sua casa, em que podia me controlar e vestir como uma das suas bonequinhas.

Beberiquei minha cerveja enquanto Mell contava sua experiência catastrófica de uma noite. Como sempre, depois de um encontro com um cara qualquer, de algumas bebidas e conversa fiada. Ela se chateiava com a falsa ilusão que poderia ter um relacionamento de verdade com eles. A história se repetia tanto que tinha virado um círculo visioso, em que a mesma se metia apenas com um tipo de homem, aqueles que parecem bom demais para ser real, que lhe prometia o céu todos os dias e que não passava de um idiota mentiroso.

—Mas eu deveria ter entendido que ele não queria nada.–disse, secando suas lágrimas imaginárias, respirei fundo, soltando o ar logo em seguida. Mell poderia ser uma amiga perfeita se tratando de esconder cadáveres, mas também é uma romântica sentimental, que ainda busca algo de verdade, estava cansada do seu choro,  mas ainda tinha que entender. A noite estava só começando.—No entanto, Erick tinha me dito que iria me ligar na manhã seguinte, mas só foi questão de tempo para parar de responder as minhas mensagens.

—Talvez se você deixasse de procurar, as vezes as melhores coisas são as inesperadas.–disse, meu tom era mais alto do que o comum, tinha ensaiado aquilo diversas vezes e usado de modo repetitivo, e ela ergueu o olhar e deu uma risada forçada, rolei meu olhos, entediada. —Estou falando sério, Mell. Não é como se ele tivesse te proposto casamento.

A questão que sempre me incomodava era que Mell era inteligente demais para ficar caindo nesse papinho furado. A menina loira estava cursando história, um lugar cheio de caras como aquele que estava sendo citado, era só prestar um pouco de atenção. Nunca em toda a minha vida tinha conhecido alguém que deixa ser iludida tão fácil, todos os sinais estavam ali, apontando para ela que não iria dar em nada. No entanto, parecia fingir não ver, deixando de lado toda a sua razão e seguindo um coração viciado em se meter em problemas.

—Os livros motivacionais não ajudam nesse lance aqui, Agnes.–resmungou, e eu suspirei, esfregando meus dedos na testa para amenizar a dor. Meu cérebro parecia está derretendo, e dar conselhos amorosos para minha amiga não ajuda em nada. —Está mais insensível do que o comum hoje.

Não brinque com fogo Where stories live. Discover now