Capítulo 9

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Cartas na mesa e
coração na calçada.

Agnes Miller

Depois de ter transado loucamente com o senhor sedução não conseguia mais lidar com o fato dele estar tão perto de mim praticamente todos os dias, sempre aparecendo nos momentos mais inoportunos. A questão era que sempre, a todo momento, arranjavamos um jeito de nos pegar no meio daquele trabalho, poderia ser em qualquer brecha entre os horários de saída, almoço ou descanso, acontecia dentro do carro, nas escadas de emergência e até mesmo dentro de um banheiro de um restaurante ali perto. Aquele garoto tinha se tornado o meu vício em questão de dias, deixando tudo ainda mais confuso e complicado, sendo o passatempo que eu não precisava para ocupar a minha mente exausta.

A verdade era que estava perdidamente enlouquecida com tudo que ele conseguia me proporcionar, a forma em que me tocava, o jeito em que me fazia sentir a melhor e mais gostosa mulher do mundo era algo sobrenatural, em nenhum outro momento da minha vida tinha experimentado uma relação tão intensa. No entanto, tudo isso não era o suficiente para me fazer parar de pensar na minha situação complicada.

A senhora Miller fez o que disse. Tirou todo e qualquer dinheiro que me dava e o acesso aos cartões. Simplesmente ignorado toda e qualquer necessidade de uma filha apenas por não ter feito o que foi planejado. E meu pai, mesmo sendo um cara bacana, estava também conivente com aquele circo. Minha querida mãe tinha me feito a proposta de fazer faculdade na cidade na qual eles iriam se mudar, poderia ir apé para o campus, teria eles me cercando e, principalmente, um teto para ficar. Mesmo que, consequentemente, teria que largar tudo ali, sem uma possível volta.

-O que essa cabecinha está pensando?-perguntou, enquanto colocava a sua cueca, tinha acaso de tomar banho. Ele viu que estava analisando o seu corpo e me deu uma piscadinha o que me fez rir internamente, ele estava sendo um cara legal. Desde a última briga tinha mudado todo o seu comportamento e deixado as coisas fluírem bem entre nós.-Estava no mundo da lua?

Gostaria de estar, seria tudo tão mais fácil. Essa era a verdade. Tinha que decidir minha vida no final daquele maldito mês, ou iria com meus pais ou teria que dar alguns pulos para conseguir sobreviver sozinha, o que era um pouco impossível já que, mesmo tendo trabalho, o custo de vida era bastante alto.

—Tenho tantos problemas.–disse, em meia voz, sabendo que iria parecer um pouco infantil no momento.—Não sei por onde começar.

—Eu sei disso.–ele pegou em minha mão, beijando levemente, em uma demostração clara de afeto, e, principalmente, tranquilidade.—Olhe para mim, Agnes.

Encarei os seus olhos tempestuosos, encontrando ali tantos sentimentos que foi difícil identificar. Sua expressão era acolhedora e contente. Em seus lábios um sorriso de canto se acomoda, me fazendo encarar eles por tempo o suficiente para o mesmo notar.

—Está tudo bem, de verdade.–ele sussurrou, com a voz rouca e calma. Isso fez com que meu coração batesse mais forte. Meu rosto tinha começado a ficar quente, todos os sinais para o incêndio começar. —Estou aqui por você.

Aquilo era bom, mas difícil de acreditar, fazia tão pouco tempo em que nos conhecemos. Nesse curto espaço o ódio era tão grande quanto o tesão, tínhamos começado a nos dar bem havia poucas semanas, ele não era um ponto seguro ainda, existia muito além do fogo para se tornar algo palpável.

Respirei fundo, tentando manter minha mente clara. Eu estava em sua casa, havia acabado de sair do trabalho, indo direto para aquele nosso refúgio secreto, em poucos minutos teria que me deslocar para uma de suas festas, planejadas junto com alguns lideres da empresa, como forma de socializar os novos colaboradores com o restante, uma tentativa maluca de nos fazer se sentir pertencentes aquela empresa de doidos.

Não brinque com fogo Where stories live. Discover now