Capítulo 7

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Vivendo de ilusões
Seis anos atrás

—Como foi a viagem?–perguntei de forma despreocupada, tomando mais um gole de vinho branco, tentando parecer mais sofisticada do realmente era. Do outro lado da mesa meus pais me olhavam em uma mistura de irritação com preocupação. Provavelmente por conta de ter sumido por algumas semanas, enquanto os mesmos estavam em um cruzeiro comemorando os vinte anos de casados. —Fiquei sabendo que a Paris é linda a noite.

Por alguns segundos não houve resposta, os quatro olhos me encararam analisando cada detalhe do meu rosto, como se estivesse tentando capturar ali algum resquício de culpa, mentira ou vergonha. Mas não me sentia assim, não tinha motivos para me desculpar, jamais poderia me arrepender de nada. Eles eram controladores, era inegável isso. Estavam por todos os cantos, querendo saber o que estava vestindo, comendo ou andando, mesmo já morando sozinha e com idade suficiente para saber o que estava querendo ou não fazer com a minha vida.

Ainda que em muitos momentos tivesse precisando da ajuda financeira deles, principalmente no começo da minha faculdade, naquele momento estávamos em uma guerra fria, sem saber ao certo quem iria atacar primeiro eu apenas tentava me afastar cada vez mais, querendo ficar na margem do conflito não declarado, e não sendo o alvo deles. No entanto, sempre que situações como aquela acontecia voltavamos ao mesmo ponto de antes. Eu era a única filha daquele casal, as atenções sempre foi completamente voltada para mim e para os negócios da família. Me sentia extremamente diferente de tudo que os mesmos idealizavam, não tinha seguido sequer um dos seus conselhos e partido na primeira abertura que tinham me dado. Existia sim uma certa culpa borbulhante dentro do meu peito, tinha vivido parte da minha vida com eles sendo os meus responsáveis. Ainda que não pudesse negar como a falta de contato também me deixava a deriva, precisava fazer isso, ou ficava e concordava com tudo que tinham planejado para mim ou seguia meu próprio caminho, bem distante deles.

—Por que diabos não atendeu meus telefonemas, Agnes?–minha mãe foi a primeira a falar, com sua voz ácida e brevemente mais baixa do que gostaria. Em seus lábios um sorriso amigável dançava, mas esse era o seu jeito de tentar passar elegância enquanto estava acabando com a minha raça em público. Em contraponto, meu pai, estava contente uma risada enquanto comia um pouco de massa, ele era o típico homem piadista e alegre, que, mesmo bravo gostava de beber e contar suas histórias. Contudo, era óbvio que ali, na frente da grande senhora Miller, ele iria tentar esconder esse seu lado.—Você não é mais uma adolescente.

Fiquei em silêncio tempo o suficiente para a sua pergunta se desmanchar no ar. Tudo bem, tinha me esquecido de entrar em contato com eles por durante uma semana, mas nada de extraordinário tinha acontecido até aquele momento, tudo era monótono e claro naquela rotina de faculdade e busca por dinheiro para pagar minhas dívidas, vivia em um um círculo de pessoas que tinham seus próprios problemas e que só se encontravam vez ou outra. Queria muito ter dito que estava em uma aventura louca em um desses lugares estranhos do outro lado da cidade, mas nem isso aconteceu.

Tudo que se tinham em minha mente até aquele presente momento era a conversa com Noah no dia anterior e como as cartas foram jogadas na mesa. Certo, eu tinha finalmente arranjado um emprego descente, mas em que situações isso se deu me deixava muito desconfortável. Existia uma parte minha que era extremamente sabotadora e que pensava como tinha ganhado aquela vaga apenas por ser uma conhecida de um dos donos. Um puta clichê que não estava disposta a entrar. Nunca em toda a minha vida pensei que passaria por uma situação como aquela, tendo que lidar com um cara tão complicado e gostoso, ao mesmo tempo em que queria me aprofundar em tudo que seu corpo tinha a me oferecer, minha mente estava me implorando para sair da sua vida antes que algum dano fosse causado na minha.

Não brinque com fogo Where stories live. Discover now