Capítulo 8

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Tensão sexual e vinho barato.
Seis anos atrás.

Noah Collins

Ela encarava o quadro da minha sala como se fosse a obra mais preciosa do mundo, observando de modo estranho, com os olhos meio vazios e arregalados, apenas para não olhar para mim. Sabia que não era o momento de falar nada, tudo que pudesse ser dito naquele momento iria a deixar com muita vergonha, se sentindo ainda pior. Logo, a minha mente tentou se esvaziar assim como o seu olhar, segurando todas as dúvidas que borbulhavam em minha cabeça me fez prometer que não tocaria naquele assunto de forma rude, sem cogitar todas as possibilidades, me conhecia bem o suficiente para entender que assim que abrisse o bico tudo que viria a seguir poderia ser irreversível, eu era uma metralhadora de merda e não parava até que todas as balas estivessem jogadas.

Engoli em seco e respirei fundo, tentando acalmar minhas emoções, era evidente que não estava pensando direito quando saí do restaurante e indo diretamente para um lugar tão íntimo, estar dentro daquele espaço revelava tanta coisa de mim, de tantas formas que não conseguia lidar com aquilo muito bem. Apesar de já ter ficado, sentindo aquela garota uma vez, sabia bem que não conseguiria me livrar das barreiras que a mesma havia criado entre nós, ela tinha estabelecido os limites, e a porra da minha falta de vergonha tinha ultrapassado todos eles. Mesmo uma parte minha tendo hesitado, simplesmente deixei as minhas emoções falar mais alto e a vontade de a ter por perto me levou o caos. Mas, mesmo assim, o fiz, estava na sala da minha casa com a garota que a poucas horas atrás me odiava, que tinha tido uma crise de ciúmes estranha e estragado todo o possível rolo quente que poderíamos ter. Nem mesmo em meu pior pesadelo podia me imaginar em uma situação tão constrangedora quanto aquela, por poucas coisas tinha terminado relacionamentos, deixado a pessoa de lado por uma palavra mal dita, mas naquele momento estava ali, quase que implorando um pouco mais de sua atenção. Minha mente só comseguia pensar o por quê disso.

—Então, Agnes...–a chamei, sentindo um leve desconforto se acomodar em seus traços assim que seus olhos se deslocam para o meu lado. Antes de completar a frase um sorriso nervoso cortou os seus lábios me fazendo questionar se levar ela para a minha casa era mesmo uma boa ideia, só então percebi como a mesma poderia interpretar aquilo de maneira errada
Puta merda.—Você aceita alguma coisa?

—Aceito um vinho.–sua resposta saiu baixa, contida, como se estivesse com uma puta vergonha da situação. Revirei os olhos dando um leve sorriso, era impressionante como aquela garota era inconstante. Uma hora parecia arrogante, venenosa e logo depois mostrava uma timidez e docura que, sem não tivesse estado na sua outra parte, jamais acreditaria que era a mesma pessoa.—Ou algum cigarro, pode me dar uma dúzia deles?

Neguei com a cabeça, fingindo não ter escutado essa última parte, o modo como estava nervosa denunciava que aquilo poderia ser mesmo um pedido real, mas não iria fazer isso, não podia. Ela iria discontar tudo naquelas drogas e o que iria sobrar depois era alguém vazio, que não tem mais ao que se agarrar pois está acabado por dentro. Não a conhecia bem o suficiente para saber qual seria o próximo passo, mas existia uma grande possibilidades dela realmente fazer algo ruim e isso me deixava com receio, nervoso ao ponto de minhas pernas oscilarem enquanto caminhava para a cozinha em busca do tão pedido álcool.

A verdade é que eu tinha tantos problemas familiares quanto ela, não poderíamos entrar em uma disputa, é evidente que eu sairia perdendo feio, tinha entrado no curso de administração por conta da minha família, começado a realmente fazer parte da empresa depois de um pouco de cobrança deles, e de ter dito que iria cortar a minha mesada, ainda que não tivesse totalmente dependente deles, sabia bem que qualquer valor seria um baque para a minha vida de universitário, foi por isso que aceitei toda aquela merda, ficando calado e abaixando a cabeça para todos os pedidos que vinheram a seguir. Sabia que estava tudo perdido desde o primeiro momento em que aquela assunto veio a tona, o senhor Collins era um pai muito controverso, ao mesmo tempo em que queria me manter por perto, estar sobre o seu cuidados, existia também o lado em que me queria o mais longe possível, apenas atendendo as suas ordens e deixado o caminho livre e os acessos liberados. Ele e a minha genitora eram uma dupla infalível que tinha criado os seus dois filhos homens para dar segmento ao império que tinham construído, meu irmão mais novo, Nicolas, desde o início foi o mais adequado para assumir esse cargo, sempre se preocupou com dinheiro e poder. Infelizmente a minha família tinha aquela tradição de todo o peso ser herdado pelo irmão mais velho, alegando que esse teria mais provabilidade de tomar as decisões de modo mais maduro e consciente. Esse era o meu Karma, o destino que estava traçado para mim e nem mesmo se tivesse a milhas de distância poderia mudar esse fato. Era um deles e tinha que aceitar isso.

Não brinque com fogo Where stories live. Discover now