20. Tempos difíceis.

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Estava na capa de todos os jornais. "Jovem preso por trafico de drogas enfrentará tribunal até o fim do mês." Mamãe insistiu para que eu fosse na cadeia e conversasse com Ethan, mas não quero que ele saiba da nossa filha — sim, é uma menina — não mesmo. Se depender de mim ela nunca saberá sobre a existência dele.  As coisas não estão nada fáceis, Dani sumiu alguns meses, pois está fazendo um tratamento no Canadá que os médicos juraram que o resultado seria dez vezes mais rápido. Lógico, que papai se dispôs a pagar tudo. Ele está fazendo de tudo para compensar esses anos que esteve longe dele.

Mamãe tentou conversar comigo, me pediu para procurar o meu pai para que pudêssemos conversar direito e colocar tudo em seu devido lugar. Mas eu neguei, foi ele quem falou aquele monte de besteira antes de eu sair casa, sem dó e nem piedade. Não vou ficar correndo atrás de uma pessoa que não quer minha companhia, não mesmo. Sebastian acabou sumindo também, pois foi acompanhar Dani durante o tratamento, mas ele ligava de vez em quando para nos manter informados de tudo que os médicos falavam.

Na semana passada recebi dois cartões postais da Leona, não os abri. Juro que minha vontade é de rasga-los e fingir que nada aconteceu, mas não, eu os guardei em uma caixa no fundo do meu guarda-roupas. Merda! Como é possível alguém vacilar tanto e depois disso tudo você continuar amando a pessoa o mesmo tanto, ou ainda mais? Isso é confuso demais pra mim. Quero esquecer, apesar de ser inevitável.

— Interrompo? — pergunta Tony entrando no quarto.

— Claro que não. — coloco o livro de lado e me ajeito a cama — O que foi?

— É que os meninos ligaram agora, e o Daniel já está voltando pra casa, talvez ele chegue aqui ainda essa noite.

—Ah que ótimo, Tony. Mas ele já está andando? Ele não disse nada?

— Não, ele não disse nada. E a voz dele nem estava tão animada assim, parece que a avó do Sebastian, que criou ele quando ele era mais novo, faleceu e ele vai pra Florida hoje e por isso nem deve voltar pra cá. 

— Como assim? Eu preciso ligar pra ele agora!

— Kali, é melhor não. Espera um pouco, pelo menos espera um ou dois dias. Eles ainda estão no Canadá, será uma longa viagem.

Droga! Agora tenho mais uma coisa com o que me preocupar. Passo a tarde toda mandando mensagens para o Sebastian e pedindo pra que ele me ligue quando já estiver lá. Mas nada dele responder. Daniel chegou na mesma noite, ele já estava andando — o que era uma ótima novidade — com um pouco de dificuldade ainda, mas bem melhor do que ficar sentado naquela cadeira de rodas. Dá pra perceber que ele não está tão feliz assim. Pergunto sobre o Sebastian e ele não diz nada, só diz que quando ficou sabendo da noticia ficou arrasado. Daniel passou algumas horas lá em casa e depois Carmen foi buscá-lo.

Passou uma... duas... três semanas e nada dele retornar as minhas ligações ou as mensagens que eu havia deixado para ele. Daniel disse que ele não retornou nem as que ele deixou. Eu já estava começando a ficar preocupada, o que está acontecendo com ele?

Dani e eu estávamos sentados na praça, olhando as crianças brincarem e tentando se refrescar com um pouco de sorvete. O dia está muito quente.

— Ontem chegou mais três cartas da Leona lá em casa pra você. Eu consegui pegar antes que o Paul as encontrassem. — avisa Daniel dando uma colherada no pote de sorvete.

— Parece que ela não vai desistir. — respiro fundo.

— Nem você deveria desistir, Kali. — murmura ele — Daqui três meses sua filha nasce, e depois disso você vai poder fazer o que quiser, aonde quiser. Você já maior de idade, dona do seu próprio nariz. E todo mundo sabe que você ainda ama a Leona, vai esperar até quando por isso?

Não ouse me deixar | lésbicoWhere stories live. Discover now