Exame médico

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- Você realmente deve estar com muita fome pra comer algo que a Ayla vai cozinhar. - Eu ri.
- Eu tenho que experimentar a comida da minha filha. - Ele sorriu.
- Agora que ela está na cozinha com a Angelina, eu preciso te perguntar uma coisa, posso?
- Claro!
- Por que você nunca foi atrás da minha mãe para explicar o que aconteceu com a Ayla?
- Eu fui atrás dela na casa do seu avô, mas ele não deixou eu terminar o que eu tinha para dizer. Ele falou que me deu uma criança para criar, e que seu havia a abandonado, a culpa não era dele. Eu tentei explicar que haviam sequestrado ela, mas ele não deixou, e  acabou me expulsando da casa dele.
- Meu avô era um monstro! Como ele podia tirar a Ayla, da minha mãe e ainda ser tão frio quando soube que ela tinha sumido?
- Ele não tinha sentimentos. Era rígido e parecia amargurado por dentro. - Olhei para baixo, tentando entender, por que ele deixou as coisas tomarem esse rumo.

Ele se levantou, para pegar um copo de água, que estava na mesa. E deixou sua pasta cair. Fazendo ela abrir, e alguns papéis se espalharem pelo chão. Eu me abaixei para ajudá-lo, e ele parecia querer recolher tudo sozinho, sem me deixar enconstar neles, mas eu peguei um atrás de mim, e ví que era um exame médico, dizendo que ele estava em estado terminal.

- O que significa isso? - Perguntei, segurando o papel.
- Não é nada. - Ele arrancou o papel da minha mão, colocou dentro da pasta e se levantou.
- Como não é nada? Quer dizer que você vai morrer? - Perguntei me levantando.
- Shiu! - Ele fez um sinal com o dedo para que eu fizesse silêncio. - Ela não pode saber! - Ele disse, se referindo a Ayla.
- Não pode saber que você vai morrer? Não pode esconder isso dela! - Mas eu não posso contar para ela, não agora que eu consegui achá-la. Eu estou com os dias contados para morrer, eu só vim para me despedir dela, de um jeito que ela não perceba.
- Não pode fazer isso! Ela precisa saber do seu estado.
- Mas se ela souber, ela vai sofrer!
- Ela vai sofrer de qualquer modo.
- Com tanto que não seja hoje...
- Mas Sr. Trevor...
- Eu não vou deixar ela saber disso!
- Mas ela vai saber, Sr. Trevor.
- Vai saber no dia que acontecer.
- Não. Eu já tentei esconder uma coisa dela, e prometi que não faria isso de novo.
- Mas isso é coisa minha. Finge que você não leu, e nem sabe de nada!
- Como eu vou fingir que não sei que você vai morrer?
- É melhor eu ir embora. - Ele falou, indo em direção a porta.
- Você não vai embora sem antes falar com ela! - Eu corri na frente dele, e mesmo mancando, por estar com a perna engessada, eu bloqueei a passagem pela porta.
- Ela não pode sofrer, por sentir minha falta!
- E você não acha que ela já sofreu a vida inteira, por sentir sua falta?
- Eu também sofri por sentir falta dela. Você preferia que eu não tivesse vindo?
- Eu não tenho que preferir nada. Só acho que vir até aqui, com uma notícia dessa, não seria a melhor opção. Mas se veio, conte a ela.
- Mas eu tinha que vê-la, pelo menos uma última vez!
- Então conte a verdade a ela! Se você não contar, eu conto. - Ele parou, e ficou olhando fixamente para mim. Ele suspirou e fechou os olhos por alguns segundos.
- Você é igualzinha a ela. - Ele sorriu.
- Quem? - Perguntei desconfiada.
- Sua mãe.
- Você sente falta dela?
- O que eu e sua mãe tivemos, ficou no passado. Mas o passado me deu um presente maravilhoso, a Ayla. Cada dia que eu passei longe dela, foi um dia perdido da minha vida. Toda noite, quando eu deitava a minha cabeça no travesseiro, eu pensava e imaginava como a minha filha era. Eu me sentia sozinho, e culpado por ter deixado ela sozinha naquele berço. E hoje, quando ela disse que eu não era o pai dela, ela teve razão. Eu não cuidei dela, eu não consegui cumprir o meu papel de pai, eu só consegui achá-la agora, e já é tarde de mais, porque eu vou morrer e minha filha nem sequer vai me conhecer direito.
- Não diga isso. Ela disse aquilo na hora da raiva, por achar que você tinha a abandonado. Você a achou. Pode ter demorado, mas você conseguiu achá-la. Ela sentiu sua falta. Ela precisa de você perto, mesmo que seja por pouco tempo.
- Você deve ser uma ótima irmã pra ela.
- A Ayla me transformou em uma pessoa melhor Sr Trevor. E eu tenho certeza que o certo a se fazer, é contar a verdade para ela.
- Aqui está! - Ayla disse, voltando da cozinha com pratos na mão. Ela é Angelina colocaram os pratos na mesa, e nos sentamos para comer.
- Eu quis esperar mais um pouco para vir, mas ela insistiu para trazer os pratos logo. - Angelina sussurrou em meu ouvido.
- Você ouviu? - Sussurrei e Angelina assentiu com a cabeça.
- Ele vai morrer! O que eu faco? - Perguntei, ainda sussurrando.

Antes que Angelina me respondesse, Ayla disse:

- Vocês não vão comer, não?
- Vamos! - Eu sorri e comecei a comer.

FreedomWhere stories live. Discover now