Adiante (EDITADO)

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*Esta estória é um romance gay. Passar adiante, colega, caso não te agrade.*

É outono... Estou esparramado no gramado do Grand Park com a perna direita levemente inclinada e um dos braços atrás da cabeça enquanto o outro evita a claridade das duas da tarde. Evito olhar o relógio no meu pulso e descobrir que já não resta tanto tempo assim.

Lembro de quando me reunia com a galera; às vezes praticávamos algum esporte ou só curtíamos à tarde sem maiores preocupações. Sinceramente, não sinto disposição alguma para voltar. Não posso negar que desde sempre fui muito preguiçoso e relaxado. Sorrio com algumas lembranças do passado e por falar nelas, algumas aventuras também. É estranho que passei boa parte dos meus anos em Los Angeles e agora de repente, devo admitir, não tão de repente, estamos partindo segundo uma perspectiva interessante de Thomas que me custa a acreditar. Pelo menos já me despedi da maioria do pessoal, não sou muito afetuoso nem nada então fui direto, principalmente por que ainda estou chateado com toda a situação.

Não me entendam mal. Eu amo os meus pais, desde o instante que Trevor e eu fomos adotados por eles. Algo no ínfimo me dizia que aquele casal seria a melhor coisa que poderia nos acontecer em razão dos fatos. Agora com meus 17 anos estamos nos mudando e isso não é algo muito atrativo para mim, nem um pouco, na verdade. Mas, o engraçado é que comparando a Trevor até que reagi bem. Meu irmão é um tanto quanto rebelde e não sabe expressar bem seus sentimentos, ele é impulsivo. Não suportava a ideia de se mudar quando tudo e todos que se importava estavam bem aqui. Foi difícil enfiar na cabeça dele que era o melhor para todo mundo... Será?

Por muitas vezes me perco pensando como seria tudo isso se nossos pais biológicos ainda estivessem aqui, sabe, se nada houvesse acontecido. Seria bom? Ruim? Quem sabe. Não que eu esteja reclamando, longe disso. O Thomas e a Sarah conseguiram cuidar da gente muito bem e eu não tenho nada a dizer contra, é fato. Só que ainda tenho sonhos sobre eles. Pode parecer estranho depois de tanto anos, porém, isso ainda é um trauma para mim. Ouço as vozes deles, o som do carro colidindo, há momentos que tudo está muito confuso e isso é estressante.

Suspiro*

Tenho um sobressalto quando duas crianças passam correndo por mim rindo que nem dois malucos. Os xingo mentalmente enquanto procuro uma posição confortável. O sol desapareceu por trás de alguns prédios à direita e me pego conferindo o relógio pela segunda vez desde que cheguei aqui. Falta por volta de duas horas para escurecer. Simto um frescor e então fecho os olhos ouvindo o farfalhar das folhas e algumas gargalhadas ao longe. Percebo que o parque começara a esvaziar. Sem a claridade consigo observar o céu azulado em seus vários níveis evidenciando a passagem do tempo. Lá e cá é possível ver uma nuvem solitária vagando...

Mais um suspiro*

Estou perdido. Meu estômago se contrai e me perco hipnotizado com os lábios contraídos. Tenho a leve sensação de que as gargalhadas pararam.

Uma onda de excitação me invade e espero um indício. Quando era mais novo me pegava conversando com os braços cruzados sobre o parapeito da janela no meu quanto durante infindáveis noites com meus pais. Não sabia para onde olhar mais sempre umedecia os lábios e mesmo trêmulo soltava algumas palavras esperando que as mesmas tivessem algum nexo. Agora depois de tanto tempo me pego com a mesma sensação.

Falar com eles seria mais fácil. Não preciso me preocupar com questionamentos ou olhares. Acho que a ideia é somente falar... falar... É óbvio que não é como se esperasse uma resposta, mas desabafar deve ajudar. Pelo menos acredito que faça alguma diferença. Paro por um segundo pensando em Trevor e em como nunca, nem mesmo quando éramos crianças, ele demonstrou nenhum sinal de fraqueza. Talvez, mascare, não sei. Provavelmente estive muito preocupado comigo mesmo para pensar como meu irmão se sentia...

Sinto algo vibrar em meu bolso o que me tira do meu entorpecimento. É uma mensagem de Trevor. Hora de ir, penso. Os três ficaram arrumando as malas em casa e resolvendo algumas questões da casa. Fico contente por ter feito as minhas logo mais cedo. Por um instante imagino o quanto Trevor deve está mal humorado com todos os desavisados que tentam tirar alguma palavra com ele.

Levanto-me e trato de limpar a roupa rapidamente. Tenho que me preparar para a viagem, esta por sua vez, longa.

Imagino a bronca que vou levar quando chegar. A ideia inicial não era passar à tarde inteira no parque, mas vai valer o sermão. Tiro o celular do bolso, desbloqueio a tela e pego rapidamente o fone. Escolho uma playlist qualquer e inicio:

Lovely, Billie Eilish

O dia logo daria início a noite e por sua vez estaríamos na estrada. Saio do gramado para a parte calçada, as luzes já acesas aumentam o aspecto da ausência. Não há muito no que refletir. O que aconteceu até agora não importa mais e o que acontecerá de agora em diante, bem, não sei exatamente no que pensar.

***

Então gente, quando fiz essa estória tinha por volta de 15 anos. Vou procurar atualizar agora, reorganizar algumas coisas, acrescentar outras. E espero que vocês acompanhem as mudanças.

Não sei exatamente quando vou poder atualizar. Agora estou na faculdade, mas vamos ficando no aguardo.

Em Pedaços (Romance Gay)Where stories live. Discover now