Uma ajudinha

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- Você já não têm problemas demais para ficar se preocupando com os dos outros agora? - Ashley perguntou.

- Só quero ajudar o garoto. - Revirei os olhos. - Que mal tem nisso?

- Tyler, todos temos problemas, claro que em graus diferentes. Temos que aprender a lidar com eles. - Me disse. - É legal da sua parte se preocupar com ele, mas pense bem, todos aqui nesse colégio possuem problemas, por acaso está cogitando ajudar a todos?

- Não. - Respondi. - Mas o garoto sofre bullying, Ashley. Você não viu a situação dele. Eu vi.

Após ter o deixado na enfermaria insisti para que me contasse quem foram os responsáveis pelo seu estado. Ele negou. Acredito que estava com medo, com certeza o ameaçaram caso abrisse a boca. Sem alternativa, deixei-o só e voltei para a aula. Na saída acabei me encontrando com a Ashley e lhe contei tudo. Ela ficou espantada com a forma que narrei sobre a maneira que deixaram o corpo do garoto que até então não havia lembrado de lhe perguntar o nome. Embora o espanto, ela insistia para que o deixasse se virar sozinho.

Voltamos no carro de Trevor. Ele passou na casa da Ashley para que a mesma pegasse algumas roupas já que dormiria em minha casa. Os dois queriam ter um momento juntos de novo. Dessa vez, sem maiores perturbações. Não demoramos muito para chegar a mansão, lá estava o porteiro nos esperando. O cumprimentamos e Trevor seguiu para a garagem.

- Vocês dois estão muito calados. - Trevor disse assim que saímos do carro. - Por acaso aconteceu alguma coisa?

- Pergunte ao Tyler. - Ashley pegou sua bolsa e seguiu na frente.

- O que houve? - Perguntou.

Nos encostamos no capô do carro e então lhe expliquei sobre a situação que havia me metido. Ele em momento algum pareceu discordar ou concordar comigo. Parecia neutro. Assim que terminei ele apenas me deu um aperto no ombro e falou que eu fizesse o que achava certo independente do que os outros achariam. Isso me remeteu a outra coisa, mas nada disse.

Ashley estava sentada no sofá com o celular em mãos e quando nos viu esperou alguma reação negativa de ambos. Sem conseguir decifrar nossas expressões ela revirou os olhos e voltou ao que fazia. Trevor sentou-se ao seu lado e começou a sussurrar algo no seu ouvido deixando-a atenta. Vendo que estava sobrando ali fui na direção da cozinha para beber um pouco de água. Pregado a geladeira, estava um pequeno pedaço de papel. Era um bilhete.

Meninos, seu pai e eu chegaremos tarde do trabalho, quero lhes avisar que hoje teremos visita. São parentes de seu pai que ele havia perdido contato devido a distância entre nossas cidades. Agora que moramos em Chicago ficara mais fácil de marcar encontro com eles, já que os mesmo moram aqui também.

Parentes? Não lembro de ser apresentado para muitas pessoas da família dos meus pais. Espero não ficar nervoso com esse encontro. E o jantar? Quem é que deve preparar? Nem eu e nem o Trevor sabemos cozinhar. Ashley? Talvez. Se ela souber posso ajudá-la com algo.

- Ashley! - Gritei seu nome. - Pode vir aqui na cozinha?

Em instantes ela havia aparecido, como sempre, na companhia de Trevor que dessa vez teria uma utilidade. Mostrei para os dois o bilhete e expliquei sobre o fato de não saber cozinhar e depois de um tempo Ashley foi capitando a mensagem.

- Então você quer que eu cozinhe para sua família, engraçadinho. - Disse cruzando os braços. - Lamento, sou uma garota imprestável na cozinha. - Falou olhando para as unhas. - Mas, conheço alguém. - Ela voltou até a sala comigo e Trevor em seu encalço.

Ela pegou sua bolsa e retirou o celular discando um número rapidamente. Depois de um tempo onde acreditei que a ligação não daria em nada pela demora. Logo o ser atendeu.

- Rebeca? - Ashley perguntou. - Preciso de uma ajudinha sua. Suas aulas de gastronomia, culinária, sei lá servirão para algo. - Ela conversou um pouco mais com Rebeca, o assunto havia mudado de foco então parei de prestar atenção até ouvi a menção de um nome. - Se você pode trazer o Kevin para ajudar? Mas o que ele poderia entender de cozinha? Você mesma disse que em uma conversa entre você, ele e o Tyler, o Kevin falou que só fazia essa aula por causa das garotas. - Elas ficaram enrolando um pouco mais até que Ashley se vira para mim. - Você decide.

- Chame-o - Disse de imediato.

Tudo estava combinado, Rebeca e Kevin chegariam em alguns minutos para prepararem o jantar. Que vergonha que estava sentindo.

Alguns minutos mais tarde, estavam eles ali com as mãos na massa, literalmente. Para quem disse que só estava atrás das garotas, Kevin parecia um especialista no que fazia. Nós três fomos expulsos da cozinha por estarmo provando a todo momento da massa. Trevor e Ashley seguiram para o quarto do meu irmão e eu fiquei na sala assistindo um jogo de basquete.

Senti um cheiro delicioso vindo da cozinha e por isso não consegui me conter. Fui em passos largos até a cozinha e vi alguns pratos suculentos de espaguete, em um recipiente de vidro um tanto aberto acredito que fosse lasanha, torta, não sei. Havia outras coisas, mas não sabia nomear. Enfim, parecia tudo absolutamente gostoso. Ajeitamos tudo em uma mesa próxima a sala. Claro que Trevor e Ashley deram uma pausa na cozinha para nos ajudar. Enquanto organizávamos os pratos na mesa, Thomas e Sarah acabaram chegando. Os dois pareciam exaustos. Com certeza tentaram sair o mais rápido possível do trabalho para fazer o jantar.

Vendo a mesa perfeitamente organizada, Sarah não tinha palavras para agradecer. Até insistiu para que ficassem e jantassem conosco, mas recusaram por ser um jantar em família. Ashley também iria embora, mas não foi graças aos protestos de Trevor que lhe dizia que ela era da família.

Não demoramos muito para nos arrumarmos, não tanto pelo menos. Thomas queria que usássemos ternos. Ele dizia que a ocasião pedia isso. Nós nos recusamos, porém, ainda vestimos camisas sociais, Trevor num tom verde e a minha azul.

Estávamos em nossos quartos quando escutamos o anfitrião da casa, nosso pai, nos chamando. Acredito que eles haviam chegado. Trevor desceu na frente e cumprimentou todos os convidados, demorou no último, mas logo seguiu para seu lugar na mesa. Fiz o mesmo e quando fui cumprimentar o garoto que estava acompanhando eles não acreditei. Seu rosto ainda marcado pela injustiça que sofrera no colégio estava tão pálido quanto o meu.

- Você? - Dissemos ao mesmo tempo e só então nos demos conta dos olhares voltados a nós.

- Vocês se conhecem? - Trevor perguntou, mas prestando atenção minuciosamente no garoto logo a ficha caiu para ele. Sem sair som algum de sua boca, me indagou. - Então é ele? - Balancei a cabeça positivamente sem que os outros percebessem o diálogo mudo que estava tendo com Trevor.

- Você já o conhece, Noah? - Perguntou o senhor que acredito ser pai do garoto.

Ele me olhou espantado. Eles esperavam uma resposta e tínhamos que dá-la a eles. Dei um passo a frente e vi o garoto suspirar. Encarei os pais dele e em seguida os meus que também estavam sem entender nada e com um longo suspiro comecei a falar.

Em Pedaços (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora