A sala de música

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- Mais uma vez. - Após ouvi o som do apito volto a bater os braços o mais rápido possível.

Depois da conversa nada animadora com Sam, fiquei deprimido por alguns dias e até mesmo faltei algumas salas, entretanto, resolvi deixar esse sentimento de lado e assim como me pedira deixar o Kevin também. De qualquer forma não nos falávamos muito mesmo. Os primeiros dias foram desastrosos. Suas investidas de reaproximação foram totalmente falhas, mas isso não o abalou. Nos encontrávamos no corredor, refeitório, em algumas aulas, a situação estava ficando insuportável. Kevin fez de tudo para falar comigo, porém, não dei brechas para isso. Com o tempo a distância venceu e acabamos por nos distanciar de vez, assim como queria. Raramente nos esbarramos nos corredores e quando isso ocorre fingimos não ver um ao outro.

Dias, semanas se passaram. Sua falta foi dura, mas passou. Meu foco está centrado na competição agora. Tudo se resume a ela e assim não preciso me preocupar com outras coisas. Ashley e Rebeca ainda me contam como ele está, parece que ele superara isso tão bem quanto eu.

Faltando três meses para a competição, estou eu aqui, recebendo as ordens do instrutor. Meu corpo está tremendo, mas não paro. Quero superar meus limites. A maioria dos garotos já se dirigiram para o vestiário, mas eu não. Ainda posso resistir ao cansaço. Encosto minha mão na outra extremidade da piscina e logo estou voltando para a posição inicial. Sinto quando meus dedos tocam na cerâmica e meu instrutor pede para que eu saia da piscina.

- Você está indo bem. - Me parabeniza. - Mas, o esforço exagerado que está fazendo pode acabar lhe prejudicando, Tyler. Tome cuidado. - Me alerta. - Está bom por hoje, esteja aqui apenas na próxima sexta.

- Mas temos treino amanhã? - Digo surpreso.

- Sim, mas acredito que precisa descançar, rapaz. - Diz. - Não se preocupe tanto, faltam três meses.

- Mais treinador... - Ele me detém e com isso sigo para o vestiário.

Os garotos ou pelo menos a maioria já se trocaram e foram embora, alguns estão tomando banho. Isso me incomodou tempos atrás, mas agora não faz diferença. Tiro minha roupa e em seguida pefo a toalha do meu armário e vou até os chuveiros. Escolho um aleatório. Sinto os primeiros toques da água em meu corpo e logo relaxo. Escuto alguns chuveiros serem desligados e quando percebo sou o único ainda ali. Assim que me enxugo com a toalha, vou até o banco de madeira que fica entre duas fileiras de armários e começo a me vestir. Meu corpo depois de dois meses está um pouco melhor, passei a frequentar mais a pequena academia que tenho em casa e meus finais de semana se resumem a sair com o pessoal ou a correr no parque.

Quando estou completamente vestido, saio do vestiário e sigo os demais no corredor até o refeitório. Lá estão, sentados um pouco afastados dos demais, os meus amigos e claro, Trevor e sua turma. Ele tem passado mais tempo conosco depois que começou a namorar a Ashley. Estou impressionado, normalmente ele não fica tanto tempo com alguém, deve gostar muito dela.

Entro na fila para comprar alguns salgados e algo para beber. Minutos depois estou seguindo para o único lugar vago ainda na mesa. Sento entre Melissa e Nick. A garota não parava de me encarar, vejo quando morde o lábio inferior. Com isso, volto minha atenção rapidamente para os outros. Rebeca e Max estavam se beijando, assim como meu irmão e Ashley. Fico com inveja de não ter alguém para fazer o mesmo, meu olhar vaga pela mesa e me deparo com Troy me observando, ele reparou o que eu estava fazendo e piscou para mim. Sinto minhas bochechas arderem e deito a cabeça sobre os meus braços.

- Algum problema, Tyler? - Melissa aperta meu ombro.

- Não. - Respondo. - Estou um pouco cansado, só isso.

- Então tá. Se precisar de algo é só me avisar, gatinho. - Disse com um sorriso. - Qualquer coisa mesmo. - Piscou o olho para mim.

- Acho que ele já entendeu. - Troy parecia um pouco aborrecido.

- Quem te mordeu? - Perguntou. - Só estava preocupada com ele, apenas isso. Por acaso você tem algum problema com isso?

- Não. - Disse. - Nenhum. Acho que vou indo, o intervalo já vai acabar mesmo.

Ele se levantou da mesa e foi seguido por vários olhares surpresos. Ele ficou chateado por causa da maneira que Melissa falou comigo. Talvez deixá-lo sozinho seja o melhor. Não quero que tenha um ataque. O intervalo havia passado, estava voltando para a minha sala, quando ouço um som um pouco baixo, mas o suficiente para chamar minha atenção. Sigo pelo corredor, porém o som não aumenta ou diminui. Chega a um certo ponto que não consigo distinguir a direção de onde está vindo até perceber que o som vem de cima. Seja quem estiver cantando, está no piso superior, no qual, nunca andei.

Vejo algumas salas. Estou próximo de encontrar a origem do som. Passo pelo salão de dança que por sinal era muito bonito. Ocupando completamente uma das paredes, estava um espelho que se estendia do chão ao teto, haviam algumas barras bem posicionadas, acredito que para fazer balé. O lugar não tinha muitos móveis, com certeza para que o espaço para fazer os passos de dança fossem maior. Não me detenho mais ali e continuo andando. Estou de frente a porta, seja quem estiver cantando também sabe tocar piano.

Está nítido agora. A música é Chandelier da Sia, porém, em uma versão mais lenta. Gostei. Abro a porta para escutar melhor e parabenizar o jovem. Ele para abruptamente quando entro e vira o rosto para mim.

- Você canta muito, cara. - Digo, mas quando consigo vê-lo melhor fico paralisado.

O garoto estava com o rosto encharcado de lágrimas. Não sei se era pela música, entretanto, fiquei um pouco surpreso com o seu estado. Fui me aproximando mais e mais e vi algumas escoriações em seu rosto. Ele não estava chorando pela música e sim pelo que havia acontecido com ele.

- Você precisa ir para a enfermaria. - Digo espantado.

- Eu estou bem. - Diz apressado. - Você deveria ir embora daqui.

- Cara, ainda quero falar o quanto você é talentoso, mas antes disso vou te levar na enfermaria, não adianta resistir. - O apoiei em mim e fui o guiando para fora da sala.

- Sério, eu estou bem. - Falou. - São só alguns arranhões, já me acostumei com isso.

- Com isso? - Falo indignado. - Já aconteceu mais vezes? Quem fez isso com você? - Ele não respondeu, apenas fitou o chão e seguiu calado.

Estava com um olhar de reprovação. Acabei de conhecer o garoto, mas não é por isso que vou deixá-lo no estado que estava. Me sinto obrigado a fazer algo quando vejo esse tipo de coisa. Vou tentar descobrir quem fez isso a ele. Farei com que os responsáveis sejam expulsos.

Em Pedaços (Romance Gay)Where stories live. Discover now