Prólogo

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Aquela manhã já tinha durado mais do que Eriberto podia suportar.

O tempo frio criava pequenas ondas de vapor a cada vez que ele respirava. Só que não era com o frio que ele estava lutando naquele exato instante. Para falar a verdade, o frio era o que menos importava.

A luta de Eriberto não o afetava fisicamente.

A carga emocional que guiava todos os seus pensamentos e insistia em torturá-lo sem intervalos era a verdadeira vilã.

Ele sabia que o fim da manhã, do dia ou de qualquer outro período não ia fazer a tristeza deixar de existir de forma repentina. Mas cada segundo a mais significava que o tempo estava passando. E só ele seria capaz de aliviar a dor que trazia no coração desde que saiu das instalações da ASMEC.

Seus olhos encaravam de forma ininterrupta as duas covas à sua frente, fazendo-o viajar pelas últimas memórias em que esteve feliz com aquelas pessoas. Memórias estas que se mantiveram vivas, mesmo quando seu corpo já demonstrava sinais de cansaço enquanto ele cavava sozinho as duas aberturas no solo.

As maçãs do seu rosto já não estavam mais inchadas devido ao espancamento que aconteceu na pequena cidade aos arredores de Palmas. Pouco mais de dois meses já haviam se passado desde então. Ao contrário da época em que se apresentou como enfermeiro do exército, sustentava uma barba robusta que deixava o seu queixo e bochechas cobertos por completo.

Ele vestia uma calça jeans e tinha nos pés duas botas de couro escuro. Não vestia nada que externava o luto no qual estava vivendo. Até porque não precisava demonstrá-lo para ninguém.

Uma forte corrente de ar fez com que ele voltasse à realidade.

Eriberto tirou um papel amassado do bolso e olhou para as palavras escritas em azul. Mas antes de chegar na primeira vírgula, amassou o papel e o soltou.

— Idiotas. Por que vocês foram morrer tão cedo? — disse olhando para o chão. Lágrimas começaram a brotar em seus olhos. — Eu espero que um dia vocês me perdoem.

O último adeus não saiu exatamente como ele havia planejado.

Cuidadosamente, ele colocou os corpos que jaziam ao seu lado em seus devidos lugares e os cobriu de terra, deixando dois montes elevados sobre eles. Antes de deixar os dois descansarem em paz, pegou duas plaquinhas de madeira em que cravara seus nomes e colocou uma sobre cada monte.

Não sabia se voltaria ali no futuro. Mas sabia que poderia revisitar suas memórias felizes com os dois em outros momentos.

E com certeza o fará quando a saudade apertar.

LIVRO III - A Ordem do CaosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora