O Segredo Mais Profundo da ASMEC

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Cris e Leafarneo se entreolharam de imediato após o anúncio de Camargo. Não seria um grande problema acabar com a vida de Délia. Pelo contrário. A morte dela não traria seus amigos de volta, mas abafaria o intenso sentimento de vingança que eles nutriam desde os acontecimentos da cidade de Palmas.

Charles, por outro lado, não compartilhava do mesmo ódio. Os olhares de Cris e Leafarneo acionaram seu estado de alerta. Ele não poderia deixar Délia morrer. Não ainda.

Apesar de não ter consciência exata dos fatos, Charles tinha uma aliada: Joana. Ela não estava pronta para sacrificar Délia em prol de sua própria vida. Era difícil lidar com a ideia de que sua mãe era parte da ASMEC. Se isso fosse verdade, ela precisaria desvendar toda a trama de mentiras que sua mãe ocultou ao longo dos anos. E dentre todos os presentes, mais ninguém poderia ajudá-la, senão Délia.

Cris balbuciou algo para Leafarneo que os demais não puderam entender. Ao dar o primeiro passo em direção à doutora, Charles interveio:

— Não, Cris.

— Saia da minha frente, Charles — Cris disse com a voz firme. Estaria mesmo pensando em arrancar a cabeça de Délia com as mãos vazias para atingir o objetivo do jogo proposto por Camargo? — Por que você está protegendo ela?

Charles tornou a olhar para Délia, cuja expressão não era de espanto.

— Ela não vai fazer nada contra mim, Charles. Deixe-a — Délia insistiu.

— Delia, você não sabe disso — Charles insistiu em sua defesa.

—Deixe-a! — Délia esbravejou.

Charles se colocou de lado e deixou o caminho livre para Cris, que deixou um sorriso escapar pelo canto da boca ao ver a passagem livre.

O corredor não totalmente iluminado e o resquício de gás que ainda não havia atingido o sistema de ventilação tornaram o caminhar de Cris um tanto psicótico. Sua silhueta aliada ao passo firme de cadência acelerada lhe dava um aspecto monstruoso. Ela parecia pensar e repensar em múltiplas formas de fazer Délia sofrer antes de cumprir o objetivo do jogo mortal.

Joana arqueou os ombros deixando a musculatura do pescoço tensa. Já que Charles não defenderia Délia, ela deveria intervir de alguma forma? Mas Cris já a odiava achando que ela tinha enganado a todos em Brasília. Defender Délia não a tornaria uma completa traidora? Talvez ser uma traidora não fosse de todo mal, se isso significasse sustentar a esperança de entender a verdadeira história de sua mãe.

Délia não piscou uma vez sequer, encarando os olhos sedentos por vingança de Cris, aproximando-se cada vez mais.

— Sua amiga não é estúpida, sabia? — disse Délia para Charles. — Ela veio até aqui por você. Jamais aceitaria esse jogo idiota em que somente a vida dela pudesse ser salva. Ela não fará nada comigo.

— O que esse cara realmente está fazendo? Por que ele quer a sua cabeça? — Cris perguntou para a surpresa de todos.

Joana, por fim, deixou os ombros livres novamente, respirando fundo.

— Eu sabia que você não iria mover um dedo contra mim — Délia disse em afronta.

— Você sabe que se eu quisesse, eu ganharia esse jogo em um piscar de olhos. Entretanto você está muito nojenta para eu sequer pensar em colocar as minhas mãos em você — disse referindo-se ao machucado no ombro de Délia, cujo aspecto purulento lhe causava asco. — Você está morta pra mim. Com essa mordida nas costas, não precisarei esperar muito para ver você agonizando. E de uma coisa tenha certeza: terei o maior prazer do mundo em assistir você se transformar nas criações da sua maldita irmã.

LIVRO III - A Ordem do CaosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora