A Ascensão de Nasha (parte 1)

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Thomas encarou Délia com olhos de morte. Ela ainda o mantinha no colo após a transformação mesmo sabendo o que seus olhos significavam, afinal, ele tinha os mesmos olhos de Adão. Ainda assim, ela não conseguia afastar-se de seu pupilo.

Encará-lo daquela forma a fez recordar todos os bilhetes com ele trocados secretamente para que o soro retardante fosse produzido sem suspeitas. Podia tê-lo tratado melhor durante esse tempo. Podia ter dito a ele o quanto ele era especial. Mas agora, nada disso faria mais sentido algum.

Thomas já não tinha mais percepção da realidade que o envolvia. Deveria reconhecer a moça que o mantinha de forma tão carinhosa sobre suas pernas? Não. Essa dúvida sequer passou pela sua cabeça.

Ele não olhava para Délia com o intuito de reconhecê-la, de encontrar em sua memória algum resquício de que algum dia ela fora alguém importante em sua vida. Seu olhar mais se parecia com o olhar de um leão, vislumbrando sua presa tão próxima de si, pronta para ser abatida em um único ataque.

A movimentação limitada de seu pescoço o impediu de alcançar Délia no ponto desejado. Queria poder mastigar seu rosto após um único ataque, mas o reflexo da doutora a livrou de uma investida certeira no rosto, mas não a livrou do seu destino. Thomas cravou seus dentes cobertos pela substância viscosa no ombro de sua tutora.

Délia gritou a plenos pulmões no corredor do Setor 2 quando sentiu as presas rompendo seu tecido muscular, parando somente quando encontraram a extremidade de seu úmero. Ela fechou a outra mão na altura de seu peito, tentando manter pelo menos uma pequena distância entre o seu corpo e o de Thomas.

Enquanto ele encontrava meios de retirar os dentes da carne de Délia para continuar sua refeição, a doutora o empurrou com força. Um dos dentes de seu pupilo ainda ficou preso em seu ombro, mas antes um do que todos os demais.

Os gritos da doutora entraram em sintonia com expressões de pavor iniciadas por Clara do outro lado do corredor, que gritava aos sons do ataque enquanto mantinha os olhos fechados para não assistir à grotesca cena.

César aproveitou o instante em que percebeu uma pequena distância entre a doutora e o garoto para se jogar com força sobre ele. Esperava que sua massa muscular avantajada fosse suficiente para contê-lo. Junto com seu dragão, César abraçou a morte de frente, caindo por cima dele para mantê-lo deitado no chão e em seguida imobilizando-o com a força de suas pernas.

— Eu não faço a menor ideia do que é você, mas sei que isso não está certo — esbravejou enquanto ensaiava o perfeito soco que nocautearia Thomas de uma vez por todas.

Thomas viu o soco porém como a comida sendo servida diretamente na sua boca. Apresentando um reflexo jamais encontrado em um morto-vivo por Cris e Leafarneo nas ruas da cidade de Palmas e Brasília, Thomas abocanhou o punho de César com força suficiente para quebrar os ossos de sua mão e esmagar seus dedos.

As pernas de César perderam força ao compasso da dor lancinante que irradiou pelo topo de sua mão. Délia não hesitou e aproveitou o momento oportuno para engatinhar até atravessar as portas abertas da sala onde o projeto piloto da Nova Ordem seria iniciado.

Leafarneo olhou para Cris no exato instante em que Délia adentrou a sala. Sem precisar trocar qualquer palavra com sua parceira, ambos a seguiram, empurrando Charles na cadeira de rodas. Joana não ficou atrás e se juntou a eles, mesmo tendo um leve sentimento de que não era bem-vinda ao grupo.

Cadu não achou que a fuga de seus quase amigos foi a mais inteligente de todas, afinal, era só uma questão de tempo até Thomas terminar oficialmente o primeiro prato do dia para estripar todos os presentes naquele cômodo fechado.

LIVRO III - A Ordem do CaosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora