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A temporada havia terminado em Londres e eu, finalmente, estava prometida a Henry Harrington. Mas diferente das outras moças da minha idade, eu não estava feliz, afinal, eu não o amava, sequer o desejava, apenas possuía por ele grande apreço, como a um irmão, maIs nada e jamais seria diferente. Entretanto, não havia escolha, Henry era o genro perfeito desejado por meus pais e através deste casamento, eu me tornaria uma senhora respeitada, mãe de filhos perfeitos, dona de propriedades incalculáveis, teria carruagens lindaS, joias, vestidos caros, amigos de posses e títulos, empregados à minha disposição, luxo, glória e inveja. Mas, eu enxergava como uma vida de tédio e infelicidade. Não seria ingrata, mas não podia ser agradecida pela tristeza de não encontrar meu próprio caminho.

- Elise! – a voz de minha mãe soou pelos corredores.

Eu estava sentada no telhado, desenhando a paisagem maravilhosa a minha frente. Eu não cansaria de reproduzir os campos de Stort Park, com seus jardins coloridos, o lago com cisnes e seus belos ornamentos. Entretanto, o que eu mais apreciava, sem dúvida, eram os montes mais além, os campos que se estendiam a perder de vista, e me faziam sonhar com uma vida que eu jamais teria: livre e longe das rígidas regras sociais. Ali era o meu refúgio, eu podia fechar os olhos, respirar o ar puro, e esquecer-me do ambiente opressivo no qual vivia.

Outro grito de minha mãe ressoou pelos corredores, eu fechei o bloco e voltei para dentro de casa, se ela me descobrisse ali, desenhando, seria o inferno! Meus sapatos estavam jogados no chão e corri para calçá-los e sair dali rápido, desci as escadas dos fundos e atravessei o corredor que me levaria à cozinha. Assim que entrei, Margaret, a governanta da casa me jogou um pano úmido para limpar as mãos sujas de carvão que usava para desenhar. Ela era minha cúmplice na arte de enganar minha mãe.

- Você está aí – minha mãe falou entrando rapidamente.

Coloquei as mãos para trás.

- Eu estava no quintal passeando – menti – Não a ouvi, desculpe-me...

Ela me estudou por um instante, à procura da mentira. Mas sustentei o olhar e ela desistiu.

- Os Handerson estarão passando algumas semanas no solar, em Monbray. Vamos recebê-los num jantar, esta noite...

- Tudo bem – forcei um sorriso.

- A filha mais nova deles virá também. Eu a ofereci para ser dama de companhia dela enquanto estiverem aqui – avisou.

- O que? – eu fiz que não – Eu não quero ser dama de companhia de ninguém!

- Eu já ofereci, não há como voltar atrás – disse irredutível – E eles aceitaram, está tudo arranjado.

Aquelas moças de Londres chatas e fúteis, eu morreria de tédio em semanas!

- Podia ao menos ter me consultado antes – falei irritada.

- Você não iria... – ela virou-se para sair, mas voltou-se por um instante – Esteja impecável, Henry virá com eles – comentou para meu total desespero – Infelizmente, ele não poderá ficar mais que dois dias, os negócios do pai necessitam a atenção dele.

Eu senti um imenso alívio.

- Isso é horrível! – eu menti novamente.

- Eu sei, minha querida – minha mãe disse compreensiva e aproximou-se com verdadeiro pesar. Fiquei tensa, se ela pegasse em minhas mãos, veria o carvão e seria um dia todo de sermão, sobre o quanto eram vulgares meus desenhos – Mas logo estará em sua casa, em Londres, terá uma vida feliz ao lado de Henry.

- É o que espero – menti novamente, como sempre e o tempo todo.

Os Harrington eram donos do maior estaleiro de Londres. Trabalhavam com importações e estavam desbravando o comércio com o Novo Mundo. Meu pai era banqueiro. Era a união perfeita de fortunas que se multiplicariam e eu seria a rainha de tudo aquilo. Todos estavam felizes com aquela união. Menos eu.




Sublime - Conto Erótico e LésbicoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora