3

7.2K 166 13
                                    

Anne era a quinta filha dos Handerson. Durante o parto, a condessa teve complicações e a parteira não poderia salvar as duas e o conde deveria escolher qual delas ele queria viva. Desesperado e tomado por sua fé, ele ajoelhou-se no meio do quarto e pediu a Deus que salvasse as duas e que se este prodígio fosse concedido, sua filha se tornaria uma serva de Cristo e seria enviada ao convento. Anne nasceu e a promessa seria cumprida.

Ela me pareceu tímida, retraída, talvez por sua educação rígida e severa. Ela mal me olhou quando fomos apresentadas, parecia querer sair da minha presença, mas eu estava fascinada demais por sua beleza para deixar me intimidar. Mesmo nervosa, com o coração aos saltos, aproximei dela logo após o jantar, quando ela ficou sozinha perto da varanda, olhando para o nada, perdida em seus pensamentos. Havia algo nela que me intrigava, e que me instigava a me aproximar. Eu não sabia o que era, mas estava curiosa.

- A senhorita tem uma bela paisagem aqui – ela comentou antes mesmo que eu pronunciasse qualquer coisa.

De perto, ela era ainda mais bela. Demorei alguns segundos para responder, até o som da voz dela mexia comigo.

- Sim – eu parei ao seu lado e olhei na mesma direção que ela. A lua brilhava alta no céu e a noite estava linda, de céu estrelado. Na verdade, acho que eu nunca tinha visto Stort Park tão bonita, enquanto sentia emoções tão intensas que mesclavam a minha alma. Eu poderia reproduzir o que meus olhos apaixonados viam naquele momento, que seria diferente de tudo o que havia desenhado antes. – O solar de Monbray também deve ser lindo.

Anne me olhou. Senti algo diferente em seu olhar desta vez, como uma cumplicidade, como se ela soubesse exatamente como eu estava me sentindo naquele momento.

- Sim, é lindo também.

Eu sentia que ia morrer com aquele olhar doce sobre mim.

- Eu costumo desenhar a mesma paisagem todos os dias – contei a ela.

Era como se eu pudesse entregar minha vida em suas mãos. Eu diria o que ela quisesse, atenderia seu menor pedido. Como isso era possível se eu mal a conhecia? Havia sido apresentada a tantas pessoas antes, mas nenhuma me despertara tamanha ânsia de viver, como agora.

- A mesma paisagem? – ela perguntou surpresa – Não se cansa?

Eu fiz que não:

- A paixão faz com que vejamos a mesma coisa todos os dias de formas diferentes – observei – Talvez seja a forma como o enlevo encontra para sobreviver dentro de nós.

Ela prendeu a respiração por um instante e depois desviou o olhar para a paisagem:

- Gostaria de ver seus desenhos – ela murmurou, quase não ouvi.

- Claro – eu fiz que sim empolgada – Vou ser sua dama de companhia, será um prazer mostrar-lhe todos.

Nunca pensei que a proposta de minha mãe me causaria tanta felicidade. Como dama de companhia da Srta. Handerson, eu ficaria ao seu lado praticamente o tempo todo, seria divino, um presente do universo para mim.

- Talvez seja tedioso para a senhorita ser minha dama de companhia – ela observou – Não costumo sair de casa.

- Imagine – eu falei empolgada – Também não costumo sair muito, tenho uma vida bastante reclusa.

- Mas a senhorita poder ir aonde desejar, não é? – me perguntou e eu assenti. – Eu não posso.

- Mas veio aqui, hoje – falei de forma positiva. A tristeza dela me entorpecia de dor.

Ela olhou bem dentro dos meus olhos. Eu senti meu estomago revirar:

- Eu vim apenas para conhecê-la Srta. Lewis...

Eu poderia cometer uma loucura naquele momento. Dei um passo para frente, completamente entregue aos meus sentimentos. Ela sentia o mesmo, era óbvio que sim.

- Eu a encontrei – a voz de Henry soou atrás de mim e eu recobrei o juízo. O que eu estava fazendo?

- Sim, Henry? – eu me voltei para ele.

- Eu a estava procurando – ela observou e voltou-se para Anne – Srta. Handerson. – ele fez mesura elegante.

- Sr. Harrington – ela fez mesura.

- Espero que sua estadia em Monbray seja agradável – ele comentou.

- Acredito que sim, são meus últimos dias livre antes de minha reclusão ao convento - ela observou.

Aquela noticia deixou meu coração apertado. Eu não queria que ela fosse para um convento. Não desejava que ela se apartasse de mim. Deveria estar ficando louca.

- A senhorita nos dá licença? Preciso de Elise para tratar de um assunto junto ao pai dela – explicou-se.

- Claro – ela voltou-se para mim – Eu a aguardo amanhã em minha casa, Srta. Lewis.

- Perfeitamente – foi a única coisa que consegui dizer, antes de Henry me levar para perto de meu pai.

Não me recordo o assunto que tratamos, minha mente estava voltada para a voz que me dizia: Eu vim apenas para conhecê-la Srta. Lewis...

Sublime - Conto Erótico e LésbicoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora