10

4.8K 169 93
                                    


Então veio o aviso de que Anne partiria no fim de semana para o convento.

Nós choramos desesperadas.

- Por que anteciparam? – eu perguntei andando de um lado para o outro sem saber o que fazer.

- Querem que eu esteja lá no inicio do inverno...

- Você não pode ir – eu falei segurando suas mãos.

- Não tenho escolha, Elise. Nós sabíamos que um dia eu iria, nossa separação é inevitável.

- Você não pode aceitar o fim!

- E o que quer que eu faça? – ela se alterou desesperada.

- Podemos fugir – eu propus – Vamos para bem longe daqui e seremos felizes. Poderíamos fingir que somos irmãs! Ninguém desconfiaria!

De repente a esperança reacendeu em mim, mas Anne fez que não:

- Nenhum lugar nos aceitaria – ela disse entre lágrimas – Somos aberrações para eles! Além disso, seria um escândalo! Imagine o que seria de nossas famílias... Não podemos fazer isso com eles... Vamos viver do que?

Ela tinha razão, mas eu não queria aceitar.

- Por favor, Anne, eu não poderei viver sem você! Daremos um jeito...

- Claro que poderá viver. Você é forte, Elise, terá Henry como marido e ele lhe será bom.

- Não posso... – eu fiz que não – Não depois de conhecê-la... Não sou tão forte assim...

- Claro que é – ela me encorajou – Mas temos que nos agarrar a isso, Elise...

- Não posso viver sem você! – fiz que não.

- Eu sei – ela me abraçou desesperada – Mas preciso me agarrar a isso para não enlouquecer... Preciso acreditar que podemos seguir em frente... É a única coisa que temos de real agora...

Ela me puxou para um beijo e eu a abracei com força, abri seu vestido e toquei seu corpo com raiva e paixão. Ela correspondeu com o mesmo ardor, me mordendo. Ela me empurrou contra a cama, e antes que eu pudesse pensar, Anne meteu a mão debaixo de minha saia e enfiou os dedos em minha vagina com violência, me tomando enquanto chorava, desesperada pelo fim. Eu gozei e ela me abraçou num doloroso soluço. Entre lágrimas, voltei a beijá-la apaixonada.

- Não se vá – eu implorei – Não me deixe...

- Eu te amo, Elise – ela disse entre os beijos antes de entregar-se a mim, uma última vez.

Dormimos abraçadas naquela noite e quando acordei, Anne havia partido. Chorei agarrada ao seu xale que ficou em minha cama. Ela não se despediu e duvido que nós teríamos forças para isso, eu não a teria deixado ir. Voltei para casa sentindo-me um nada. Por dias fiquei trancada em meu quarto, sentindo-me doente, eu precisava de Anne desesperadamente, minha vida não tinha sentido sem ela.

- Triste uma moça não poder seguir com sua vida – minha mãe comentou certa vez.

Mal ela sabia, que eu me sentia do mesmo modo.

Pensei em escrever, mas isso apenas aumentaria nossa saudade e dor e eu não sabia se entregariam a carta a ela. Fiquei com medo que lessem e a punissem por nosso amor. Devido minha solidão e por não esconder minha tristeza, mandaram-me para Londres e na primavera eu e Henry nos casamos. Como eu imaginava, ele era um perfeito marido, não havia em que repreendê-lo ou reclamar de qualquer coisa. Eu segui com minha falsa vida. Eu sorria quando deveria sorrir, era boa quando deveria ser e fui como a vida quis que fosse.

Vez ou outra eu me pegava desenhando o rosto de Anne, eu não queria esquecê-la. Eu me perguntava se ela pensava em mim, da mesma forma que eu me recordava de nossos momentos juntas. Foi esse tempo de felicidade que me incitou a continuar com a vida e a esperança de um dia reencontrá-la, mesmo que fosse para vê-la de longe.

Anos depois, quando meus filhos já corriam pela casa, fomos passar o natal em Stort Park, foi uma festa grande, dada por meu pai. Eu estava ansiosa para rever os condes e ter noticias de Anne. Eles chegaram acompanhados das filhas e seus maridos, mas Anne não estava com eles para minha decepção. Ela era uma freira, jamais participaria de festas como aquela.

- A filha deles morreu no último inverno – uma senhora comentou.

Eu senti meu coração apertar e olhei para Henry assustada. Ele sempre soube de meu carinho por Anne e de nossa forte amizade.

- Qual filha? – ele perguntou a mulher.

- A caçula!

Meu grito ecoou pela casa. Parte de mim se foi com Anne e se não fosse o fato de estar grávida pela terceira vez, eu teria sucumbido à morte. Meses se passaram até que um dia a Condessa de Huntigdon veio me visitar. Não esperava por ela. Estava com a gravidez avançada e já com dificuldade de me sentar. A condessa que sempre fora tão jovial, parecia ter envelhecido anos.

- O bebê é para quando? – ela perguntou.

-Para logo – respondi. Vê-la, me fazia sofrer mais.

- Está muito bonita, Elise! – ela forçou um sorriso.

- Obrigada...

- Eu deveria ter vindo antes – ela começou a falar – Mas, eu não consegui – ela me entregou um pacote – Este é o diário de Anne, acho que ela gostaria que fosse seu.

Eu tremia ao pegar o pacote. Parte de Anne estava ali.

A condessa se levantou para partir e então eu perguntei:

- Do que ela morreu?

- De amor. – disse emocionada - Foi seu nome que ela chamou antes de dar o último suspiro.

Ela se foi sem olhar para trás. Ao contar-me tal fato, não havia amargura em suas palavras. Estava comovida. Uma mãe sempre sabe a verdadeira dor de um filho. Naquela noite, eu entrei em trabalho de parto e minha primeira filha nasceu. Foi um parto difícil e acabei por adormecer. Quando acordei, Henry estava sentado ao meu lado e em suas mãos o diário de Anne.

Senti um aperto no peito, eu não queria magoá-lo. Era óbvio que ele havia lido página por página. Ele estava sério e impassível. Levantou-se e caminhou até a lareira e para meu desespero jogou o diário no fogo. Então se voltou para mim:

- Vamos deixar os mortos onde estão – ele sentou-se ao meu lado.

Havia compaixão em sua voz.

- Eu sinto muito. Nunca quis magoá-lo.

- Teria me magoaria mais, se tivesse me abandonado – ele confessou.

Eu o abracei e chorei em seus braços. Anne tinha razão, Henry era um bom marido. Ouvimos o choro do bebê e ele me encarou:

- Acredito que nossa pequena Anne deve estar com fome – ele levantou-se – Vou buscá-la.

Vi Anne parada do outro lado do quarto. Ela sorria para mim. Um dia, nós nos encontraríamos, por que pertencíamos uma a outra para sempre, na vida ou na morte.

- Eu a amo – murmurei com lágrimas nos olhos.

Ela sorriu com seus olhos intensamente verdes e então, como a leve brisa de verão, ela passou por mim e se foi.

DJv�A�&�

Sublime - Conto Erótico e LésbicoWhere stories live. Discover now