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Acordei na manhã seguinte radiante e feliz. Embora a fina chuva do outono caísse sobre nós, eu sentia como se fosse o dia mais quente de verão.

- Elise, eu almejo que fique à vontade em nossa casa – a condessa me disse durante o desjejum – Pela manhã, Anne faz suas orações e pelo que sei, ela está vigorosamente melhor do que ontem, soube que ela lhe pediu desculpas pela atitude infantil. Espero que a perdoe.

- Claro, senhora.

- Ela é uma moça boa, apenas não tem maturidade para lidar com certas coisas, não a deixamos viver realmente, ela nunca teve muito contato com pessoas, por isso, suas alterações de humor repentinas – explicou-se – Custa-lhe compreender o valor de uma verdadeira amizade.

- Eu compreendo.

- Estarei fora o dia todo, vou à casa dos Masterson, devo-lhes visita, afinal não é sempre que estamos ao sul de Hertfordshire. Voltarei apenas amanhã, acredito que não ficará ofendida com minha ausência...

- De modo algum...

- É uma moça muito boa, Elise – ela me olhou com carinho – Não terá dificuldade em ser submissa ao seu marido.

E quem queria saber de casamento? Submissão? Eu apenas ansiava reencontrar Anne.

Passei a manhã toda andando de um lado para o outro, ansiosa, em busca de qualquer coisa que ocupasse meu tempo, até que ela saísse de seu quarto. Horas se converteram em séculos e eu estava me despedaçando para não subir até o quarto dela e entrar sem ser convidada e tomá-la entre meus braços. Eu não queria assustá-la com a intensidade de meus sentimentos. No fulgor da minha juventude, eu estava vivendo o melhor de minha vida ao encontrar a verdadeira paixão e ser correspondida.

- Boa tarde, Elise – a voz dela soou as minhas costas. Meu nome em seus lábios era o encontro com o céu.

Voltei-me com um sorriso largo. Mesmo com olheiras enormes, ela continuava bela.

- Boa tarde, Anne.

Sorrimos cúmplices, nossos olhos cheios de ternura e fomos almoçar. Logo após, nos retiramos para a cesta na biblioteca.

- Conseguiu descansar? – ela perguntou depois que a empregada se retirou.

- Um pouco e você? – perguntei me sentando no sofá. Anne estava de pé próxima à janela.

- Não muito – admitiu.

- Por quê? – eu quis saber.

Ela me olhou:

- Por nós, Elise.

Eu sabia o que ela queria dizer: a culpa. Levantei-me:

- Também me sinto culpada, Anne – eu fui me aproximando dela devagar, com medo que ela desaparecesse se eu dissesse qualquer palavra errada.

- É errado – ela disse angustiada.

- É verdadeiro – retruquei.

Ela fez que não e abaixou o olhar para as mãos.

- Estamos transgredindo as leis divinas – ela argumentou.

- O que sentimentos é puro, ingênuo. Nunca me senti assim antes – parei ao seu lado e aspirei seu perfume, pensei que fosse morrer.

- Também não... – admitiu.

Eu hesitei, mas acabei por segurar sua mão. Sua pele estava fria, mas seus olhos brilharam com intensidade ante o toque. Havia prazer nisso, mas também havia amor.

- Todo sentimento genuíno é dado por Deus – eu insisti.

- Não é o que dizem as...

Eu a interrompi:

- Então, explique-me como podemos senti-lo, se ele não foi designado pelo único Criador? O único que pode criar todas as coisas? – eu murmurei segurando sua mão com mais força, então toquei seus dedos com meus lábios.

Ela mordeu os lábios e uma lágrima escorreu por seu rosto:

- Eu a amo, Elise – ela confessou.

Minha alma se desfez em felicidade. Aquelas palavras era musica para os meus ouvidos.

- Eu também a amo, Anne, de todo o meu coração.

Ela segurou minhas mãos e as beijou.

Nossas vidas foram seladas naquele momento.

Sublime - Conto Erótico e LésbicoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora