Confronto

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  -Jongin On-

Eu estava arrumado há uma hora. Agora, por que estar arrumado há tanto tempo? Simples. Queria me certificar de que estaria bonito o suficiente para ver o meu pequeno. Estava me olhando no espelho pela décima vez. O meu terno preto sobre medida, a blusa branca por baixo e a gravata borboleta estavam impecáveis. Não havia um amassado sequer. Ouvi a campainha tocar e na mesma hora saí correndo escada a baixo.
Eu estava com saudades do meu Soo, ansioso para vê-lo vestido em um terno, queria pelo menos conseguir roubar um selinho dele e um abraço. Terminei de descer as escadas e o encontrei no meio da minha família. Ele estava de costas para mim, curvava-se de forma respeitosa e lhes dava boa-noite. Como se tivesse sentido minha presença na sala, virou-se em minha direção e meu coração paralisou antes de voltar a bater freneticamente.
Do Kyung Soo estava extremamente perfeito. Seu pequeno corpo adolescente estava vestido com um terno sob mendida preto, uma blusa social branca por baixo e uma fina grava preta para o toque final. Seus cabelos estavam mais despojados, mesmo que continuassem negros. E seu rosto portava o óculos redondinho que tanto o deixava com ar de intelectual e fofo ao mesmo tempo.
-O gato comeu a língua de vocês? - minha irmã perguntou e eu despertei. Ele também.
-Bo-bo-boa noite, Jongin. - ele curvou-se brevemente e eu ri de seu jeito desengonçado.
-Boa noite, Soo. - falei e fui caminhando até ele. Eu estava prestes a tomá-lo em um abraço...
-Nada de abraços. Vamos logo. - meu pai ordenou e eu recueei. - Não fiquem reprimidos, meninos. Eu apenas falei isso, porque se não irão amarrotar todo o terno. - meu pai explicou e eu soltei a respiração que antes nem tinha percebido prender.
Ele saiu da casa e nós dois permanecemos parados na sala. Eu queria abraçá-lo, mas meu pai tinha razão. Olhei para meu Soo e seus olhos compreenderam meus motivos para não abraçá-lo. Peguei em sua mão e caminhamos juntos para fora da mansão que eu morava.
-Você está tão lindo, Soo. - acabei elogiando.
-Você também. Nunca vi um adolescente ficar tão bem de terno. - ele falou e meu sorriso tornou-se enorme.
-Você diz isso por modéstia. Já se olhou no espelho? Nem acredito que sou sortudo ao ponto de arrumar um namorado tão perfeito.
-Não sou perfeito, Nini. - ele murmurou e eu o puxei para mais perto.
-Eu simplesmente amo quando me chama assim. - confessei e ele me olhou. Em seguida vi o coração que se formava em seus lábios. - Estou realmente com saudades. - segredei e entrei no carro.
Minha irmã e meu cunhado foram no carro deles, enquanto eu e Soo iríamos no mesmo que meus pais. Minha mãe foi no banco de trás ao meu lado. Eu fiquei no meio entre ela e meu namorado. Meu pai foi sentado no banco do carona.
-Como está se sentindo, Kyungsoo? - minha mãe perguntou enquanto o carro era colocado na estrada.
-Melhor, senhora. Obrigado por ter deixado o Jongin ao meu lado. - ele agradeceu e na mesma hora meu coração acelerou.
-Jongin foi um bom menino? Ficou 3 dias foras e ainda com você, ele não incomodou? - meu pai perguntou.
-YA! Eu sei me comportar! - protestei e os 3 riram.
-Na verdade eu devo muito ao Jongin. Eu sou muito negligente quando se trata de mim e teria esquecido de tomar os remédios, comer na hora certa e dormir sem preocupação de ir ao Colégio se não fosse por ele. - Soo falou e eu senti meu coração acelerar, além do meu rosto corar. Ele entrelaçou nossas mãos e em um gesto repentino, levou minha mão até seus lábios e depositou um beijo. - Sou muito grato por terem criado um filho maravilhoso.
-Ahhh meu Deus! Vocês são tão lindos! - minha mãe vibrou ao meu lado e meu pai sorriu, pois ele tinha se virado para nos olhar.
-Jongin é um homem de sorte hein? - meu pai comentou.
-Extrema sorte! Vocês sabiam que o Soo canta muito bem?! Ele canta lindamente! - contei.
-Nini! - ele sussurrou para que apenas eu ouvisse.
-Você canta? Por favor, cante uma música que você gosta. - meu pai pediu e eu sabia que ele não recusaria. Meu pai tinha uma postura que mesmo ele sendo gentil, transmitia superioridade.
-Desculpe se minha voz falhar. - ele pediu e começou a cantar.
Eu fiquei extasiado como em todas as vezes que o ouvia cantar. Ele era o melhor cantor do mundo e eu queria muito poder dormir ao som de sua voz todas as noites. Ao ouvi-lo cantar para meus pais, senti que meu sentimento por ele crescia cada vez mais.
-Meu Deus! Que voz linda! - minha mãe apressou-se a elogiar assim que ele parou o canto.
-Tão limpa e doce... Você passa muitos sentimentos enquanto canta. Já pensou em investir nisso? - meu pai perguntou e ficamos surpresos.
-Na verdade eu nunca cogitei. Sinceramente não tenho certeza do que quero pro meu futuro, minha vida ainda não está totalmente tranquila pra que eu consiga pensar. - ele confessou. Tinha sido tão sincero, que eu decidi conversar com ele depois sobre isso. Queria conhecê-lo mais.
-Mãe, pai, o Soo é uma caixinha de surpresas! Ele cozinha bem, canta bem, desenha bem e... - comecei a ditar todas as suas qualidades.
-Jongin! - ele pediu para parar e eu ri.
-Você é tão fofo e educado. Esqueci de dizer o quão bem ficou de óculos. - minha mãe o elogiou.
-Estou ficando sem graça. - ele anunciou e todos nós rimos. O carro parou.
-Por hora você vai fugir dos elogios, rapazinho. - meu pai avisou e saiu do carro.
Ele deu a volta para abrir a porta para a minha mãe e eu queria fazer o mesmo, mas Soo foi mais rápido e abriu para mim. Ele me esperava com a porta aberta e um sorriso enorme no rosto. Definitivamente ele era a pessoa mais linda do mundo! Saí do carro e o olhei. Ele ainda me fitava e continuava sorrindo. Olhei para os lados e fiz uma travessura. Mesmo com a porta do carro nos separando e o fato de estarmos em público, eu selei seus lábios rapidamente.
-Jongin! - ele me repreendeu, mas parecia mais por força do hábito, porque ainda permanecia sorrindo.
-Desculpe, mas eu estava com muita saudade. - falei com um dar de ombros e rimos.
-Cena muito fofa. - ouvi a voz da minha avó. Fechei a porta do carro rapidamente.
-Vovô, vovó...
-Boa noite ,Jongin e garoto olhudo. - meu avô nos cumprimentou.
-Boa noite, senhor e senhora Kim. - Soo se curvou e eu fiz igualmente.
-Senhor e senhora? Jongin enfiou você na família, nos chame de vovô e vovó. - meu avô falou e na mesma hora meu pequeno ficou ereto, olhou em meus olhos e os seus estavam marejados.
-O que foi, pequeno? - perguntei preocupado.
-Eu nunca tive avós. - ele respondeu e algo inesperado aconteceu. Meu avô o puxou para um abraço.
-Somos seus avós agora, garoto olhudo. Se me chamar de senhor Kim de novo, vai ficar de castigo. - meu avô avisou e o soltou. - Garoto olhudo, você sabe a razão por eu ter pedido pra você vir a festa?
-Pra fazer companhia ao Jongin?
-Também. Acontece que estamos querendo deixar claro que apoiamos a opção sexual do meu neto e pra isso ficar mais fácil, queríamos que ele tivesse a companhia do namorado. Eu ainda lembro sobre o que você falou, sobre o apoio da família ser o mais importante. Você se incomoda? Se não quiser, pode apenas ficar como um amigo do Jongin na festa. - meu avô explicou e vi que meu namorado sorriu.
-Eu apoio totalmente a decisão de vocês. Na verdade eu estou realmente contente por ver que o Jongin está tendo o apoio de pessoas tão importante pra ele. - disse sincero.
-Então vamos entrar. Essa festa vai ser chata abeça! Por que vocês não vão comer e beber alguma coisa? Depois eu mando alguém chamá-los pra se juntar aos velhos. - meu avô sugeriu.
-Ah obrigado, vovô! - falei animado e peguei na mão do meu pequeno.
Entramos no salão de festa com as mãos entrelaçadas. Sentimos olhares em cima de nós, mas ele ignorou e eu também. Perguntei se ele queria algo para beber e após concordar, fomos buscar um suco.
-Soo, eu quero te beijar. Estou frustrado desde ontem! - declarei e ele riu.
-Ontem foi um dia complicado. Desculpe ter saído hoje sem falar com você, mas é que eu tinha que comprar a roupa pra festa. - ele explicou e eu sorri. Dessa vez levei sua mão até minha boca e a beijei.
-Ontem nossos amigos pareciam estar focados em não nos deixar sozinhos. - comentei rindo. - Eu queria ter ido comprar a roupa com você. - declarei fazendo bico.
-Eu queria ter comprado pra mim, mas ninguém deixou. - ele confessou rindo e pegamos nosso suco.
-Você é muito bom com todos nós, precisa aprender a receber também. Então quer dizer que se não fosse por mim, não estaria melhor né? - provoquei.
-Para de ser bobo, Nini! - ele riu e de repente parou. Na mesma hora um homem esbarrou em mim.
Foi rápido, mas pareceu ter demorado bastante para tudo acontecer. Havia espaço o suficiente para o homem passar, porém, ele tinha feito questão de esbarrar em mim e ainda fitar com ódio minha mão entrelaçada ao do Soo. Eu revidei o olhar e puxei meu pequeno para longe.
-Vamos pro jardim, povo daqui parece ter esquecido a educação. - resmunguei o arrastando e ele nada falou.
Chegamos ao jardim e percebi que ele parecia um pouco tenso. Eu tinha feito algo de errado?
-Soo, eu fiz algo de errado? Te machuquei ao te arrastar? - perguntei preocupado e ele pareceu despertar do transe.
-Jongin... Acontece que...
-Kim Jongin? - um homem me chamou.
-Eu.
-Seu avô pediu pra que você fosse encontrá-lo ali rapidinho. - o homem falou e apontou.
-Obrigado. - agradeci. - Soo, já volto. - avisei e fui com o homem. Não era muito longe do jardim e daria para eu ficar de olho no meu pequeno.
-Jongin, meu filho, o convite da festa. Se você ficar do lado de fora e depois tentar entrar sem eles, vão te barrar. - meu avô estendeu dois convites para mim, cujo qual eu os guardei no bolso de dentro do meu terno.
-Eu nem tinha pensado nisso. Obrigado por me lembrar. - agradeci.
-Filho, o garoto olhudo conhece alguém aqui? - meu avô perguntou.
-Não que eu saiba. - falei sinceramente.
-Jongin, o que está acontecendo ali?! - meu avô gritou e apontou para trás.
Virei-me apressadamente e me deparei com o Soo parecendo retraído enquanto um homem quase da sua altura, um pouco mais alto, falava e gesticulava. Na mesma hora identifiquei aquele homem como o que tinha esbarrado em mim mais cedo. Saí correndo na hora.
-Você é uma desgraça pra nossa família! - o homem gritou e eu corri, colocando-me na frente do Soo.
-Quem você pensa que é pra falar assim com ele?! - retruquei.
-Sou o homem que deu tudo do bom e do melhor pra ele durante 17 anos! E o que eu recebi em troca?! Um filho viado que gosta de dar pra qualquer um! Pensei que tivesse morrido! Teria sido um favor! Andando com essas roupas caras e dando um de riquinho por ai, enquanto é bancado...
-Eu não sou bancado por ninguém! Quem me sustenta sou eu e mais ninguém! - Soo gritou por trás de mim.
-Se sustenta como? Dando o ra...
-PARE DE FALAR ASSIM COM ELE! - gritei o interrompendo. Aquele homem era o "pai" do meu namorado. - RETIRE-SE DAQUI!
-VOCÊ PENSA QUE É QUEM PRA FALAR ASSIM COMIGO?! - o homem retrucou.
-O namorado do seu filho que seria seu genro se você não o tivesse renegado! - retruquei controlando meu tom.
-Você ainda tem orgulho de dizer isso?! Como dois homens podem gostar de se beijar?! De se...
-Cala a boca! - Soo gritou e saiu de trás de mim. - Você não tem mais absolutamente nenhum vínculo comigo e por isso não admito que venha jogar desaforos pra mim e nem pro Jongin! Se não está feliz que estou bem mesmo fora do seu teto, pensa que morri! Eu teria morrido em suas mãos se não fosse pelo Kris mesmo. - ele estava com um ar duro e segurou minha mão. - Bem feito que aquela mulher te largou! Agora quero ver você ainda defender essa porra de amor hetero!
-Porra?! Aposto que anda ficando com bastante na boca.
-Fico sim e ainda gosto. É mais gostoso do que provar a boca de qualquer vadia. Se aquela mulher te largou, não foi porque eu sou gay e sim porque não aturou mais ficar com alguém que se satisfazia com qualquer uma na rua.
-Você está mais ousado que o normal. Farei questão de descobrir onde você vive pra comprar o lugar e te por no olho da rua.
-Faça isso se for homem o suficiente. - falei entre dentes e me aproximei dele, segurando seu braço com força. - Se eu souber que você encostou um dedinho sequer na vida do meu namorado, juro que se arrependerá amargamente. Sei que é rico, mas a minha família também e somos capazes de influenciar a mídia a nosso favor. Acabarei com sua vida em um piscar de olhos se você se atrever a mexer com o Soo. Fui bem claro?!
-Você é só um menino. - ele retrucou e eu apertei seu braço com mais força.
-Um menino que pode te mostrar exatamente como você deixou o seu filho ao espancá-lo. Conhece as leis da vida, certo? Dinheiro compra tudo. Posso te matar, ser preso e solto daqui a 2 anos por bom comportamento e fiança. - eu o ameaçava com a voz bem calma. - Soltarei seu braço e pretendo nunca mais ver seu rosto. Somente se você vier ajoelhado pedindo perdão ao seu filho. - avisei e o empurrei.
Ele olhou para nós dois mais uma vez e foi embora. Esperei que minha expressão conseguisse se acalmar, para poder olhar o meu pequeno. Assim que o vi, ele estava parado e sem expressão nenhuma.
-Soo, vamos embora. - falei segurando sua mão e ele a apertou.
-Vamos ficar na festa, Nini.
-Mas seu pai...
-Essa foi a melhor coisa que me aconteceu.
-Como assim? - perguntei confuso.
-Agora eu me libertei do passado. Eu estava com medo no início, mas foi como você disse, ele não tem mais nada a ver comigo. Obrigado, Jongin, por me fazer perceber que eu posso enfrentá-lo. - ele agradeceu e sorriu.
-Você fez isso sozinho, pequeno. - sussurrei o puxando para mim. - Estou muito orgulhoso de você.
-Eu também. - ele confessou rindo. - Nunca pensei que conseguiria.
-Pois conseguiu. - lhe assegurei e depositei um selar breve em seus lábios.
-Nini? - ele chamou com a voz rouca.
-Hum?
-Me beija. - ele pediu.
-Não precisa repetir. - avisei.
Ao contrário de um beijo selvagem, apenas o puxei pela nuca para mais perto de mim e o beijei carinhosamente. Ele estava com as mãos em meus ombros e eu o puxei mais para perto de mim, com o auxílio da minha mão que repousava em sua cintura. Eu o segurei firmemente em meus braços e tentei transmitir todo o amor que eu sinto por ele. O ósculo se aprofundou e mesmo assim continuava carinhoso, sem nenhuma selvageria. Nos beijamos mais um pouco e nos afastamos com pequenos selinhos. O puxei para meus braços.
-Meu Soo?
-Hum?
-A cada minuto que passa, eu gosto mais de você. - declarei ao apertar o nosso abraço.
-Pensei que eu fosse o único que estivesse evoluindo no sentimento. - ele confessou e eu beijei o topo de sua cabeça.
-Acho que em breve vou poder dizer "Te amo"
-Acredito que falaremos isso num futuro bem próximo. - ele concordou e eu o abracei mais. Não existia dúvidas de que eu estava quase o amando. 

Exo ColegialOnde histórias criam vida. Descubra agora