Capítulo 12 - Maratona 1K, 1 de 5.

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Terminei meu pedido no café e me levantei da mesa, deixando um pouco de dinheiro para pagar a conta e fui andando em direção à porta, mas meu nome foi chamado.

— Senhorita Shaira Tutu, você está contratada. – Senhor Parker me olhou e me estendeu a mão.
— Sério? Muito obrigada, senhor Parker. O senhor não vai se arrepender de me ter como sua funcionária. – Correspondi ao gesto. – Quando eu devo começar?
— Quando quiser. Bem, hoje na parte da tarde seria ideal. Vamos até o escritório para acertamos os detalhes.

***

— Menina, sente-se por favor. – Ele apontou para a poltrona e eu me sentei. – Você deu entrada na sua documentação aqui na Inglaterra?
— Meu visto vale para os próximos 5 anos. Eu pretendo apenas terminar a faculdade aqui e voltar para a África.
— Muito bem... – Ele pegou uma caneta e fazia anotações em um bloco. – O pagamento aqui é efetuado no fim de cada semana, todo sábado. Você ganha 10% de gorjeta todos os dias que se somam ao salário final. Pagamos aproximadamente £70. É um salário que você consegue se manter bem, fora a gorjeta. No fim de cada mês você terá tirado aproximadamente... 400 libras. Podemos aumentar isso com o tempo e a satisfação dos clientes em relação ao seu atendimento.
— Certo. Acredito que vou precisar de um treinamento apenas para pegar o ritmo. – Respirei fundo. – Senhor Parker, eu não poderei vir amanhã na parte da tarde. Tenho uma entrevista em Oxford amanhã, o senhor se importa se...
— Claro que não, mas gostaria que você viesse na parte da manhã, quando somos bem movimentados.
— Eu virei. Obrigada, senhor. Nos vemos mais tarde. – Cumprimentei-o e sai de sua sala.
Eu consegui meu emprego com apenas 3 dias morando na Europa.

Joseph me parou na saída do café. Ele tinha duas bolsas arroxeadas em baixo dos olhos azuis, sua postura dizia claramente que ele precisava descansar.

— Conseguiu?
— Vejo você mais tarde, colega. – Acenei e sai.

***

Entrei na casa da minha avó e deixei a bolsa em cima do sofá. Ela estava preparando um almoço na cozinha, provavelmente, e eu a vi sentada, lendo algo e chorando.

— Meu querido Peter Zummach... Hoje são 48 anos que você me deixou, Peter. Eu e a nossa Megan. Irei fazer uma visita ao seu túmulo hoje. Talvez eu chame nossa neta Shaira, você teria gostado dela. – Ela fungou e sorriu. – Querido, preciso ir. Vou vê-lo mais tarde, ainda o amo muito.
Ela guardou as cartas no envelope e os deixou em um armário de frente ao fogão. Ela mexeu algumas panelas e então me viu parada na porta.

— A minha empregada está de férias. – Ela disse secando o nariz avermelhado com as costas da mão. – Tem muito tempo que está aqui, parada? – A voz de minha avó estava trêmula, demonstrando seu nervosismo em me ver.
— Vó, como era o vovô? – Perguntei e me sentei ao lado do fogão.
— Ele era um bom homem, Shaira. Por que disso agora?
— Não sei. Talvez eu tivesse gostado de conhecê-lo, não acha?
— Pode ser. Coloque os pratos, por favor. – Ela disse em uma tentativa de mudar o assunto.

***

Após o almoço, liguei meu notebook e me conectei ao Skype. Alguns minutos depois, havia uma chamada nova para mim. Era Zunduri. Pensei um pouco mas resolvi atender.

— Shaira, que bom que me atendeu. Como você está?
— Zunduri, estou excelente. Você parece... Abatida?
— É, eu fiquei doente essa semana. Mas já estou bem, eu e o bebê. – A última palavra ela pronunciou com desprezo. – Já sabemos o sexo. É um menino. O médico disse que ele está grande e saudável, vai nascer provavelmente entre o fim de outubro e começo de novembro.
— Legal. – sorri. – Você e Derek... Estão felizes com isso?
— É, ele está gostando da ideia de ser pai. Você sabe que ter um filho não era meu sonho, mas não posso fazer nada sobre isso. Shai, eu estava falando com a mamãe e com o papai, eu podia ter meu parto aí, na Inglaterra. Você já achou lugar pra morar?
— Zunduri, acho que você devia ter seu bebê aí. Não é mais barato? – Eu temia ter que vê-la mais cedo do que eu gostaria.
Não é por isso, digo por qualidade de prestação de serviço dos médicos. E então, você conheceu Joseph? – Ela desviou o foco do assunto.
— Sim. Olha, Zunduri, eu não quero que você se meta na minha vida aqui, certo? Eu estou bem e sua ajuda me incomoda, para ser sincera. Sei que você está tentando se redimir, mas para que aconteça isso, eu só preciso de tempo. Obrigada, mas não faça de novo.
— Sim, desculpe. Mas parabéns, pelo emprego. – Ela desviou o olhar por alguns segundos. – Preciso desligar, até mais.

Minha avó entrou no quarto e se se sentou na cama.

— Minha filha, você acha que compensa guardar rancor da sua irmã? – Ela segurou minhas mãos e fitou meus olhos.
— Vó, eu não vou odiar Zunduri para sempre. Eu só preciso de um tempo para organizar todos esses eventos e situações na minha cabeça. Foi só que as coisas aconteceram muito rápido, um dia estava tudo bem, no outro eu me vi desmoronar. Eu fiquei confusa, e ainda estou um pouco, mas tudo vai se ajeitar para mim e isso vai passar. – Puxei um dos cachos do meu cabelo.
— Sua mãe me ligou. Por que você não quer falar com os seus pais?
— Não estou pronta para isso ainda. Eu preciso de ter meu próprio tempo. – Suspirei.
— Shaira, seu próprio tempo pode já ter acabado. Você deve lembrar que a vida é movimento, seus pais não vão estar aqui para sempre. Eles podem morrer hoje, amanhã, depois. Acho que deveria perdoar sua família. – Ela se levantou e parou na porta. – Pense no que eu te falei, querida.

Desliguei o computador e organizei minhas coisas. Tomei um banho rápido e me vesti, começaria agora meu trabalho de garçonete. Espero que eu me dê bem nesse ramo.

***

Joseph estava sentado na parte externa do café e conversava com uma menina loira, parecida com ele aliás.

Além da Cor - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora