Capítulo 20

1.8K 231 4
                                    

Shaira Tutu

Ele me beijou. Joseph me beijou.
Eu poderia ter negado ou afastado ele antes que isso acontecesse, mas não consegui. Ele estava se sentindo mal pela mãe, pela mentira da mãe e talvez tivesse sido isso, talvez ele só queria escapar de uma realidade conturbada.
Entrei em casa e minha avó estava me esperando no sofá.

— Você deveria me avisar quando vai chegar mais tarde. – Louise disse.
— Desculpe, me esqueci disso. Eu estava na casa de Joseph, meu fiel escudeiro. – Zombei de sua própria colocação. – A mãe dele está com câncer, em metástase... – Vovó me interrompeu.
— Eu não preciso saber disso, aliás, não quero. Vou me deitar. Até amanhã.
— Você não precisa ser tão grossa comigo, vó. Eu não te fiz nada.
— Não fui, Shaira. Você que me interprete como quiser. Vejo você amanhã. – Ela disse sem me olhar e foi em direção ao quarto.

***

Ouvi o sininho da porta indicando que alguém havia chegado ao Café. Eu estava de costas para a porta e assim que me virei, me deparei com Joseph. Ele estava pálido, os olhos cansados e grandes olheiras roxas abaixo deles. A postura estava arrastada e o corpo dele parecia estar carregando um peso de 10 toneladas.

— Bom dia, Shaira. Está tudo bem por aqui? – Ele foi para o seu armário guardar o casaco e pegar seu avental.
— Está, sim. Sua mãe chegou?
— Chegou ontem, no meio da noite. Na verdade, pouco depois que você foi embora... – Ele pareceu sorrir, mas foi por pouco tempo.
— Como ela está?
— Ela está com os olhos vermelhos de tanto chorar. Ela disse que passou o dia com Katherine, mas não contou que vai morrer.

Joseph falava de forma muito direta, o que fazia parecer que nem era nada demais.

Eu tentei trabalhar normalmente durante o restante do dia, mas, de uma forma ou de outra, meus pensamentos paravam ora em Joseph, ora em Zunduri e o bebê, ora em Derek. Pela primeira vez na minha vida eu não senti um frio na barriga ao pensar nele. Sorri com essa reflexão e notei Joseph me observando.

— 10 libras pelos seus pensamentos. – Ele sorriu.
— Senhor Clark, não sou tão barata assim. Por umas vinte e cinco ou trinta libras, talvez eu dissesse, querido. – Brinquei.
— Hum... Que pensamentos valiosos. – Ele jogou as palavras no ar com um meio sorriso malicioso.
— Não mais, eu diria. – Sorri de volta.
— Está na nossa hora, colega. Vamos? – Ele arqueou as sobrancelhas.
— Hum, eu vou trancar tudo. Pode ir, obrigada pela carona. – Tentei não parecer insensível.
— Por que não quer vir comigo hoje?
— Nada, só quero caminhar. – Ele me olhava como se tentasse me decifrar, e de repente, tivesse ouvido um clic na sua mente.
— Shaira, foi só um beijo. Eu não vou te sequestrar e manter em cativeiro, te fazendo minha escrava sexual. – Minha expressão não deve ter sido das melhores, já que ele começou a rir da minha cara. – Não fique tão afetada. – Ele segurou meus ombros com as suas mãos. – Eu não sou um psicopata, nunca ia fazer esse tipo de coisa, relaxa.

Por alguns minutos eu não pude dizer nada. Eu fiquei afetada, de verdade. Recusei mais uma vez a carona de Joseph e, antes que ele protestasse, caminhei em direção à porta.

***

Tive os horários de aula normalmente até o pequeno intervalo; quando sai da sala, ele me puxou.

— Você quer me matar do coração? – Eu falei meio ofegante.
— Talvez. Você ficou assustada hoje mais cedo. Me desculpe, eu estava descontraindo. – Ele me olhava atentamente.
— Tudo bem, foi só um choque. – Dei um riso anasalado. – Onde estão seus amigos Mani e Adam?
— Eles estão revisando algumas coisas com o professor do último horário, vamos comer, né?
— Vamos. – Ele colocou a mão no centro das minhas costas como se estivesse me guiando pelos corredores.

***

Fui direto para o banheiro e liguei o chuveiro para tomar um banho quente e demorado. Estamos a quase dois meses do Natal e as temperaturas estão sempre reduzindo mais, fazendo qualquer ser vivo que saísse na rua colocasse toneladas de agasalhos.
O meu celular estava vibrando de cinco em cinco segundos. Acabei me estressando e peguei o celular ainda cheia de sabão.

Mensagens de meus pais avisando que eles estavam chegando na sexta, depois de amanhã; minha mãe disse que traria um presente para o meu aniversário, na próxima semana. Apenas agradeci a ela e não quis prolongar a conversa antes de voltar ao banho.


Preparei qualquer coisa para comer e logo após fui me deitar.

Além da Cor - CompletoWhere stories live. Discover now