Capítulo 14 - Maratona 1K, 3 de 5.

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O casaco que eu estava carregando caiu, eu me vi petrificado na porta e ouvia tudo como se estivesse em outra dimensão.

— Eu estou falando com você, Joseph Eliot Clark. – Arrastei meu corpo até o sofá e meus pés pareciam estar puxando dois blocos de concreto de 50 quilos cada.
— Mãe... Eu sei. – Prendi o ar.
— Filho, eu estou doente e não morta. Ainda posso decidir sobre a guarda da minha filha mais nova, eu ainda estou em sã consciência sobre qualquer coisa. – Peguei suas mãos e soltei a respiração.
— Eu não queria ter que entregar Kate para o meu pai, mas eu não tenho dinheiro suficiente para o seu tratamento, minha faculdade e a escola dela. A bolsa já dá um grande desconto, mas ainda preciso pagar um pouco. – Passei as mãos pelo cabelo.
— Eliot, você pode parar de pagar a quimioterapia para mim. – Seu semblante estava sério.
— Você não está falando nada com nada. Tem febre? – Perguntei incrédulo e medi a temperatura de sua testa com a mão. – Eu não vou matar você, mãe. Se eu não puder fazer o que está ao meu alcance, vou me sentir como se estivesse te tirando o direito de vida. Não quero deixar minha irmã pré-adolescente sem mãe. Eu não quero pensar que poderia ter feito mais. Eu não quero te perder. – Uma lágrima corria pelo seu rosto pálido com ossos proeminentes.
— E eu não quero perder Katherine, Joseph. – Ela fitou o chão e se calou por um tempo, mas logo a vi buscando o ar em tentativas falhas e eu me enchi de desespero.
— Mãe, o que está acontecendo? Mãe, mãe? – Eu a peguei no colo e coloquei-a com cuidado sobre o banco de trás do carro. Era a segunda crise em dois dias.

***

— Bom, é pneumonia, como eu imaginava. Nós vamos colocar sua mãe em um quarto e já vamos ministrar os medicamentos. – Doutor Lane observava com atenção as radiografias expostas contra a luz branca. – Joseph, pensamos que seria pior. Vocês tem sorte de ser apenas uma simples pneumonia. Eu vou até o quarto.
— Obrigado, doutor.  O senhor vai drenar o líquido dos pulmões dela? – Perguntei sem olhar para ele.
— Faremos o necessário. – Ele finalizou e abriu a porta do consultório.

Olhei para minha mãe deitada naquela maca de lençóis azuis, parecia tão envelhecida. Eu podia me lembrar de como era bonita quatro anos atrás, antes de todos os nossos problemas começarem. Seu riso era despreocupado e o olhar era livre de emoções ruins. Hoje, ela não sorri mais e vejo nos seus olhos apenas um vácuo castanho, onde não há mais um brilho diferente.

— Eliot, Kate está na casa de uma amiga da escola. Não precisa avisar a ela, está bem? Ela vai dormir lá. – Ela piscava devagar. A máscara de oxigênio em seu rosto embaçava com sua respiração fraca.
— Tudo bem. Mãe... Eu ia conversar melhor com a senhora, ia esperar que você melhorasse das crises e contaria que ela vai morar com o papai. – Ela abriu a boca para argumentar. – Não vamos falar sobre isso aqui no hospital, enquanto você estiver doente. Vou passar a noite aqui, ao seu lado. – Beijei sua testa e ela apertou minha mão bem forte.

Me sentei ao lado de sua cama, em uma cadeira dura de plástico bem desconfortável. Suspirei e passei as mãos pelo cabelo. Resolvi ir à lanchonete do hospital, joguei o casaco nas costas e fui.

— Um café forte e sem açúcar, por favor. – Solicitei no balcão e alguns segundos depois, um copo de papel foi colocado em minha frente.
Paguei a garota que atendia e voltei para o quarto. Minha mãe dormia serena, parecia até sorrir. Me sentei novamente e peguei o celular. Mensagens de Zunduri.

"[6/30 3:05 PM] Zun (Zâmbia): Conversei com Shaira, disse sobre o bebê e falei que Derek está feliz. Ela parece estar mais conformada com tudo, mas ainda triste. Contei a ela que terei o parto na Inglaterra, possivelmente em Londres, onde nós duas nascemos. Ela ficou incomodada com isso mas não falou nada. Ela vai me perdoar.

[6/30 5:18 PM] Zun (Zâmbia): Está tudo bem? Você não responde minhas mensagens mais atuais. É alguma coisa com a sua mãe? Ou está chateado comigo por causa da minha irmã?

[6/30 6:27 PM] Zun (Zâmbia): Eliot?

[6/30 8:43 PM] Zun (Zâmbia): Se quiser falar alguma coisa, estarei aqui. Fique bem."

Liguei o Skype e chamei por ela.

— Não estou te ignorando, Zunduri. Não estou chateado com você e não tem nada a ver com Shaira. Minha mãe está doente. Mais doente, na verdade. – Sua boca se abriu em formato de 'o'.
— O que ela tem?
— Pneumonia, mas já estamos cuidando disso. Eu também estou trabalhando demais. Quase não tenho tempo. – Sorri de forma mais simpática.
— Eliot, o bebê é um menino. – Ela fitou o chão. – Ele vai nascer logo, logo. – Zunduri sorria e, mesmo que dissesse não querer um bebê, eu via que ela estava realmente feliz por essa nova vida que ela carregava. Tentei ficar feliz por ela.
— E como ele vai se chamar?
— Derek e eu não decidimos ainda, mas será algum nome em inglês. Eu pretendo me mudar com ele daqui a três anos. Derek não quer deixar eu ir, mas até lá, ele já terá entendido que nossa única ligação é esse bebê e eu poderei ficar onde quiser.
— Tem certeza que é só o bebê que une vocês? – Levantei minha sobrancelha.
— Joseph, Derek nunca vai esquecer Shaira. Nós erramos com ela, nem sei quem foi o pior, mas ele ainda a ama muito. Eu não terei espaço na vida dele nunca. Mesmo que quisesse. – Ela sorriu fraco. – Ter química é diferente de ter amor. E isso nós não temos.
— Você deveria repensar suas atitudes, Zunduri. Cuidado com quem você brinca, nem todo mundo é igual à sua irmã. – Minha mãe estava se mexendo desconfortável na maca. – Eu preciso desligar, até mais.
— Até, Eliot. Mande um beijo a ela.

Além da Cor - CompletoWhere stories live. Discover now