Além da Cor - Completo

Capítulo 19

Joseph Eliot Clark

Eu soube que minha mãe não estava se sentindo bem. Ela havia ligado para mim e avisado que estava no consultório de um hospital. Em Londres. Meu coração errava as batidas, o chão começou a desabar abaixo de mim, minhas mãos transpiravam um suor gelado, de extremo nervosismo. Eu tremia mais que qualquer coisa que se pudesse imaginar. Eu não pude raciocinar sobre a maneira que Cassandra Benson havia chegado em outra cidade e de maneira tão rápida. Aquela única frase nominal conseguiu se tornar capaz de fazer um giro completo de 360°: Câncer em estágio metastático.
Desabei na primeira cadeira que encontrei e a vi se aproximando de mim. Seu rosto expressava uma preocupação grande e algo mais que não sei o quê. Tive dificuldade para buscar oxigênio, meus olhos arderam e foi inevitável não deixar que algumas lágrimas escapassem. Ela me chamou ao longe, e eu juro que queria poder respondê-la, mas não consegui formar uma frase com total sentido.

— Joseph, eu estou aqui. Eu estou com você, pode falar comigo sobre qualquer coisa. – Seus olhos negros foram de encontro aos meus e a única coisa que meu corpo me permitiu fazer, foi puxar Shaira para um abraço.
— Ela... Minha mãe... – Balbuciei com muita dificuldade. Muita.
— Shhh. Se acalme, por favor. – Ela afagou minhas costas. A voz dela estava distante, ainda. – Vou pegar um chá e você vai tomar, respirar fundo e eu vou te ouvir, está bem? – Concordei com a cabeça.

***

Tomei a xícara nas mãos e tentei não entrar em pânico. Contei a ela, que parecia tão chocada quanto eu. Ela apertou minhas mãos com força, tentando me transmitir segurança.

— Eliot, você pode contar comigo sempre. Eu sou sua amiga e quero que você saiba que eu vou estar com você em qualquer circunstâncias da sua vida. Pode ter certeza. – Shaira sorriu e me abraçou.
— Obrigado, Shai, por tudo... Você... Simplesmente é ótima.
— Você não precisa ir para a faculdade hoje. Nós vamos para sua casa e eu vou te fazer companhia, se você quiser ir para Londres, eu também vou com você, só não quero que fique sozinho agora.
— Nós?
— Você e eu, eu e você. Nós. Tú y yo, yo y tú. Nosotros.
— Você não pode perder aula logo agora, não por minha causa.
— Eu posso, sim. – Sorriu. – E eu vou, querido. Aliás, já é a hora de irmos. – Ela pegou a chave do meu armário e me puxou pelo braço.
Sorri com o modo que ela agia às notícias ruins.

***

Enquanto tomava um banho quente, podia ouvir Shaira mexendo nas panelas, e ela fazia muito barulho. Muito barulho. Ouvi o som de vidro quebrando e um pequeno xingamento sair de seus lábios.
Terminei o mais rápido que pude, me vesti e entrei na cozinha americana da minha casinha. Ela havia colocado fogo em um pano de prato e tentava apagar o fogo na pia, quando ela me viu parado no batente da porta.

— Foi sem querer. Eu juro. – Ela ligou a torneira e o cheiro de alastrou ainda mais pela casa.
— O que você está tentando fazer? – Arqueei a sobrancelha.
— Bom, eu estava querendo cozinhar macarrão. Eu vi uma receita na televisão e... Bem, eu tentei. – Sorriu. – Vou pedir uma pizza. Você tem sorvete? – Ela tirou o telefone do gancho e estava discando o número do delivery.
— No congelador. Shaira, deixa eu ajeitar essa cozinha, por favor. Você está fazendo muita bagunça, quebrou até meu copo.
— Foi mal. Eu não me dou bem com esses serviços domésticos, de fato. Vou lavar as louças.

•

Ela cuidou de todas as panelas e jogou o macarrão e o pano queimados no lixo enquanto eu varria o chão sujo de restos de comida. Foi tempo suficiente para que chegasse a pizza e ela arrumasse a mesa.
Comemos e Shaira notou que eu estava com a cabeça em outro lugar.

— Eliot, você pode desabafar comigo. Eu sou sua amiga. – Ela tocou meu braço.
— Eu sei. – De repente me vi contando a ela todas as minhas inseguranças. Eu sabia que câncer não podia se curar assim, ainda mais depois de ter removido o tecido canceroso. Ela estava mentindo, eu imaginava. Ela foi ao médico no último mês, me disse que estava tudo bem. Eu deveria ter telefonado para oncologista, mas resolvi acreditar na minha mãe. Porque ela não ia mentir sobre isso para mim, ela não ia. Mas ela mentiu. E mentiu sobre a saúde dela, sobre a vida dela. Ela ia morrer e eu não poderia fazer nada a respeito. Grande merda. – Shaira, eu já tive que deixar minha irmã e abora minha mãe também vai, mas vai e nunca mais vai voltar. Ela vai morrer. – Minha voz saiu quase um sussurro.
— Calma. Eu estou com você, já te disse isso. – Ela me deu um abraço bem demorado.

A respiração dela estava pesada batendo na lateral meu rosto quando Shaira se afastou.

— Eu vou tirar a mesa e lavar o que a gente sujou. Acho que você deveria descansar. Eu vou embora quando acabar aqui, mas vou deixar as chaves na janela aqui da sala.
— Por que?
— Por que o quê? – Ela arregalou os olhos.
— Por que você tem que ir?
— Não posso deixar minha avó sozinha. Amanhã a gente se fala no Café. – Sorriu e se virou para cuidar dos pratos.

•

Ela secou as mãos no pano de prato e se virou para me encarar. Seu olhar estava preocupado e ela me analisava com cuidado. Muito cuidado, como se eu fosse frágil e pudesse quebrar com qualquer movimento da sua retina.

— Eu... Acho que já estou indo. – Ela pegou a bolsa e o casaco sobre o balcão. – Boa noite, Joseph. A gente se vê amanhã.

Eu fui até ela e puxei sua cintura. Suas íris pareciam duas grandes avelãs que me olhavam com certa curiosidade. Eu beijei Shaira.

— Boa noite, até amanhã. – Eu a guiei até o portão com a mão no centro de suas costas e me despedi com um sorriso.

Ela acenou e virou a esquina com um sorriso discreto nos lábios.

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Oioi pessoas! Como vocês já devem ter percebido, eu sou totalmente viciada em mudar a capa da história. É que eu sou a toa, e, quando estou sem internet, faço capas aleatórias para os meus livros e sempre acho que uma fica melhor que a outra.
Espero que tenham gostado dessa, eu acho essa é a que vai ficar até o fim da história, mas não prometo nada! 😂

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