Capítulo Dois

7K 645 145
                                    

– Aqui é bem grande.

Tirei minha atenção da vista da janela, virando-me para encontrar minha esposa entrando na sala.

Minha esposa.

Palavras estranhas. Ainda precisava de certo esforço para pronunciá-las em voz alta. Talvez se não tivesse sido tão inesperado, talvez se não fosse sob circunstâncias tão extenuantes, talvez se ela não me olhasse como a porra de um herói. Não fossem tantas variáveis, talvez pudesse usar aquelas duas palavras sem que elas fechassem minha garganta.

Savannah atravessou o cômodo até parar ao meu lado.

– Essa é sua sala?

Assenti, evitando seu olhar. Reconhecendo seu esforço para criar um diálogo, limpei a garganta para acrescentar:

– A de Duke fica do outro lado do corredor e a de Chase, à esquerda. Você chegou a ver o cômodo menor? Lá será uma copa – continuei. – A sala aqui ao lado será para reuniões.

– Parece um bom plano – balançou a cabeça.

Intrigado, observei enquanto ela passava a ponta do tênis repetidamente sobre um ponto qualquer no chão, enfiava as mãos nos bolsos de seu casaco azul e finalmente levantava a cabeça. Seus olhos castanhos dourados me prenderam como areia movediça e por pouco não perdi o que ela dizia em seu tom sempre baixo:

– Caleb, posso te perguntar uma coisa?

– Hmm... Claro – cocei a nuca.

– O que exatamente é a Thermopylae?

– Como assim? – franzi o cenho.

– Digo, – engoliu em seco, – entendo o básico. A ideia de uma empresa de segurança, mas... como exatamente vocês vão fazer as coisas funcionarem? Se não se importa em me contar, é claro – acrescentou rapidamente.

Em uma outra oportunidade – em uma outra vida que já não era mais a minha – teria considerado adorável seu jeito tímido ao falar comigo, mas não agora, não quando precisávamos construir ao menos um mínimo de confiança.

– Você pode me perguntar o que quiser, Savannah. Sempre – parei por um segundo, pensando por onde poderia começar. – Duke odeia o pai.

Observei-a arquear uma elegante sobrancelha e me senti um idiota pela brusquidão.

– Ele não fala sobre isso. Nunca. São assim que as coisas são – encolhi os olhos, desviando o olhar para parede acima de seu ombro. – Desde que Chase e eu o conhecemos. Depois de nós três pedirmos baixa, Duke foi trabalhar com o pai – sacudi a cabeça, não podendo evitar um sorriso amargo. – Foi um desastre. Não sei todos os detalhes, e os que sei, não são meus para contar. Nós bebemos a noite inteira para comemorar quando ele se demitiu – daquela memória eu gostava. – Tom, o dono do bar, precisou ligar para que Rave fosse nos buscar depois de Chase ter tido a brilhante ideia de flertar com uma moça acompanhada do namorado e dos quatro irmãos. Foi uma pena. Duke e eu estávamos prontos para assistir alguém socar aquele sorriso idiota da cara dele. Até pedimos alguns amendoins. Rave e Tom não apreciaram nosso senso de humor – podia sentir o sorriso no canto da minha boca.

– Sem condições de sequer explicar onde morávamos, Rave colocou nós dois para dormir nos sofás da casa deles. Na manhã seguinte, enquanto ela preparava nosso café da manhã, e depois de gritar por cima de nossas ressacas sobre sermos inconsequentes por tentar vagar pela noite sem controlar nossos próprios pés, ela resmungou sobre imaginar o caos que seria se nós trabalhássemos juntos agora. Sendo sincero, eu não ouvi muita coisa. Só queria que ela ficasse quieta até que minha cabeça parasse de latejar. Chase, por outro lado, ouviu muito bem. O filho da mãe escuta tudo – lancei-lhe um olhar significativo, esperando que ela entendesse o conselho velado que estava lhe dando. – E ele cozinhou aquela ideia por alguns dias, como uma de suas mil estratégias. Então, na próxima vez que fomos ao The Hook's, ele a jogou sobre nós dois. Não – sacudi a cabeça, passando a mão sobre o rosto. – Isso não é preciso. Ele nos vendeu a ideia, fez com que quiséssemos tentar. Às vezes realmente queria saber como ele consegue levar todo mundo na conversa. O babaca pode vender gelo para um esquimó, Saara.

Haunted EyesWhere stories live. Discover now