Capítulo Dez

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Caleb Hunter

Saara estava me enlouquecendo.

Savannah Andrea Hunter tinha adotado como meta de vida me enlouquecer.

Desde o dia, há duas semanas, em que eu tinha sugerido mantermos tudo estritamente platônico, cada segundo havia sido um pequeno inferno.

Não.

Isso não é muito preciso.

Desde o dia, há duas semanas, quando havia lhe beijado, cada segundo havia sido um pequeno inferno.

Acreditava ser um homem com certa experiência de vida. Já tinha visto muito do pior da humanidade e já tinha visto flores nascerem no brejo, então considerava relativamente difícil ser surpreendido de verdade.

O pedido de casamento de Duke me surpreendeu, o casamento relâmpago de Chase me surpreendeu, beijar minha esposa me surpreendeu. Talvez não seja justo colocar todos esses casos na mesma categoria, afinal, os dois primeiros não me fizeram perder o fôlego e me esquecer de onde estava. Tampouco fizeram meu cérebro entrar em curto-circuito e abandonar toda a sensatez em uma ideia que teria consequências... penosas.

Sendo justo, havia percebido o tamanho do erro assim que abri minha boca grande para sugerir que mantivessemos a amizade. Como, todavia, qualquer outra opção não era viável ou mesmo possível, me mantive firme em minha decisão.

E paguei por isso com grandes porções de insanidade.

De dia minha mente rondava outros tópicos, mas sempre voltava para minha mulher.

O que ela estava fazendo? O que estaria pensando? Estaria tão frustrada quanto eu ou nem se importava?

Sacudi a cabeça, inconformado. Chase estaria rolando de rir no chão se pudesse ver o que estava pensando.

Às noites, porém, eram bem piores. Enquanto acordado, podia ao menos tentar me manter ocupado. Quando o sono vinha, não era pacífico. Mesmo tentando torrar toda energia física na academia que tínhamos montado no porão do prédio da Thermopylae, ainda não conseguia descansar direito ao fechar os olhos no sofá de nossa casa porque minha imaginação criava cenários e ocasiões diferentes. E o resultado era sempre o mesmo: acordava molhado de suor e duro.

Depois vinha a vergonha. Eu deveria estar ajudando Savannah, não imaginando como ela ficaria em uma das lingeries que outro dia tinha visto sem querer em meio às roupas separadas para lavar, ou imaginando como ela ficaria sem nada... Todos os meus banhos agora eram congelantes, quase uma forma de autopunição. O problema é que a cada dia até mesmo essa forma de entorpecimento estava se tornando mais fraca, como se estivesse me tornando imune. Então só me tornava cada vez mais... perdido.

Não sabia o que fazer porque não havia o que fazer.

Como um covarde, nos últimos três dias, quando a vontade de ficar mais perto de minha esposa se tornou quase insuportável, havia passado cada vez mais tempo na Thermopylae, tentando trabalhar como louco para que a loucura dentro de mim não me consumisse. Afinal, não poderia classificar como outra coisa senão loucura querer algo quando obviamente estava tão longe de seu alcance, de suas possibilidades.

Além de tudo isso, porém, cada pequeno gesto dela adicionava um pouco mais ao meu sofrimento. Não que Savannah estivesse fazendo qualquer coisa propositalmente. Acho que não sobreviveria se ela estivesse realmente se esforçando. Porque, afinal, sua voz suave falando sobre qualquer amenidade — e que, nos últimos tempos, infelizmente, se resumia apenas à nossa lista de compras —, o jeito como seu quadril se movia enquanto ela cozinhava, a maneira como seus olhos se iluminavam quando ela estava escolhendo um livro para ler já me faziam ficar desnorteado, imagina se ela quisesse me provocar...

Haunted EyesWhere stories live. Discover now