Capítulo Catorze

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Caleb Hunter

Consegui manter minha pose de forte até o momento em que Savannah decidiu sair para trabalhar. Não importou quantas vezes lhe dissesse que ela poderia ligar e dizer que estava doente, Saara tinha sorrido para mim e dito que estava tudo bem antes de sair para trabalhar como se na noite anterior não tivesse desabado em meus braços. E aquele era mais um item para acrescentar em minha lista de "como minha esposa era muito mais forte do que eu".

Quando a porta de casa bateu, fui para o quarto e, com gestos bastante descoordenados, troquei de roupa. Só tive atenção o suficiente para me lembrar de pegar carteira, celular e de trancar a casa. O caminho até The Hook's foi provavelmente um dos mais longos de minha vida, ainda que ele não estivesse a mais do que três estações de metrô e dois quarteirões de distância.

Depois do segundo copo de whisky, parei de contar. Vez ou outra levantava o copo e podia ver meu reflexo no vidro. A imagem ondulada parecia refletir bem o quão atormentado estava.

Enquanto eu jogava bola e saía para encher a cara de álcool na faculdade, minha esposa estava se escondendo do avô psicótico dela, fugindo e tentando sobreviver.

Pensei que tinha sido corajoso ao me alistar, ao encarar as missões e servir meu país.... Corajoso... que piada.

Minha esposa era corajosa, enfrentando monstros de verdade por motivos concretos, levantando-se inúmeras vezes depois de a vida ter lhe jogado no chão repetidamente. Savannah era corajosa, porque, apesar de tudo, ainda era uma pessoa cheia de esperança, que conseguia encarar o próximo desafio sem desistir de tudo.

Gostaria de pensar que eu teria coragem e firmeza para encarar situações parecidas, mas sabia que provavelmente era uma ilusão.

Levei o copo outra vez aos lábios, sentindo o whisky descer queimando minha garganta.

E depois de tudo, quando Saara descobriu uma esperança na forma de seu pai desconhecido, o senhor Williams morreu de repente.

Como eu iria contar para ela que seu irmão tinha morrido por minha culpa?

Savannah, que me olhava com aqueles olhos dourados tão cheios de confiança...

Quantas decepções daquele tipo alguém poderia aguentar antes de enlouquecer?

Como poderia quebrar a confiança de alguém de maneira tão espetacular do jeito que faria ao lhe dizer o que aconteceu?

Finalizei o que tinha em meu copo em um último gole e sinalizei para que Tom o enchesse mais uma vez.

E por que eu ficava pensando em todas essas consequências quando não conseguia nem mesmo formar as palavras para tentar lhe explicar? Ou quando as coisas ainda não faziam sentido na minha própria cabeça, apesar do tempo que se passou?

Talvez porque era para ser tudo tão simples e tudo tinha dado... tão errado. Tão rápido. Tão errado... tão rápido.

Talvez alguma ideia idiota de que estávamos a salvo, talvez uma falsa percepção de que eu poderia fazer aquilo sozinho. Sem Duke, sem Chase.

Que piada.

De novo esvaziei outro copo e pedi por mais.

Sabia que era um escapismo inútil, mas não queria enfrentar o peso em meu peito ou as lembranças tão vívidas. E estava funcionando: minha cabeça girava. Ainda assim, queria mais. Estiquei a mão para o copo de novo, mas devia ter mais álcool em meu sangue do que imaginei, porque errei o lugar e meus dedos se fecharam no vazio.

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