23 - Sobre preparativos de viagem

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Preparar uma viagem em menos de dois dias sem que ninguém soubesse não era lá tarefa das mais simples

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Preparar uma viagem em menos de dois dias sem que ninguém soubesse não era lá tarefa das mais simples.

Primeiro, Celestina precisou arrumar alguém para ficar com Ícaro em sua ausência. Geralmente deixava o cachorro com alguma integrante do coven, mas dessa vez não podia levantar suspeitas, assim como não podia deixar que nenhuma babá contratada ficasse perambulando pelo seu apartamento (haviam muito mais segredos naquela casa além de uma caixa de biscoito cheia de ouro). Felizmente, Seu Rubem, mesmo sendo alérgico a cães, aceitou receber o animal na própria casa por dois dias. Segundo ele,  seria um favor pessoal da Zen de Tudo para uma funcionária necessitada, ainda mais quando havia em jogo uma parente doente do outro lado do país (Celestina provavelmente iria pro inferno por mentir tanto para o chefe).

Deixou o cachorro na casa de Seu Rubem ao final do expediente da sexta-feira, com os olhos marejados de preocupação. Não que Ícaro estivesse ligando muito: acabara de descobrir que Seu Rubem tinha um sofá retrátil com espaço para quatro pessoas.

Celestina também adubou o vaso de Tilda e pendurou um pequeno recipiente de terracota cheio de água acima da planta. O objeto deveria ficar pingando por 48h, o que manteria a terra sempre úmida. Era uma coisa meio humilhante para uma samambaia chorona daquele porte, mas foi a única coisa em que Celestina conseguiu pensar. Também costumava ser trabalho de sua família cuidar de Tilda nas raras ocasiões em que precisava viajar.

Sinto-me como uma verdura numa horta...

A viagem ainda teria outra enorme complicação: os raminhos da samambaia utilizados para comunicação, que de qualquer forma quase não durariam o final de semana inteiro, jamais aguentariam o ar rarefeito do avião. Mesmo que a pressão da aeronave fosse virtualmente corrigida, Tilda ainda era um ser infinitamente mais sensível do que um humano. Para ela, fazia diferença. Se estivesse viajando inteira, com vaso e tudo, ela provavelmente aguentaria o tranco (embora fosse possível que apresentasse sinais de ressaca no outro dia, seja lá o que isso signifique para os vegetais). Mas os raminhos eram frágeis demais, ínfimos demais para atravessar o país. Chegariam inteiros, porém sem viço.

O que significava que Horácio e Celestina estariam completamente por conta própria naquela aventura.

A garota pegou um táxi e encontrou com Horácio por volta das 20h no aeroporto. O rapaz ficara responsável por trocar o ouro e conseguir as passagens.

"Espero que não tenha tido problemas em trocar o dinheiro" ela comentou casualmente quando entraram na fila do checkin. Horácio soltou uma risada irônica pelo nariz:

"Você não faz ideia dos lugares em que precisei pisar para conseguir vender as suas pedrinhas..."

Assim que entraram no avião e o piloto anunciou a decolagem, Celestina retirou o pingente com o raminho de Tilda do pescoço.

"Chegou a hora. Vamos ter que nos separar por um tempinho..."

Você vai se cuidar, não vai? Porque se você morre e me deixa aqui sozinha, vou ficar definhando por dias e dias sem água antes de bater as botas...

"Credo, Tilda, que coisa horrível de se dizer. Vai dar tudo certo, volto no domingo e rego seu vaso até esborrar se você quiser."

Sei...Mas sério...Se cuida, tá? E cuida do garoto também. Eu gosto dele. Ele é...útil.

"Pode deixar. Sentirei sua falta."

Vai ser estranho sem você aqui. Mesmo com a TV ligada.

"Assista tudo o que puder e o tempo vai passar voando. Quando você menos esperar, estaremos juntas de novo."

"Hã...Celestina?" Horácio cutucou-a com o cotovelo. "As pessoas estão começando a olhar esquisito pra você aí falando sozinha..."

A menina riu.

"Preciso ir, Tilda. Até mais."

Até breve.

*****

O vôo transcorreu sem grandes problemas, além do fato de Celestina sentir-se nua por não estar usando o pingente.

"É como se a minha cabeça estivesse quieta demais!" ela dissera a Horácio.

A dupla conseguiu hospedagem para passar a noite num hotelzinho barato, próximo à faculdade onde o tal Javier Hernandez dava aula. Não foi a acomodação mais confortável de suas vidas, mas conseguiram descansar dentro do possível. É difícil dormir quando seu estômago está revirando de ansiedade.  

Na manhã de sábado, foram até a universidade e confirmaram que o endereço que Celestina encontrara no Google era mesmo a atual residência do "Professor Hernandez". Também descobriram, com alívio no coração, que o Professor não era casado e não possuía filhos (até onde se sabia). De fato, todos a quem perguntaram na universidade pareciam encantados em falar de Javier, como se ele fosse uma celebridade acadêmica ou alguém muito amado. Celestina ficava murmurando consigo mesma sempre que ouvia alguém referir-se ao suposto pai de uma forma tão respeitosa. Ah, se soubessem que tinham aulas com um ladrão internacional...   

Almoçaram numa lanchonete local e combinaram de dar uma boa olhada na casa de Javier no finalzinho da tarde, quando ele estaria no trabalho e quando as sombras do crepúsculo os ajudariam a passar despercebidos. Seria a única chance que teriam.

Capítulo curtinho só pra dizer que voltei da pausa de Carnaval (na qual eu infelizmente estava trabalhando e não descansando

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Capítulo curtinho só pra dizer que voltei da pausa de Carnaval (na qual eu infelizmente estava trabalhando e não descansando...é a vida). A partir de hoje, seguimos com nossa programação normal. :) 

Obrigada a todos que estão lendo!

Mamãe Vai Comer Meu FígadoWhere stories live. Discover now