31 - Sobre como um sobrenome retornou dos mortos

149 37 9
                                    

Javier e Artemisia trocaram um olhar rápido, cheio de significados

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Javier e Artemisia trocaram um olhar rápido, cheio de significados. A bruxa agarrava-se com força à caixa da varinha, enquanto o professor sinalizava para que ela permanecesse em silêncio.

"Como foi que conseguiu sair daquelas cordas, meu amigo?" perguntou Javier com o tom mais casual que conseguiu encontrar. "Você sabe que eu voltaria para desamarrá-lo assim que tudo se resolvesse, não sabe?"

"Não me chame de amigo. Agora saia daí."

Javier esticou-se devagar, deixando apenas que um olho e meio nariz aparecessem pela borda do contêiner.

Inocêncio estava de pé, um corte sangrento acima da sobrancelha, arma na mão. Presa em seus braços, Celestina debatia-se sem sucesso. Dois dos guardas seguravam Ícaro pela coleira, o único que parecia realmente feliz por estar ali. Abanava o rabo sem parar. Afora isso, não havia sinal do terceiro guarda. O que, pensou Javier, deveria ter relação com o corte na sobrancelha de Inocêncio. Celestina jamais teria sido rendida sem lutar. Isso era algo que ela certamente havia puxado dos dois lados da família.

A expressão no rosto da menina era um pedido de desculpas direcionado ao pai. Javier sorriu para ela, tranquilizador, pulando para fora do caminhão. Não havia muito o que fazer enquanto o revólver estivesse apontado para a própria filha. A cena era um estranho revival do confronto que se desenrolara na sala de estar de sua casa, embora dessa vez Inocêncio estivesse contra ele desde o princípio.

"Coloque as mãos na cabeça...devagar..." o careca comandava, pronunciando cada palavra como quem degusta um bom vinho.

Javier obedeceu, tentando prolongar o momento ao máximo para ter tempo de pensar. Sabia que Artemisia tinha a varinha em mãos, sabia que Celestina estaria maquinando alguma coisa. Tilda sabia da situação de todo mundo, e com certeza estava aconselhando sua filha. Dava para ver que a garota havia posto os olhos no chão, e enrugava levemente a testa em concentração. Estavam formando uma linha de ação.

"Eu sinto que esse assunto é meio pessoal para você" Javier começou a puxar conversa. "Alguma coisa que eu deva saber?"

"Creio que seja você quem está levando para o lado pessoal" Inocêncio lançou um sorriso enviesado.

"Não é fantástico? Descobri que sou pai! Agora que tal parar de ameaçar a minha garota e resolver seus problemas homem a homem comigo? Estou desarmado."

O careca riu com mais força, balançando a cabeça.

"Para a bruxinha filhote agir livremente pelas minhas costas? Eu não sou tão ingênuo quanto você pensa..."

Javier insistiu:

"Então talvez seja uma boa hora pra você me explicar. Porque eu mesmo só descobri essa história de bruxaria ontem."

"Você quer que eu conte sobre os meus planos maquiavélicos como fazem todos os vilões que se dão mal nas histórias?"

"Porque não? Sou todo ouvidos" disse ele, abaixando-se para sentar num dos caixotes, as mãos ainda erguidas para o alto.

Mamãe Vai Comer Meu FígadoOnde histórias criam vida. Descubra agora