28 - Sobre um quartel general improvisado

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Celestina e Horácio estavam parados na esquina, observando de longe o edifício capenga

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Celestina e Horácio estavam parados na esquina, observando de longe o edifício capenga. Javier aconselhara Celestina a não entrar no apartamento, pois o pessoal da Ian Woods poderia estar de olho na casa. Então coube ao técnico de tv a tarefa de ir até lá, recuperar Tilda e mais um monte de quinquilharias mágicas que pudessem vir a ser úteis na guerra que se aproximava.

O garoto girou a chave com cuidado, abrindo a porta lentamente. A madeira estalou nas dobradiças com um som agourento. Apesar disso, a casa parecia perfeitamente em ordem e vazia, a não ser pela presença verde berrante do enorme vaso de samambaia.

"Alô, Tilda" Horácio chegou junto à planta, sentindo-se meio babaca por erguer a mão numa saudação. Ainda não sabia direito como se portar diante dela. "Aconteceu um monte de coisa... acabamos voltando mais cedo."

Silêncio.

"Mas está tudo bem, sabe? Na verdade, agora o pai da Celestina está nos ajudando também... Uma loucura, não acha?"

Mais silêncio.

"Enfim... achamos que não é uma boa ideia deixar você aqui sozinha porque os ladrões podem voltar e tentar alguma coisa. Nunca se sabe, certo? E a mãe de Celestina também perdeu a varinha, e nós temos bem pouco tempo para resolver tudo isso e não pensamos em nenhum plano e..." ele saiu despejando as palavras de repente. "Bem, é isso. Vou pegar algumas coisas por aqui e depois vou descer com você, está bem?"

Silêncio.

Horácio andou pelo apartamento, abrindo armários e enfiando vidros e potes dentro de uma mala preta que encontrara no quarto. Os pelinhos da sua nuca estavam arrepiados, como se pudesse sentir estar sendo observado pela planta, uma presença onipresente aonde quer que fosse pela casa. Também sentia-se um pouco estranho remexendo nas coisas de Celestina. Era algo instintivamente errado de se fazer, principalmente na casa da pessoa que se estava namorando de mentirinha. Por Deus, havia calcinhas penduradas no varal!

Jogou a mala por cima do ombro, acomodando o peso com cuidado para não quebrar nada, e aproximou-se novamente de Tilda.

"Com licença..." 

Foi enfiando os dedos por entre as folhas até conseguir uma boa base para segurar o vaso. O troço era muito mais pesado do que ele imaginara, e precisou de três impulsos para conseguir erguê-lo completamente. "Desculpe" gemeu por entre os dentes, respirando com força para não deixar a preciosa samambaia cair no chão.

A descida pelas escadas foi ainda pior. Horácio precisou apoiar Tilda contra a parede por duas vezes, e noutra quase tropeçou num degrau e deixou tudo a perder.

"Perdão, perdão. Nós vamos conseguir, está bem?" disse ele no exato instante em que outro morador do prédio passava pelas escadas. O desconhecido lançou um olhar de censura para o garoto maluco que falava com plantas.

"Ah, que ótimo" suspirou Horácio.

Por fim alcançaram a porta da rua. Celestina veio correndo e passou a mão com avidez pelas folhas de Tilda, que brilhavam ao sol.

Mamãe Vai Comer Meu FígadoWhere stories live. Discover now