26 - Sobre uma estranha equipe se formando

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O estranho grupo (uma mulher coberta de poeira, um homem com o nariz roxo, um garoto com um galo na testa e uma menina segurando a bolsa como se houvesse uma arma lá dentro) saiu caminhando pela rua

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O estranho grupo (uma mulher coberta de poeira, um homem com o nariz roxo, um garoto com um galo na testa e uma menina segurando a bolsa como se houvesse uma arma lá dentro) saiu caminhando pela rua. Já estava bem escuro lá fora, e a área residencial apresentava pouquíssimo movimento.

"Podemos pegar um táxi ali na esquina" disse Javier, apontando para uma alameda onde vários carros idênticos aguardavam em fila. "Não posso levá-los para a universidade, seria o primeiro lugar onde iriam me procurar. Mas sei onde podemos nos esconder."

Aproximaram-se do primeiro táxi, fazendo sinal para o motorista. O homem, muito parecido com Seu Rubem só que sem a parte de gostar de trabalhar, veio gingando de debaixo de uma árvore onde jogava dominó com os colegas taxistas.

"Pois não, chefe..."

Javier indicou um endereço e o grupo se acomodou dentro do carro. Horácio, sentado no meio com as mãos em cima do colo, olhava nervoso para as duas mulheres a seu lado, cada uma observando a paisagem da janela com cara de poucos amigos. O taxista vez por outra tentava puxar assunto, ao que Javier respondia com palavras simples, até que o telefone do professor começou a tocar e ele jogou o aparelho pela janela. A partir daí, o taxista dirigiu no mais perfeito silêncio.

O destino escolhido era uma cafeteria barata que também acomodava uma biblioteca. As mesinhas eram bem espaçadas entre si, com luminárias próprias para a leitura e bancos estofados em formato de meia lua. Uma garçonete simpática os colocou sentados numa das mesinhas e afastou-se após entregar o cardápio, fazendo o possível para fingir não notar o semblante abatido de seus clientes.

"Você pode se explicar agora?" perguntou Celestina, cruzando os braços sobre a mesa.

"Mas sou eu que pergunto" respondeu Javier. "Afinal, foi você que invadiu a minha casa."

"Eu não sabia que era a sua casa."

"Eu não sabia que era a sua varinha."

"Então seria normal roubar desde que não fosse a varinha da sua filha?" retrucou a menina. "Que tipo de código moral deturpado é esse?"

O pai passou a mão pelos cabelos, despenteando os cachos loiros:

"É o meu trabalho. O que eu faço de melhor, depois de dar aulas na faculdade."

"O que exatamente é a Mr Ian Woods co.?" perguntou Horácio.

"É uma agência que procura e recupera itens arqueológicos."

"Rouba" insistiu Celestina.

"Recupera" corrigiu Javier. "Olhem, a arqueologia é um ramo muito intrincado da ciência. A maioria das coisas grandes, as realmente valiosas, são garimpadas por empresas privadas e vão parar em coleções particulares. Coisas que ficam fora dos registros e atrapalham o estudo acadêmico. Imagine quanta coisa a humanidade está perdendo só porque um maluco resolveu guardar a cabeça de Tutancamon só para si!"

Mamãe Vai Comer Meu FígadoWhere stories live. Discover now