O envelope misterioso

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Eu estava há dias naquela cama, tentando me lembrar do que acontecera no dia do meu acidente, mas a pancada desencadeou um aneurisma.

As meninas tentavam me fazer recordar das coisas que aconteceram nos últimos seis meses, mas eu só conseguia me lembrar de coisas antigas. Todas as minhas memórias de curto prazo foram apagadas.

Quando Sofia sentou ao meu lado e segurou a minha mão, eu sabia que ela tinha algo grave para me contar, mas não sabia que era tão grave assim.

- Lô, muita coisa aconteceu na sua vida nesses últimos seis meses, e a pancada te fez perder as memórias mais recentes, mas os médicos disseram que você vai recuperando aos poucos.

Ela faz uma pausa para respirar e continua:

- Dói muito te fazer relembrar dessa dor, mas você precisa saber... É sobre a sua mãe... 

Uma memória horrível me invade.

- NÃOOOO!

Sofia me abraça tentando me acalmar.

Todas as forças do meu corpo se foram, todas as células estão abaladas como se estivessem prestes a se desintegrar, o vazio no peito parece ser infinito. As lágrimas imploram para sair, mas o corpo não tem força pra isso. Minha alma parece ter ido embora. Não sinto a dor, mas sei que ela está aqui em algum lugar, talvez por toda parte. Eu preferia continuar sem aquela triste memória. Eu não acreditei quando me disseram que minha mãe tinha sofrido uma parada respiratória. Eu perdi uma parte de mim quando ela se foi, e a parte que sobrou, estava indo embora no momento em que eu recuperei aquelas memórias.

Eu adormeci chorando e acordei sorrindo, pois sonhei com ela. No sonho ela me acalentava dizendo: "A felicidade, minha filha, tem que prevalecer mesmo na dor".

O meu sorriso se abriu um pouco mais quando avistei Julia com um buquê de rosas nas mãos e um sorriso de orelha á orelha.

- Adivinha quem recebeu rosas?

- você?

- Claro que não, Lô!

- Sofia?

- A enfermeira disse que um homem mandou entregar á Senhorita Muller.

- Quem é essa?

- A minha mãe! Engraçadinha... Eu tenho uma ótima notícia para lhe dar.

- Eu ganhei na mega da virada?

- Eu tô começando a achar que você perdeu o juízo, sabia?!

- Fala logo a boa notícia, criatura!

- É o seguinte, os médicos disseram que todos os exames já foram feitos, e não tem mais necessidade de você ficar presa nesse quarto. Tem que voltar pra casa, para que suas memórias  voltem.

Os meus olhos estavam fixos nas flores vermelhas que estavam nas mãos de Julia.

- Ainda não me disse quem mandou essas flores...

- Não veio com um bilhete... Não parece feliz com a notícia que eu acabei de te dar... Você está bem?

- Estou bem, Julia... É que eu já estava me acostumando com todos esses cuidados médicos.

- Eu sei que com esses médicos gatos, dar vontade de morar no hospital, mas você precisa voltar pra casa, minha amiga!

Um médico entra no quarto para  dar a mesma notícia que Julia acabara de me contar, e eu começo a pensar que estão querendo me expulsar do hospital.

O Meu Amigo EscritorWhere stories live. Discover now