o sumiço

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Voltamos à praia antes de anoitecer,  David me convidou para jantar em sua casa sinistra. 

Eu hesitei em aceitar, mas acabei indo.

David abriu os portões de ferro e me conduziu até a porta. Ele entrou na casa vazia, puxou um tapete velho e abriu uma porta que havia no chão. 

- vamos, senhorita Muller. 

Fiquei com medo de descer as escadas e ficar presa no porão de David. 

-  Não vou te prender no porão, se é isso que está pensando. (falou David)

- Pode ir na frente. 

Fiquei chocada quando David acendeu as luzes do porão.  

- Quem diria que debaixo da casinha de madeira teria uma mansão subterrânea...

- Não se julga o livro pela capa, não é mesmo

- Realmente, esse lugar é incrível.

David se aproxima com seu olhar cor de café e sussurra em meu ouvido:

- incrível é você...

eu me dissolvi em seus braços e  me perdi no céu da sua boca.


                                                                     ***

Abri os meus olhos e não encontrei David na cama, levantei-me para procurá-lo, mas algo me dizia que ele não estava mais ali. Depois de andar a casa inteira chamando por ele, voltei para o quarto, caí na cama, mergulhei no seu cheiro que ainda permanecia ali e me desmanchei em lágrimas.

Eu sabia que não ia durar para sempre. Sabia que ele era um cafajeste.

Voltei para  casa com a cara quebrada.

- Lorena, o que aconteceu? Nem parece que acabou de chegar da casa do seu love!

- Ele evaporou, Sofi! Foi isso que aconteceu!

- Como é a história?

- Ele não estava mais lá quando acordei.

Sofi olha pra mim com cara de sono.

- ele deve ter ido comprar pão, deveria ter esperado ele voltar.

Ela me fez rir pela primeira vez naquela manhã. Sofia é um tipo raro de pessoa, consegue aliviar qualquer dor com um simples comentário. Eu admiro esse tipo de gente, que consegue ser gente e analgésico ao mesmo tempo.

- Ele me disse, uma coisa que só fui entender hoje cedo.

- que coisa ?

- Ele disse: " Um dia você entenderá."

Sofia me olha com cara de " tô entendendo nada"

- Entenderá o quê? Tô boiando!

- Eu também fiquei boiando, mas agora eu entendi o que ele queria dizer!

- Então me salva, porque ainda estou boiando !

- Ele evaporou para me proteger, e um dia eu vou entender que foi o melhor pra mim, mas no momento eu só quero sofrer a minha perda. Vou dar um volta na praia!

Passei o resto da manhã olhando o indo e vindo infinito das ondas do mar. As lembranças me invadiam sem parar e o ar ia embora sem avisar. Entrei no mar para tentar disfarçar, mas a dor continuava lá. A noite chegava devagar e o dia parecia não querer acabar. Aquele dia foi uma tortura particular.

Eu não queria aceitar aquela situação, por isso tomei uma decisão. Voltei a casa de David.
Quando cheguei no endereço, não acreditei no que vi, aliás, não vi nada. A casa tinha sumido. Olhei para os lados e senti como se tudo a minha volta tivesse evaporado.

comecei a me perguntar se não havia errado o endereço, mas o portão de ferro continuava intacto. 

Segurei-me com as duas mãos no portão enferrujado, pois temia cair.
Olhei para o coqueiro alto que tinha na frente da casa e pensei: pelo menos não arrancaram o coqueiro. Era a única coisa que restara naquele lugar. A casa subterrânea poderia estar em qualquer lugar, mas eu nunca iria encontrar.

A noite chegava macabra, o vento soprava cada vez mais rápido e eu só conseguia ouvir o barulho dos pássaros negros que rondavam o céu.

O portão não estava fechado, então resolvi entrar naquele lugar vazio, antes da noite chegar. Naquele momento eu só queria que o vazio que havia dentro de mim evaporasse como tudo a minha volta. Quando me aproximei do coqueiro, percebi que havia uma mensagem escrita no tronco. Meu coração foi a mil quando li o que ele havia escrito.

"Você acabou de encontrar a sua história de amor , senhorita Lorena Muller".

David realmente me conhecia bem, ele sabia que eu entraria, por isso deixou o portão aberto. Sabia também que eu iria chegar perto do coqueiro. Reli a mensagem para ter certeza e foi a partir desse momento que as peças do quebra cabeça se encaixaram. Eu entendi que David estava me dando de presente a nossa história de amor. Ele não evaporou por que quis. Evaporou para que a dor me inspirasse. 

Comecei a lembrar do que eu havia lhe dito no dia anterior.

" A dor me inspira mais do que o amor, por isso corro tanto atrás dela".

No fundo ele sabia que se ficasse estaria aniquilando as minhas chances como escritora.

Eu já sabia o que deveria fazer a partir daquele momento.

Eu encontrei a história de amor perfeita, em contra partida, perdi o amor da minha vida.

Não se pode ter tudo na vida, não é mesmo!?

O Meu Amigo Escritorजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें