A entrega

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- Eu sou um cafajeste faminto, podemos ir jantar agora?

- Eu não janto com cafajeste!

- Nem se ele for seu amigo de infância que você não ver há anos?

- vou abrir uma exeção pra você. Onde vamos jantar !

- Na minha casa,  já preparei o jantar, senhorita Muller!

- Não sabia que era cozinheiro! perdão, senhor Freddie Aguillar!

- Quando se mora sozinho você tem que aprender a cozinhar pra não morrer de fome.

Sigo David em silêncio até um estacionamento fora do metrô. Ele entra no local e me manda esperar um momento.

Percebo que as minhas mãos estão petrificando e tento aquecê-las colocando-as dentro dos bolsos. David sai do estacionamento e eu não consigo acreditar no que meus olhos veem.

Um homem elegantemente de terno preto numa bicicleta rosa.

Uma crise de riso toma conta de mim quando David se aproxima.

- vamos, senhorita Muller! Suba!

Ainda tentando controlar o riso, me encaixo de lado na frente de David.

- Você é mais louco do que eu imaginei !

- você ainda não viu nada!

- Toma cuidado! Eu sofri um acidente recentemente e não quero voltar ao hospital.

- voltaremos juntos!

***

A barba de David esbarra no meu rosto o tempo todo, como se tivesse uma atração irresistível pela minha pele. Consigo sentir o cheiro do seu creme de barbear. A brisa suave faz todos os pelos do meu corpo arrepiar.

As poucas pessoas que aparecem a cada esquina, apontam na nossa direção e começam a rir da cena inusitada. Não me sinto ofendida, pois no lugar deles eu também morreria de rir.  Não é todo dia que a gente ver um homem elegante numa bicicleta rosa com uma mulher. É uma cena peculiar.

Começo a ficar um pouco preocupada quando nos afastamos da cidade e entramos numa avenida escura e deserta. 

Ouço o barulho das ondas ao longe e começo a me perguntar para onde estou sendo levada.

David estaciona a bicicleta na frente de uma casa de madeira com altos coqueiros e um portão enferrujado que protege uma grande propriedade.

Fico sentada no cano fino da bicicleta observando aquele lugar macabro até ouvir a voz de David ressoar no meu ouvido.

- Já pode descer, senhorita Muller!

- Meio macabro esse lugar.

- A minha cara, não é mesmo?!

Olho para a cara de David e abro  sorriso duvidoso.

- O que você fez pra comer ? (Pergunto enquanto ela abre o portão)

- advinha!

- não faço ideia.

David abriu um sorriso encantador logo após a porta de madeira.

- Não se assuste se encontrar moradores indesejados.

Era uma casa muito engraçada, tinha teto e mais nada.

- gostou da casa ?

- Não é exatamente uma casa.

- A comida está lá em baixo. A gente não vai comer aqui dentro, não se preocupe. Vamos comer fora, à luz do luar...

Eu pressuponho que seja no chão, pois não há mesa lá fora e a comida deve ser invisível.

- Eu vou tomar um ar enquanto você procura a comida.

- Ok, me espere lá fora.

A lua está mais clara que o normal e a brisa do lugar é surreal.

A bicicleta está parada me esperando para fugir, mas quando me aproximo dela, ouço um barulho vir de dentro da casa de medeira.

- Lorena, pode me ajudar aqui ? (Grita David)

Os pratos que David seguravam parecia estar com um sabor muito bom, mas não é bom julgar um prato pela aparência.

- Onde arrumou essa comida?

- Na cozinha!

Olhei para a casa vazia e logo após para os pratos de porcelana.

- Que cozinha?

- Depois eu te mostro, vamos jantar! Estou morrendo de fome!

Nos sentamos de frente para o outro, debaixo de um coqueiro, correndo o risco de levar uma "cocada" na cabeça.

Eu ainda estava em dúvida sobre comer ou não, mas depois que vi David saboreando a salada, fiquei com água na boca.

- Não vai comer ? (Perguntou ele)

Olhei para o prato lindamente organizado e coloquei pra dentro. A comida, não o prato.

Ele realmente sabia cozinhar.

***

Depois do jantar à luz do luar, David me levou até um barzinho de ambiente muito agradável e com uma música muito suave de se ouvir. Não demorou muito para ele me puxar pela cintura e me fazer passar vergonha na pista de dança.

- David, o que está fazendo? Eu não sei dançar !

- Não se preocupe, eu não te tirei para dançar.

David estava tão próximo que dava para sentir a sua respiração, que por sinal estava pesada assim como a minha. Os átomos dos meus olhos tocaram nos olhos dele, no momento em que ele ficou à três centímetros da minha boca

.
Com o pouco de ar que ainda me restava nos pulmões, perguntei:

- vai me beijar?

- no no no...

Ele não beijou os meus lábios, mas seguiu um percurso até a minha bochecha e deixou um beijo de veludo nela. Logo depois falou baixinho no meu ouvido direito:

- Ah... Lorena, eu não resisto a sua boca !

Comecei a sentir uma corrente elétrica percorrer todo o meu corpo quando ele fez uma trilha de beijos para chegar nos meus lábios. Quando chegou no seu destino final, pousou os seus lábios sobre os meus com delicadeza e me deu um beijo longo e suave. As suas mãos subiam levemente até a minha nuca e me puxavam para mais perto dele, fazendo meu corpo estremecer. Naquele momento foi como se o chão fosse retirado dos meus pés. Flutuei sem sair do lugar.

Realmente não estávamos ali para dançar.



O Meu Amigo EscritorWhere stories live. Discover now