O Meu amigo escritor

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digitei a ultima palavra da história e deixei meus dedos finos cair sobre a mesa.

- Eu consegui! Acabei de terminar a história!

Sofia olha pra mim com sua xícara de café na mão. 

- Que história, garota?

- A história que David deixou para mim quando se  foi... A nossa história.

- Lô, esquece esse cara, finge que ele nunca existiu. Você tá nessa há meses... Tem que sair, conhecer gente nova...

- Eu acabei de escrever uma história de amor digna de atenção! Sabe o que isso significa?

- Que você conseguiu realizar seu sonho.

- Sem ele eu não teria realizado.

- O que vai fazer agora ? publicá-la ?

- Não pretendo publicá-la...

- como assim ? vai desistir do seu sonho? 

- Meu sonho era viver uma história de amor digna de atenção e eternizá-la no papel.. Eu consegui! 

- se não publicá-la nunca saberá se é digna de atenção.

- Eu nunca dei tanta atenção a uma história de amor como dei para essa, Sofia.. foi digna da minha atenção, por isso consegui terminá-la. 

- Eu vou ler a sua história, pode mandá-la pra mim ?

- Claro, vou mandar agora mesmo.

O  fim parece ser algo ruim, mas não para mim. Quando terminei de escrever "O meu amigo escritor" fiquei feliz porque eu sempre deixava as histórias pela metade, sempre adiava o fim e sempre tive medo de chegar ao fim.  Pela primeira vez eu consegui chegar ao fim.

E cá estou eu, correndo na praia com os meus cabelos ao vento e os meus pés no chão. É bom estar de volta ao mundo real. Estar com os pés no chão significa viver a realidade das coisas, ultimamente eu estive tão ausente. Agora, eu só quero sentir os grãos de areia de verdade, parar de imaginar que estou vivendo e começar a viver. Eu nunca havia sentido os grãos de areia, apenas imaginei sentir. Me sinto livre. Livre para viver a minha história. Essa eu não vou poder contar, pois ainda está sendo escrita por mim.

Sento-me de frete para o mar e me recordo do dia em que me encontrei com David, nessa época ele ainda era Freddie Aguillar, depois passou a ser Omar. Eu ainda tenho a esperança de vê-lo saindo do mar com seu estilo peculiar.

O alarme do celular começa a tocar me fazendo voltar a realidade.

                                                                                           6:15 da noite

Sinto uma mão pousar no meu ombro esquerdo e meu ritmo cardíaco começa a acelerar.

David senta do meu lado e eu permaneço paralisada com medo de olhar e ele se dissipar. 

Olho nos olhos dele para me certificar de não é uma alucinação. 

Meus olhos ainda sem acreditar, imploram para que eu toque em sua barba. Eu obedeço sem contestar. Começo a creditar que é mesmo "Freddie Aguillar." Eu não estou delirando, sua barba arranha meu rosto quando ele começa me cheirar.  

- você tem cheiro de mar, dá vontade de mergulhar.

- por que você sumiu ? 

David me entrega um livro vermelho com o título " A lente indiscreta de Freddie Aguillar"

abro o livro e me deparo com varias fotos da nossa velha infância.

- A mulher misteriosa é você.

- você é previsível demais, senhor Freddie Aguilar.

David sorri discretamente e diz:  

- o que você acha que vou fazer agora?

eu esperava um beijo daqueles de cinema, mas não rolou. 

Ele levantou- se, começou a desabotoar os botões da camisa sem pressa nenhuma, tirou a calça e correu para o mar.  

Sinto seu cheiro se dissipar feito fumaça de café no ar.      

Fico observando ele entrar no mar, imaginado o quão gelado está. 

Ele some no mar, eu me levanto bruscamente e começo a gritar 

- DAVID ! NÃO TEM GRAÇA ! 

olho para os lados e não o vejo em lugar nenhum. Tiro o vestido e entro no mar desesperada, uma onda me joga de volta pra areia, mas eu não desisto e volto a chamar por David.  Ele surge por trás e me abraça. Sinto sua pele gelada na minha e meu corpo congela. Ele tira suavemente o resto de roupa que ainda me resta e mergulha dentro de mim. 





O Meu Amigo EscritorWhere stories live. Discover now