1- O Começo °

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Nicole Suzana

  Acordei com a cabeça doendo, já estava assim desde ontem a noite mas achei que uma boa noite de sono melhoraria, olhei para a tela do telefone na mesa ao lado da cama, eram seis e quinze, já era possível ouvir os gritos da minha mãe e do meu padrasto ecoando pela casa de madeira que morávamos, sim plenas seis e quinze da manhã, tomei um banho bem quente e coloquei uma calça jeans preta, a blusa do uniforme e um tênis que daqui a pouco sai andando sozinho de tanto que eu uso, prendi meus cabelos em um rabo de cavalo e por fim cobri com maquiagem o hematoma roxo do meu braço, que meu padrasto havia deixado na noite anterior, peguei a minha mochila e sai do quarto, tentei passar despercebida pela sala mas foi em vão.

- Tu cria essa tua filha igual uma vagabunda, daqui a alguns dias ela aparece grávida e nem sequer vai saber de quem é o filho- Davi disse gritando e minha mãe ficou quieta me observando passar por atrás deles e indo para a porta da sala.

  Sai de casa e comecei a descer morro parei em frente a casa laranja pouco a baixo da minha e bati palma na frente, de repente a ruiva abre a porta, Milena era minha melhor amiga, a quase três anos, já passamos por poucas e boas juntas, nunca nos desgrudamos desde de que nos conhecemos, a mais alta me encarou com os olhos pequenos de sono e depois deu um leve sorriso.

- Não dormiu bem? - Perguntei

- No dia que seus pais calarem a boca durante a noite, eu volto a dormir - Ela fala e eu sorrio constrangida

- Desculpa por isso, mas você sabe que ele não é meu pai- Falo firme e ela suspira.

- Que seja - Ela fala antes de bocejar

   Milena me chama pra entrar, fico sentada na sala enquanto ela terminava de se arrumar, cerca de 10 minutos depois ela aparece.

- Já comeu?- Questiona mesmo já sabendo que a resposta seria não.

- Não, saí rápido de casa- Falei e ela concordou me estendendo a mão.

- Vamos comer, depois descemos - Ela disse enquanto me levava arrastada para a cozinha da casa,

    Milena passou café e depois que comemos e limpamos nossa sujeira saímos da casa voltando a descer o morro mas desta vez juntas, chegamos na entrada do morro e encontramos o Douglas recebendo um carregamento de algo ilícito provavelmente.

- Eai minhas mana - Douglas disse deixando um dos meninos com o caminhão e andando até a gente.

- Eai Lima - Falei sorrindo fraco

 Lima era o vulgo do Douglas, quase todo mundo que participa dos negócios do morro tem um, evita que alguém seja rastreado pelo nome e também, mantém a família dos envolvidos a salvo.

- Oi mano - Milena falou baixinho e seguiu caminho.

- Ta estressada ela né fi -Falou rindo e eu sorri fraco concordando.

  Milena e eu seguimos o caminho para a escola, que era na outra esquina depois da entrada principal do morro. Assim que chegamos no portão entramos indo para um canto esperar o sinal tocar.

   Depois que o sinal tocou, andamos juntos com a turma para dentro da nossa sala, que ficava no segundo lote da escola, sentei na primeira carteira vazia que me apareceu, e por sorte, ou azar, sentei do lado da irmã do Silva, a irmã do dono do morro.

- Oi -Ela disse sorrindo e me olhando.

- Oi - Falei e encarei ela

- Você está bem? - Questionou e eu assenti

-Estou sim, obrigada por perguntar - Falei e logo virei para frente mudando o foco dela, fazendo ela fazer o mesmo.

  Se passaram algumas aulas e a professora de Educação Física não apareceu na escola por alguns problemas pessoais, que na maioria das vezes envolvia um baile na noite passada e uma ressaca forte, fomos liberados mais cedo pela escola, Milena me avisou na sala que iria para casa de uma amiga, e eu concordei seguindo meu caminho de volta para fora da escola.

  Quando sai do colégio vi Rique parado na frente do prédio ao outro lado da rua, escorado na moto dele, andei até lá e ele estava com o semblante sério, Rique ou também Henrique era para todas as horas meu melhor amigo, além de ser meu irmão mais velho também.

- Me falaram que Davi atormentou a viela a noite toda, o que aconteceu? - Perguntou e eu suspirei me aproximando dele.

- Agora ele colocou na cabeça que eu sou uma vagabunda sem futuro e é pra coroa ficar ligada em mim. - Falei e ele olhou para o lado suspirando.

- Vamos lá pro casarão comigo hoje? - Ele perguntou e eu neguei com a cabeça

- Nunca que vou me enfiar em uma casa cheia de traficantes, só você me basta - Falei rindo e ele me deu um tapa fraco na parte de trás da cabeça, me fazendo rir.

- Sobe na moto e vamos - Ele falou e eu assenti subindo logo atrás dele na moto.

   Passamos na minha casa, entrei com toda a cautela do mundo para evitar futuros problemas, Davi estava dormindo no quarto e minha mãe estava trabalhando nesse horário, fui ate meu quarto e peguei algumas mudas de roupas e depois sai de fininho da casa, logo subindo na moto e voltando ao rumo do casarão com Rique, seriam essas as vantagens de ter um irmão sub.

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O Dono Do Morro- 1° e 2° TemporadaWhere stories live. Discover now