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Mel

No decorrer da semana, eu me encontrei com Christopher algumas vezes. Brinquei com Lola e ele me pareceu mais amigável. Ainda vejo um muro bem erguido entre nós, mas, em vez de me afastar, sinto-me desafiada a destruir ao menos uma parte desse muro.

Hoje eu o vi voltando com Lola depois de mais um de seus passeios diários, mas, diferentemente dos outros dias, arrisquei pedir emprestada a sua cadela como pretexto para tentar me aproximar mais dele. Quase me arrependi, ao notar que ele parecia desconfiado ou algo do tipo, até que finalmente cedeu.

Christopher me deu apenas uma hora para que eu voltasse com Lola para sua casa. Senti que ele não queria que eu saísse com ela, mas desconfio que seja por causa da minha condição. Claro que não disse nada a respeito nem usou a palavra "condição" realmente, mas os olhos fixos sobre minha perna mecânica revelavam sua preocupação. Eu sabia que ele tinha medo de que eu não conseguisse lidar com a cadela e isso me encorajou ainda mais a provar que sou capaz.

Depois de deixar Lola correr pelo "Dog park" , um espaço fechado reservado para cães dentro do Washington Square Park, já estamos novamente de volta ao prédio onde moro. Lola é uma cadela doce e, como eu imaginava, não me deu trabalho algum. Com apenas um chamado, ela retornou até mim sem qualquer problema.

As pessoas ao redor pareciam interessadas na cadela sem orelha, e eu me pergunto como Christopher lidou com essa curiosidade. O mais incrível é que ela parecia, a todo tempo, entender as minhas dificuldades. A impressão que tive é de que Lola entende tudo, absolutamente tudo que eu digo a ela.

— Aposto que está cansada, certo?

Ela ergue a única orelha e olha para mim abanando o rabo desesperadamente; isso me arranca um sorriso. Lola é fascinante e continua perfeita como deveria ser.

Assim que as portas do elevador se abrem, ela corre em direção à sua porta. Lola se senta educadamente enquanto me aproximo. Toco a campainha e em seguida a porta se abre revelando um abdômen. Engulo em seco. Lola corre para dentro tropeçando no tapete da entrada, mas eu faço o meu melhor para não observar o desenho perfeito do corpo bem diante de mim. Será que ele tem noção do efeito que isso está me causando? Decido ignorar o fato de ele estar sem camisa e me concentro em seus olhos tristes e cansados. Ele também me observa atentamente, mas não diz uma só palavra. Isso me chama a atenção tornado quase impossível desviar meu olhar do dele. Christopher é tão estranho que isso me causa curiosidade

— Bom... Lola está entregue. — Desvio o olhar. — Obrigada por confiar em mim. Ela é uma ótima companhia.

Ele inspira o ar e o solta pesadamente passando a mão despretensiosamente sobre os cabelos desalinhados.

— Obrigado — agradece e eu aceno, afastando-me e caminhando lentamente em direção ao meu apartamento. — Mel?

Paro no mesmo instante em que o ouço me chamar. Não sei dizer ao certo, mas meu coração deu um salto como se sua voz pronunciando meu nome fosse algo sublime para mim. Viro-me e sorrio, tentando não demonstrar que isso me afetou de algum modo.

— Sim?

Christopher olha para dentro, onde Lola agora late histericamente como se estivesse chamando-o para entrar. Ele parece lutar com algo dentro de si enquanto me observa. Encaro-o na expectativa de que me convide para entrar. Ele abre a boca e finalmente diz:

— Tenha uma boa tarde!

Sorrio tentando disfarçar a frustração em meu rosto. Tive a impressão de que ele fosse me convidar, mas isso não aconteceu. Na verdade, Christopher fecha a porta e me deixa observando sem nenhuma reação. Confesso que queria entrar. Eu ainda quero entrar, mas não sei exatamente se isso seria saudável para mim.

EmergirWhere stories live. Discover now