Bônus III ou "Acordo de cavalheiros"

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Queria pedir desculpas, porque esse capítulo está longe de estar perfeito. Eu pretendia expressar com mais clareza a confusão de sentimentos do Nick, mas alguma coisa estava me bloqueando e como não é um capítulo tão rico em fatos como em sentimentos, eu decidi postar assim mesmo e eu me viro na revisão depois. Assim que eu resolver o que faço com o Bônus III, posto uma atualização e um aviso. Mas por enquanto é vida que segue!

Aproveitem para se despedir do Nick. Esse é o último bônus dele em Quem Brinca Com Fogo. Aproveitem a leitura. <3

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Mesmo tendo nascido em Vitória e vivido uns bons treze anos da minha vida por lá, eu estava longe de ser o tipo de cara que se considera alguém metropolitano. A verdade é que Viveiro era muito mais minha casa do que qualquer outro lugar em que eu já pisara, e eu falhava em compreender a razão disso. Minha mãe sempre me dissera que eu devia ter nascido no interior, ao contrário de João, que nascera para viver em qualquer lugar, e Ricardo, que não chegara a viver um ano inteiro em Viveiro para contar a história antes de ficar desesperado por um pouco de concreto e poluição.

Talvez por ser alguém tímido. Alguém que gosta de ser deixado em paz. Que aprecia acordar cedo num domingo para aproveitar o dia, e que gosta de silêncio – pois é do silêncio que surge o som. Ou talvez a razão pela qual eu só me sentisse em casa naquela cidadela insignificante do interior de São Paulo era porque Valéria fizera de Viveiro o meu lar.

E por mais que eu detestasse sequer cogitar essa possibilidade, era a mais próxima da realidade.

A esse ponto, eu já tinha desistido de fingir que não conheço a natureza do que sinto por ela. Viveiro se tornara a minha casa no dia que Valéria cruzou olhares comigo em uma das festas do idiota do Carlinhos, que eu ainda não sabia que era idiota na época. E eu cheguei em casa com dificuldade para respirar se nenhuma razão particular, e fui até a varanda pegar algum ar para descobrir que aquela garota, vestida como se tivesse acabado de levantar da cama e de cabelos até o meio das costas, era minha vizinha. Nossos quartos eram praticamente justapostos, o que não podia ser só coincidência naquela rua de sobrados simétricos que ia até se perder de vista.

Eu decidi que não encararia a chegada de Valéria na minha vida como um acaso, e ela se fez em casa em mim desde então. Nossa conexão era inegável para qualquer um que se demorasse em nós por cinco segundos. E eu a odiei febrilmente por me deixar... e a amei por retornar. Era patético e vergonhoso, levando-se em conta tudo o que deve ser levado, mas eu não podia evitar.

Era aquela sensação de que a garota era todo o desfecho que eu precisaria na vida, da qual eu não conseguia me livrar.

E ela também não. Por mais que ela lutasse contra isso, e por maior que fosse a afeição que ela tinha criado por sua vida paralela em Vitória, ela não era capaz de desviar da nossa conexão. E por isso ela estava prestes a me dizer a verdade. Não fragmentos dela, ou as partes moldadas para convencer os outros de suas razões. Mas a verdade completa sobre o incêndio, e sobre o que a fizera sentir tão assustada a ponto de fugir.

E justo quando Vale decidira me contar a verdade e revelar o verdadeiro responsável pelo incêndio e o porquê de ela ter tanto medo dessa pessoa...

A porcaria do Garoto de Ouro dava as caras em Viveiro novamente.

Não bastando dar as caras na vida de Valéria, ele tinha que dar um jeito de aparecer na minha também. Depois de meses tendo que assistir a Vale se contorcer por aquele pedaço de merda que a abandonara. E eu não consigo descrever o impulso de dar-lhe um soco na cara quando, sem um pingo de vergonha, ele cruzou a porta de entrada da minha casa com meu irmão à tira colo.

Quem Brinca Com FogoWhere stories live. Discover now