O que é que foi?

18 4 0
                                    

Os olhares que Gabriel me deita estão a tornar-se incómodos, então decido pegar na travessa dos biscoitos e ir para o meu quarto.
Quando tudo o que resta são migalhas, deixo-me cair no colchão confortável a pensar no que hei-de fazer. Passei a minha vida toda no campo com os animais e este comboio está a tornar-se muito claustrofóbico para mim, preciso de uma distração. Pondero sair do quarto em busca de alguma coisa para fazer, mas não me apetece cruzar-me com ninguém, e é então que tenho uma ideia genial.
Sempre quis fazer isto, mas tenho a certeza que bastaria um saltinho para partir a minha cama no dormitório partilhado do orfanato, e concerteza seria castigada com pelo menos 20 bofetadas.
Ponho-me de pé no colchão fofinho e começo com pequenos saltinhos. É mais divertido do que imaginei, e rapidamente me deixo entusiasmar e salto cada vez mais alto.
É impossível conter os guinchinhos de alegria, afinal acho que esta é das coisas mais entusiasmantes que fiz na minha vida (tirando o meu primeiro beijo e aquela vez em que tive de fugir de um touro possuído).
Só paro quando não consigo mais respirar, deixando-me cair na cama com um sorriso do tamanho do mundo. Mais uma coisa que já fiz.
Tantos saltos deixaram-me a transpirar em bica, e confesso que a banheira enorme da casa de banho parece muito convidativa. No orfanato, a casa de banho das meninas tinha vários chuveiros e tomávamos banho todas ao mesmo tempo. Tínhamos exatamente três  minutos de água quase fria e quem não estivesse lavada depois desse tempo, paciência...
Quando o meu corpo submerge na água quente não evito soltar um suspiro de prazer, é como um remédio para os meus músculos cansados. Escolhi uma essência de rosas para juntar na água e ponho uma série de produtos que nunca vi no meu cabelo. Deixo-me ficar a relaxar na banheira e assusto-me quando ouço alguém a bater à porta do quarto, bufo de frustração e obrigo-me a sair da água e a embrulhar-me no roupão pousado ao pé do lavatório. Enquanto ando até à porta sinto o cabelo molhado a pingar para o chão, mas sinceramente nem quero saber.
Abro a porta e vejo Gabriel plantado do lado de fora. Parece admirado por me ver de roupão e a escorrer água e mais uma vez sinto-me desconfortável com a maneira como ele parece estudar o meu corpo.
- O que é que foi? - pergunto eu.
- Hum... - diz ele enquanto volta a olhar para a minha cara. Lança-me um sorriso. - É para ir jantar.
- Ok, já vou lá ter. - digo eu de cara fechada.
Ele não diz nada e continua parado em frente à minha porta com o sorrisinho na cara. De que é que ele está à espera?
Fecho-lhe a porta na cara e despacho-me para ir jantar. Escolho uma roupa qualquer do armário e passo a toalha e a escova no meu cabelo.
Quando chego à mesa sento-me no lugar vazio ao pé de Tashi, com Gabriel à minha frente e Letty à esquerda dele. As duas conversam animadamente sobre o dia de amanhã: a chegada à capital e o desfile dos tributos. Eu e Gabriel mantemo-nos em silêncio até que Tashi decide mudar de tema e dá-nos indicações importantes de como devemos agir amanhã: devemos sorrir e ser simpáticos, mas ao mesmo tempo mostrar confiança, poder e força. Tashi disse ainda que nunca devemos desviar o olhar se os outros tributos nos estiverem a avaliar, nunca ceder a intimidações. Apesar de não me sentir nada confiante, decido que vou seguir as indicações. Tashi é experiente, e se ela acha que isso é o melhor a fazer, não vou discordar.
No fim da refeição vamos para a sala ver o resumo das ceifas, o que só me deixa mais assustada, tanto pelas crianças que vão ter que morrer como pelos brutamontes que vou ter que enfrentar.
Mal somos dispensados volto para o meu quarto e depois de ir à casa de banho enfio-me na cama. A sensação dos lençóis suaves em contato com a pele é tão boa que decido despir-me completamente. Mais uma experiência. O cansaço faz-me adormecer quase imediatamente.

Acordo muito cedo de um sono sem sonhos nem pesadelos e sinto-me cheia de fome. Visto-me e decidi ir comer. Até é bom ir agora, duvido que já esteja lá alguém. A minha previsão estava certa. Como devagar e demora muito tempo até Tashi chegar e fazer-me companhia, e conversamos sobre assuntos normais, não me apetece falar dos Jogos. Isso muda quando Gabriel e Letty chegam.
- Quando chegarmos ao Capitólio irão passar o dia com as vossas equipas de preparação e estilistas. - começa ela a explicar. - Eles tratarão de vos deixar apresentáveis para as câmaras. Portem-se bem e façam o que vos pedirem.
Não consigo parar de olhar lá para fora com a ansiedade, e algum tempo depois chegamos. Os edifícios que parecem chegar ao céu, as cores, as formas, a vida... Não há como não ficar deslumbrada.
Até me lembrar do motivo porque estou aqui.

******************************

Dois capítulos num dia! Estou a sentir-me inspirada 😁
Obrigada por lerem, espero que gostem!
Beijos 😘

Hunger Games: a história por contarWhere stories live. Discover now