Cinco

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Charles

Acordo com alguém abrindo as cortinas, fazendo com que os raios de sol batam diretamente contra meu rosto, embaçando minha visão.

Sento na cama e coço os olhos, em uma tentativa falha de espantar o sono.

Quando consigo finalmente me acostumar com a claridade vejo meu pai parado logo na minha frente, me encarando.

- Sério? Sério que você estourou o limite do seu cartão em apenas uma merda de noite, Charles? - Esbraveja.

- Eu tenho que aproveitar um pouco também, não acha? A faculdade está sugando todo meu tempo e.... - Tento argumentar mas sou interrompido.

- Não coloque a culpa de você ser um imbecil na faculdade. - Percebo que ele tenta manter a calma, respirando pesadamente.

- Eu sempre sou errado. Eu não posso aproveitar minha vida, apenas porque a sua até uns anos atrás era extremamente fodida? - Termino e me arrependo na mesma hora, vendo sua expressão.

- Claro que pode aproveitar. Mas olha o que está se tornando, um merda e ainda por cima viciado. - Rosna trincando os dentes.

- Eu não sou viciado. - Minha voz sai embargada e sento um nó se formar em minha garganta, pois parte disso é verdade.

- Está sim, Charles. Tenho desgosto da pessoa que você está se tornando. - Termina e a decepção em sua voz é evidente.

- Me desculpe por não conseguir ser o filho perfeito que você tanto sonha. - Saio dali pegando minhas chaves e batendo a porta com força.

Caminho apressadamente para fora da grande propriedade, praticamente correndo e ouço mamãe me gritar, mas simplesmente ignoro.
O som do pneu em contato com o asfalto quente é alto quando dou partida e saio sem rumo.

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Observo o fim do dia chegando, o sol sumindo aos poucos levando consigo seus raios fortes e quentes, o som das ondas pulando. Praia, um dos únicos lugares que me traz paz.

Olho de relance meu celular e o pego vendo várias chamadas perdidas e inúmeras mensagens, apenas finjo não ter visto, guardando-o de volta no meu bolso.
Me levanto, batendo as mãos na calça, tentando tirar os inúmeros grãos de areia grudados, voltando em seguida para o carro rumo a boate mais próxima. E eu preciso, preciso como nunca da droga e do álcool para relaxar, principalmente da maldita droga.

Olha o que está se tornando, um merda e ainda por cima viciado.

As palavras de papai ecoam em minha cabeça, e tudo isso não passa da verdade, eu realmente estou viciado.

Termino minha segunda carreira de cocaína, e já sinto meu corpo leve, pego meu copo e dou um longo gole em minha bebida, que desce rasgando por minha garganta.

Ouço o som da música muito alta e murmúrios de pessoas, estou tão fora de mim que nada faz sentido. Minha visão embaçada me atrapalha ao tentar passar por aquela multidão de pessoas se mexendo juntas.

Fora da boate sinto o vento gélido bater contra meu rosto e suspiro, tentando achar minha versão sóbria que evaporou.

- Ei Charles, vamos mais uma? - Pergunta Roger, balançando o pacotinho com o pó branco no ar.

- Já entro. - Digo e ele assente, indo para dentro.

Meu celular vibra dentro do bolso da calça e o pego, vendo o nome Mamãe piscar na tela e desligo. Alguns segundos  depois seu nome volta a aparecer.

- Mãe, por favor me deix......- Começo mas sou interrompido pelos seus soluços.

- Charles. - Sua voz é baixa e rouca, quase inaudível.

- O que aconteceu?  -Pergunto, sentindo uma angustia enorme inchar em meu peito.

- Seu pai está morrendo. - Termina de falar com muito custo por sua voz embargada e sinto minha consciência voltar no mesmo instante.

PLÁGIO É CRIME!!!

Meu JuizWhere stories live. Discover now