Capítulo 1: Na cama errada

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       Abro os olhos com a sensação de que tem alguma coisa errada, mas não faço ideia do que possa ser. Uma primeira pontada de dor se faz presente na minha cabeça e eu volto a fechar os olhos com força. Bom, eu já devia mesmo estar esperando por isso depois da noite de ontem. Para alguém que nunca tinha bebido mais do que três cervejas amanteigadas numa mesma noite eu, com certeza, exagerei, e muito, nas doses de whisky de fogo. Mas o que mais eu poderia ter feito depois de uma noite tão horrível? Todas as pessoas no Salão Comunal pareciam estar se divertindo tanto na comemoração da vitória da no Quadribol, não custava nada eu beber um pouquinho e tentar fazer o mesmo. Pelo menos assim não ficaria pensando naquele encontro inesperado e totalmente desastroso com o Sev... quer dizer, com o Snape. Mas agora eu acho que bebi um pouquinho a mais do que devia, porque eu não consigo me lembrar de nada do que aconteceu depois do meu terceiro copo de whisky. O que quer dizer que eu não lembro de nada da parte divertida e tudo da parte desastrosa da noite. Mas que ótimo!

       Reabro os olhos devagar tentando trazer alguma lembrança de ontem para minha mente e de novo tenho a impressão de que algo não parece certo. A cortina da cama cobre toda a minha visão do quarto e eu ergo o braço para afastá-la. Talvez esse estranhamento que estou sentindo seja somente pelo fato de eu não estar acostumada a ficar bêbada e assim que eu ver as meninas dormindo como pedras em suas camas ele vai passar. Minha mão segura a cortina grossa e o movimento faz com que o meu edredom sai do lugar. Por Merlin, por que diabos eu estou pelada?!

        Ahh... Com certeza isso é alguma piada inconveniente da Lene para fazer eu me sentir envergonhada por alguma coisa que eu fiz na festa. Ou será que eu estava tão bêbada que elas não conseguiram colocar um pijama em mim? Eu espero que seja a primeira opção. Tento novamente me lembrar dos acontecimentos da noite anterior, mas por mais que me esforce a última lembrança que tenho é a de Alice falando que eu devia maneirar no álcool depois de virar o terceiro copo de whisky. E então nada mais. Todo o resto da noite é um completo breu. Sendo assim, o melhor que eu posso fazer é acordar as garotas e perguntar o que diabos aconteceu no resto da noite. Endireito o edredom garantindo que meu peito esteja coberto e volto a mão até a cortina quando um movimento no colchão me faz parar e logo uma mão segura possesivamente a minha cintura.

— Ahhhh!!!!

       Eu não tenho certeza quem de nós dois gritou mais alto. Me jogo para fora da cama puxando todo o edredom comigo e me embolando na cortina da cama. Escuto uns barulhos estranhos e imagino que a outra pessoa não esteja numa situação melhor do que a minha. Quando finalmente consigo me desvencilhar da cortina eu enrolo desesperadamente o edredom em volta do meu corpo tentando me cobrir totalmente.

— Lily?

       Ai meu Merlin, por favor não. Não pode ser ele! Ainda estatelada no chão e segurando firme o edredom em volta de mim eu olho para cima e encontro ninguém menos do que o Potter em pé na minha frente me olhando espantado. Assim como eu ele está completamente nu e cobre as suas partes íntimas com um travesseiro. Seus cabelos estão mais revoltos que o normal e ele espreme os olhos, com certeza pela falta dos óculos de grau. O que está acontecendo aqui?!

— Po... Po... Potter. — Forço minha voz a sair. — O que você está fazendo na minha cama e sem roupa? — As duas últimas palavras saem, sem querer, na forma de um grito esganiçado.

       Potter olha em volta confuso. Avisto os seus óculos largados no chão a alguns centímetros da minha mão e me estico para pegá-lo. O jogo na direção do Potter e ele se abaixa para pegá-los se esforçando ao máximo para não tirar o travesseiro do lugar. Com os óculos na cara seus olhos se abrem, mas ele ainda mantém o olhar espantado.

— Responde! — Exijo.

       Ele volta a olhar em volta do quarto parecendo tão perdido quando eu.

— Esse é o meu quarto. Você que estava na minha cama. — Sua voz sai sem nenhuma expressão.

Olho para as camas desarrumadas a minha volta, com exceção de uma, os vários pacotes de comida espalhadas pelo chão e as roupas largadas por todos os cantos e tenho que concordar com ele. Esse, com certeza, não é o meu quarto.

— O que eu estou fazendo aqui?! — Nem mesmo tento disfarçar o desespero na minha voz.

       A expressão de Potter muda da confusão para a perplexidade e eu acompanho o olhar dele. Primeiro para ele nu, depois para mim nua e então a cama dele bagunçada onde estávamos deitados até um minuto atrás. Finalmente a realidade se esclarece na minha mente. Ah, não... não... não pode ser... EU TRANSEI COM O POTTER!

       Ai Meu Merlin, como isso aconteceu? Mas que merda é essa?! Como é possível? Não é possível! Sinto o meu rosto ficando vermelho de raiva e me levanto o mais rápido que consigo sem soltar o edredom.

— VOCÊ SE APROVEITOU DE MIM! — O acuso aos gritos.

— O quê?! — Ele me olha assustado. Essas expressões do Potter estão muito repetitivas.

— VOCÊ SE APROVEITOU QUE EU ESTAVA BÊBADA PARA TRANSAR COMIGO!

       O olhar do Potter deixa de ser assustado e ele agora parece tão irritado quando eu.

— DEIXA DE SER ESTÚPIDA, LILY. EU NUNCA FARIA ALGO ASSIM.

       Tenho que admitir que isso não parece mesmo ser algo que o Potter faria. Quer dizer, ele costuma ficar com muitas meninas, mas ele nunca precisou forçar nada com nenhuma delas. Na verdade, são elas quase imploram por um beijo dele. Mas que outra explicação teria?

— E você devia estar muito bêbada mesma para não saber que eu era o mais bêbado daquela festa. Se alguém foi abusado aqui fui eu. — Ele sorri travesso e isso me irrita mais ainda. Esse não é um momento pra piadinhas idiotas.

— Você quer dizer então que nós dois ficamos tão podres de bêbados que decidimos que seria uma boa ideia a gente transar. É isso?

       Ele balança a cabeça concordando.

— Isso é ridículo. — É a maior estupidez que eu já ouvi na minha vida. E olha que depois de conviver por quase sete anos com o Potter e o Black isso quer dizer muita coisa.

— Sabe, Lily. — Espera aí, ele vem me chamando assim esse tempo todo? Ergo minha sobrancelha direita para ele com o meu olhar mais mortal e Potter parece entender o recado. — Está bem, Evans. Você pode dizer o que quiser, mas olhe em volta. O fato é que nós transamos. Nós podemos não lembrar de nada e nem saber ao certo como isso aconteceu, o que eu acredito ser uma pena, mas as circunstâncias não mentem.

       Ok. Nessa eu tenho que concordar com o energúmeno. Eu não tenho como negar o que aconteceu aqui. PUTA MERDA EU TRANSEI COM O POTTER! Respira, Lily, respira. Podia ser muito pior, você podia sei lá... ter transado com o Pettigrew. Pelo menos o Potter tem um belo tanquinho. Ai Merlin, o que eu estou dizendo?!

— Absolutamente ninguém pode saber sobre isso, Potter. — Falo com a minha voz mais ameaçadora apontando o dedo para ele. — Ninguém.

       Em seguida começo a recolher desesperadamente as minhas roupas espalhadas pelo chão do quarto e vou em direção ao banheiro batendo a porta com força. A última visão que tenho é do Potter parado ainda segurando o travesseiro de forma estratégica e me olhando num misto de descrença e choque. Assim que me vejo sozinha no banheiro eu me apoio na porta e dou um profundo suspiro. Mas que merda eu fiz? Como eu pude dormir com o imprestável do Potter? Como? Eu só espero que quando eu sair daqui ele não esteja mais naquele quarto porque eu não acho que conseguirei manter a pouca dignidade que me resta se tiver que passar por ele de novo agora.

      Bom, Lily abstrai. O que aconteceu aconteceu e não tem nada mais que você possa fazer. Só seguir com a sua vida normalmente e fingir que isso nunca aconteceu. Ótimo, agora eu também estou ficando repetitiva. Inspira, expira. Esse é um excelente plano!

Um bebê a caminho (Fanfic)Where stories live. Discover now