Neuf

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"Junhui, você está bêbado?", perguntei mesmo já sabendo da resposta, então ele não se preocupou em responder.

Ele me segurou pelo braço e me levou para o telhado. Haviam algumas garrafas de bebida no chão e no banco.

"Como você conseguiu essas bebidas? Você é louco? E se as enfermeiras-"

"Por que você sempre tem que falar da porra das enfermeiras?" Ele disse, colando sua mão sobre minha boca para me parar.

Virei minha cabeça para afastar sua mão e o perguntei: "Então do que eu deveria falar?"

"Me conte algo sobre você"

"Não tem muito o que dizer"

"Claro que tem, baby boy"

"Para de me chamar assim"

Ele apenas riu e eu comecei a lhe contar, tudo.

A verdadeira razão pela qual me mudei para Coréia, os livros que eu gostava de ler, as músicas que eu ouvia, o quanto eu amava praias e o mar e até sobre as pessoas do meu colégio.

Ele ficou muito feliz depois que lhe contei que eu amava dançar e que eu praticava break dance já fazia alguns anos.

"Soonyoung também é um dançarino incrível. Ele é muito bom em criar coreografias", ele disse e procurou por outra garrafa. Segurei sua mão antes que ele pudesse alcansá-la e nós dois ficamos surpresos com minha súbita atitude.

"Me conte algo sobre você", eu disse.

Ele me contou sobre seu irmão casula e sobre sua mãe, que ainda moravam na China, e ele me disse que os dois não sabiam que ele estava aqui. Ele também me contou sobre seu colégio e o quanto odiava matemática.

"E o seu pai?", eu o perguntei, temendo sua reação, mas ele estava bastante calmo.

"Ele me batia bastante quando eu era mais novo. Especialmente quando eu tirava notas ruins, mas na frente dos outros ele agia como se fosse o melhor pai do mundo. Piorava a cada dia, e eu comecei a puxar briga com alguns babacas do meu colégio para extravasar minha raiva", ele disse e suspirou.

"É por isso que está aqui? Muitas pessoas fazem isso e alguns até dizem que é normal", eu ri.

"Pare de rir e me deixe continuar", a voz dele soou bastante rígida do nada e eu me calei.

"Um dia, eu exagerei e o bati de volta", ele contou e eu engasguei em surpresa.

"Mas tem algo, que ele não contou para os médicos e enfermeiras. E eu tenho muito medo de contar a eles, Minghao", ele falou e novamente fez aquilo.

Ele começou a chorar.

"O que é?", eu perguntei, tendo certeza de que ele não me contaria.

Mas ele contou.

"A noite que eu finalmente contei ao meu pai que eu era gay, ele-", ele interrompeu sua própria sentença e começou a chorar ainda mais.

E eu estava apenas ali, sentado ao seu lado, sem saber o que fazer ou como reagir.

Então eu sequei suas lágrimas com a manga do meu casaco e tentei evitar a ideia de que era muito estranho para mim fazer aquilo, mas eu sabia que iria acalmá-lo.

Ele parou de chorar e terminou sua frase: "Ele me estuprou, Minghao. Meu pai é um homofóbico, mas ainda assim ele me estuprou, Minghao"

E eu não pude evitar deixar algumas lágrimas escorrerem pela minha própria bochecha.

"Eu sinto muito, Junhui. Eu não sei o que dizer... Isso é tão... Meu deus", eu gaguejei, sem poder acreditar no que ele havia acabado de me contar.

Ala 11 ; [junhao]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora