Capítulo 05

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Cuarón assumiu a supervisão das edições finais da película, me deixando livre para dar um pulinho em Roma.

Minha família se reuniria na capital italiana para o aniversário de 70 anos de Lourezza Vicenza, mais conhecida por ser a nossa mamma. Ela, que se orgulhava de seu gênio forte e protetor, havia feito muitos protestos por ter que sair de sua terrinha Partolonne (na Sicília), para comemorar na capital, mas teve que ceder, pois a esposa de seu filho Téssio exibia uma barriga de oito meses de gestação e voar em um avião até a Sicília não era escolha.

Chegando ao aeroporto tive um pequeno choque. Três homens me receberam – dois mediam facilmente mais de 1,90 e o terceiro quase o mesmo que eu, pouco mais de 1,70. O menor eu reconheci logo de vista, ele sustentava um sorriso tímido e discreto com seu perfil elegante de advogado da capital. Era Téssio, meu irmão mais novo.

— Acho que poderia te reconhecer a mil metros de altura, só pelo brilho do gel no cabelo ondulado – sorri e o abracei.

Os gigantes que o acompanhavam não me eram estranhos, mas de imediato não conseguia ligá-los a nenhuma lembrança antiga.

— Eu sabia que você faria essa cara – Téssio riu ao me ver confusa. — Eles estão diferentes, não estão?

— Não acredito – finalmente meu cérebro resolveu funcionar, mas só depois de eu ver os homenzarrões sorrindo envergonhados pela minha incredulidade. — Constantino? Marcone? – Analisei-os da cabeça aos pés – vocês estão tão...

Para você que não conhece os meus irmãos mais velhos, poderia dizer que vê-los ali trajando ternos caríssimos e alinhados, cabelos lustrosos e sapatos sociais (igual a Téssio) era uma cena quase tão chocante quanto você acordasse de manhã, se fitasse no espelho e desse de cara com a sua celebridade favorita ao invés da sua imagem habitual.

— Vocês estão tão... tão... diferentes! – Consegui dizer quando na verdade queria dizer arrumados.

— Isso não é incrível? – Marcone falou alegre um pouco alto demais, mas nada que invalidasse a sua satisfação.

— A última vez que me vesti assim foi há milhares de anos quando me casei – bufou Constantino. Na contracorrente de Marcone, ele não parecia muito confortável com o personagem.

— Ora, deixe disso! Diga se mamma não adorou? – Perguntei tentando afastar o mau humor característico do mais velho.

— Acho que mamma nem prestou atenção – Constantino falou pensativo – O único assunto que importa a ela agora é quando vai poder ir visitar o Vaticano de novo.

— É mesmo, – Marcone confirmou – mamma diz que quer conseguir uma audiência com o Papa.

Ai Mamma!

— E como foi o voo, Anastácia? – Téssio mudou de assunto.

Já cke li na, certo? Jackelina! Anastácia, não, Téssio. Jackelina! – Tentei corrigi-lo.


Fomos direto para a casa de Téssio.

Localizada no meio de uma ladeira em uma das vielas tranquilas e sossegadas da capital, a casinha de fachada amarelada com flores roseadas caindo dos telhados vermelhos, agora parecia uma feira de tão movimentada e barulhenta. Ao atravessar o portão de madeira, o cheiro de comida envolvia os recém-chegados como uma forma de boas-vindas. Jackelina sorriu. Estava em casa, quer dizer, pelo menos perto de casa. Suas lembranças da infância em Partolonne eram calorosas e se reproduziam naquele cenário: no mesão da sala vários homens gesticulavam e riam alto; mulheres descabeladas corriam de um lado para o outro carregando bandejões de molho e comida para os convidados e os filhos; as crianças brincavam no meio dos adultos ignorando as repressões que fingiam não ouvir; os adolescentes jogados no sofá assistindo alguma coisa que eu não identifiquei naquele momento. É, essa era a minha imensa família.

Thomas - Tom Hiddleston (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora