Prólogo

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Nunca pensaste em como seria a tua vida se um dia acordasses e visses o teu corpo de um gênero diferente? Seria estranho, não achas? É estranho o simples facto de hipotetizar tal situação. Mas, o que é que pensarias se eu te dissesse que eu passei por esta bizarra ideia? Costumava chamar-me Leandro, mais isso já foi a algum tempo. E posso-te explicar exatamente o que se passou. Mas antes de explicar "aquele dia", vou explicar-te qualquer coisinha de como a minha vida era antes. Não te preocupes, não vai demorar.

A minha mãe sempre que explicava o dia do meu nascimento, começava por contar como lhe estraguei o dia na praia que tinham planeado, pois parece ser que mal instalar-se na areia, deu-me por sair conhecer mundo. Sim, ela gostava muito de recalcar que foi o pior 19 de Julho pelo que ela já alguma vez passou.

Depois de nascer nessas cómicas circunstâncias, eu tive uma vida completamente normal, como a de qualquer miúdo, até aos 8 anos; eu quase ia morrendo! Okay, talvez esteja a exagerar um pouco, mas juro pela minha avozinha que a porra do cão do vizinho era enorme e que parecia mesmo que ia-me comendo!

Eu continuei a crescer, na Básica fiz amigos, bons amigos. Éramos os Nerds: sempre a falar de filmes, anime, cómics e coisas dessas. Mas este tipo de amizades é que duram, e já estava-mos prestes acabar o 11º e ainda éramos amigos. E por alguma razão, o "Gender Bender" apoderou-se das nossas conversas, como tema principal, durante os últimos meses antes das férias de Verão entre o 11º e o 12º Ano. Para quem não sabe, "Gender Bender" é um termo Inglês que se refere a troca do sexo de uma personagem. A simples vista não parecia nada de mau: o Goku em rapariga, a Miku Hatsune em rapaz, o Spider-Man em rapariga, a Wonder Woman em homem...

A única coisa fora do comum desta conversa é que de ter durado tanto, acabou por meter-se de tal maneira incrustado na minha mente, que acordava a pensar nisso, passava o dia a pensar nisso, fazia TPC a pensar nisso e finalmente, acabava na cama a sonhar com isso; o meu cérebro criava todos os possíveis corpos que iria ter no improvável caso de eu ter nascido com Ovários.

Evitei a ideia de que se tivesse tornado algum tipo de obsessão e dispus-me a acabar o 11º com a máxima normalidade possível. E consegui, acabei o ano; nuns meses estaria no último ano de Secundaria e eu sentia-me feliz. Gosto bastante de estudar e passei o verão todo a estudar matéria que a minha irmã tinha-me dito que eu iria aprender. Sim, tenho uma irmã; uma irmã mais velha com 24 anos que me serve para dissuadir as atenções de mim. Não gosto muito de chamar a atenção e graças a ela, quando vêm convidados a casa, eu posso estar sossegado no meu computador ou a estudar, porque sei que esses convidados estarão a perguntar à Sara como se sente por ser a melhor aluna de toda a Faculdade de Medicina.

Este Verão em concreto, eu estava mesmo a precisar de estar sozinho e sossegado, não só por ter de estudar, mas também porque não me senti bem nem um único dia durante as férias todas. Ou eram dores de barriga, ou eram quebras de tensão, ou eram enjoos, ou qualquer outro tipo de mal-estar. Lembro-me de ter chegado o dia dos meus anos e de mal ver o bolo ter corrido à casa de banho vomitar. Numa palavra, sentia-me "Terrível". Como lógico numa situação destas, fui ao médico; bem, aos médicos; tive de ir a uns poucos, pois todos diziam que tinha dado negativo em todos os testes e que, fisicamente, tinha uma saúde de ouro.

A escola estava mesmo prestes a começar e dois dias antes, eu recuperei a minha saúde toda. Não perguntes como, nem porquê, eu também não sei, já me sentia bem outra vez, o resto que se lixe. E era bom que me sentisse bem, ia entrar no 12º, o que significava que estaria a um ano de distância da Universidade.

Parecia um SonhoWhere stories live. Discover now