Aquele Dia

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Lembras-te de eu ter falado de "Aquele Dia"? Sim? Aqui está ele, o primeiro dia de aulas do 12º Ano.

Era uma manhã ultra normal, eu tinha ido dormir à Meia-noite e agora estava a acordar às 7 em ponto. A primeira coisa estranha da que me lembro foi ter sentido uma leve pressão no peito enquanto estava deitado com a barriga pra cima e depois ter sentido uma falha no meu equilíbrio ao levantar-me da cama. Ainda com os olhos fechados e por instinto, agarrei a camisola e as calças que tinha deixado preparadas na noite anterior, embora tenha sentido essa roupa mais apertada do que me lembrava. Teria engordado desde a última vez que a vesti? Não era isso, mas eu ainda não sabia.

Continuei a deambular com os olhos fechados, pois era tal a interiorização que tinha da minha rotina matinal, que já nem precisava de ver para saber o que estava fazer. O assunto mudou quando cheguei à cozinha para preparar as minhas torradas. Nesse momento eu já tinha os olhos abertos mas não tinha reparado no que se passava comigo e só reparei quando a minha irmã, em vez de dizer "Bom dia, Leandro", ela disse "Bom dia, Leonor".

Era a primeira vez que ela se enganava com o meu nome dessa maneira tão curiosa, mas mesmo assim tentei não passar cartão e comecei a comer sossegadamente até que ela perguntou:

-Vais ir assim no teu primeiro dia de aulas?

Perplexo e sem perceber do que estaria ela a falar, perguntei:

-Mas assim, como?

Estive prestes a chamar uma ambulância rumo a um psiquiátrico ao ouvir a sua resposta:

-Assim, sem maquilhagem.

-Olha, se é para te meteres comigo, procura outra coisa qualquer- Disse eu bastante alterado.

-Não precisas de te pôr assim. É que a maior parte das raparigas da tua idade vão maquilhadas pelo menos no primeiro dia de aulas- Respondeu-me ela como se nada fosse.

Eu não era uma rapariga, mas porque é que ela estava a falar com tanta naturalidade? Fui a correr à casa de banho e no momento em que o meu olhar se encontrou com o meu reflexo, não consegui evitar libertar aquele grito que acordou os meus pais e que os fez vir ver se estava bem.

Ainda que tivesse reagido tão mal num primeiro momento, disse-lhes que tinha-me parecido ver um bicho enorme muito de repente e que me tinha assustado. Então, o mais provável é que isso fosse um sonho; já tinha tido sonhos em que era uma rapariga, mas este estava a ser mesmo muito real e eu queria aproveitar isso. O meu primeiro instinto foi querer tirar a roupa e espreitar este corpo, mas estava a ficar atrasado prá escola e tive de adiar a apreciação do meu ser feminino.

O sonho era mesmo complexo, era muito realista. Cheguei à escola e passei pelos típicos encontro pós-férias, os meus amigo, os antigos professores, os novos... Lembro-me de me ter posto a rir umas poucas vezes bué do nada. Pra mim tinha bastante piada que todos dentro do suposto sonho me trata-se assim tão... como uma rapariga. Pensei que uma coisa óbvia desse sonho era que estava a ver a minha vida desde o meu próprio ponto de vista se fosse do sexo feminino e não se estivesse a sonhar que era outra pessoa. Se tivesse sido o segundo caso, os meus amigos não me teriam tratado como se fosse eu, quero dizer os rapazes eram cuidadosos com certos temas e as raparigas estavam muita mais à vontade com o que diziam.

Outra diferençazinha que fez-me morrer de riso por dentro foi o facto de os professores homens olharem tanto pra mim e forçarem-se para não olharem para o decote da minha camisola. Até pensei, se fosse rapariga, tinha mesmo vestido assim? Chegando a casa tinha de espreitar os armários.

O sonho avançava incrivelmente lento para um sonho normal, o seu realismo era impecável. Se não fosse o facto de todos andarem-me a tratar como às outras raparigas, teria percebido que não era um sonho. Têm de perceber que o ouvir "Leonor" em vez de "Leandro" possa fazer um pouco de confusão. Mas eu me preocupava: "era um sonho", "não tarda isto acaba", "não devo preocupar-me", "passei o Verão a ter sonhos destes", "quando acordar amanhã será o verdadeiro começo das aulas". Ou pelo menos era isso o que eu pensava.

E foi assim como acabou esse, curiosamente longo, dia que supostamente tinha sonhado e fui pra cama com cansaço a mais para ter-me "visto" como queria e ter revisado os armários.

Parecia um SonhoWhere stories live. Discover now