Parecia um Sonho

Porquê?

Agh, odei esperar e bem que tive eu que esperar... Então ela beija-me assim do nada e depois ignora-me completamente? Não me parece bem, mas prontos. Se tem de ser tem mesmo de ser. Em alguns hospitais, quando dão uns resultados importantes aos pacientes, recomendam não ver o resultado diretamente, mas sim esperar pelo menos meia hora, isto consegue que a pessoa veja o resultado mais calma e não com a impulsividade de ver isso rapidamente. Talvez ela esteja a fazer a mesma coisa comigo ao dar-me tempo para processar. 

Hoje é o primeiro dia de aulas depois das férias de Natal e eu estou pronto para enfrentá-la e ver se realmente existe uma possibilidade de estarmos juntos. Eu e a Liliana juntos? É verdade que já tinha pensado nisso, mas como namorado e namorada, não como namorada e namorada. Ainda somos muito "novas" para ter relações, não? Mas se a situação se presentasse... LEANDRO! CALMA LÁ! Não posso pensar nestas coisas, somos melhores amigos e ela só me beijou uma vez, a Liliana, a minha amiga Liliana a provocadora. Se calhar nem gosta de mim e só se estava a meter comigo por dizer que gostava de raparigas, sendo eu uma. Sim até pode ser isso.

Vou chegar tarde à escola, estou aqui a perder tempo, sentado no sofá, a dar cabo da cabeça. Nem escolher a roupa estou a conseguir. Não sei se ir um pouco mais feminino para chamar a sua atenção, se ir mais masculina para ser-me fiel a mim próprio ou se meter um saco de papel na cabeça e vestir um saco do lixo. Sim... Está mesmo a ser um bom primeiro dia de aulas e nem sequer começaram já. Decidido, vou acordar a Sara e pregunto-lhe a ela. 

Hoje a Sara não tinha que sair de casa, pelo que ainda estava a dormir pelo que entro no seu quarto sem fazer barulho e chego-me ao pé dela:

-Sara, acorda -disse baixinho- Preciso da tua ajuda. É sobre roupa. 

Os olhos delas abriram-se de repente e sentou-se. 

-Finalmente! Há meses que andas esquisita, o mais perto disto foi quando eu forcei-te a vestir em condições pra tua festa da escola. Vamos já para o teu quarto procurar algo que te faça destacar no primeiro dia do período. 

-Sara... Não é bem isso que tinha em mente.

-Senta-te lá e conta-me o que precisas. 

-Queria uma coisa discreta, mas que chamasse a atenção... Mas só de uma pessoa. Não sei se entendes. 

-Leanor, estás apaixonada? 

-Nem por isso -disse não demasiado convencido.

Depois de olhar-me de cima a baixo, levou-me até ao meu quarto onde escolheu para mim roupa que não tinha usado durante este tempo todo como mulher; umas calças justas de ganga verdes e uma camisola de lã branquinha que deixava os meus ombros à mostra, era Janeiro mas esse dia estava calor suficiente como para que usar essa roupa não fosse um suicidio por hipotermia. Mesmo assim quiz agarrar um bom casaco.

Não quero estar a gabar-me mas estava bastante gira. 

Cheguei à escola a horas, um pouco apertado de tempo, mas a horas. Não vi o Pedro e também não vi a Liliana quando cheguei, pelo que fui para a sala onde eles já estavam. A minha entrada chamou a atenção de ambos. O Pedro ficou bastante fixado com as minha clavículas assim que tirei o casaco que me tapava; a Liliana olhou-me de acima a baixo e mandou-me um dos seus habituais sorrisos pervertidos, como se nada tivesse acontecido entre nós. 

-Bom dia, Leonor. Espero que estejas bem, depois dessa gripe grande que não deixou-te ir à minha festa.

-Gripe? Sim, muito melhor. Até acho que já passou -Respondi-lhe com calma, a tirar as coisas da minha mochila. 

-Li, sobre a tua visita à minha casa, depois temos que falar. -a disfarçar, para o Pedro não suspeitar--esqueces-te de uma coisa. 

A professora de matemática chegou e mandou-me sentar antes de poder receber uma resposta por parte da Liliana. O máximo que consegui ver foi a expressão estranhada do Pedro, o qual vim a saber mais tarde, não fazia a mínima ideia de que a Li tinha saído da sua festa para ir ver-me.

A aula passou com relativa rapidez, os meus pensamentos sobrevoavam os infinitos rumos que a nossa conversa poderia vir a tomar. Ao toque da campainha aproximei-me ao Pedro e com uma festinha simpática no ombro deixei-o saber que nós já íamos ter com ele, que esperasse só um pouco. Mandei um olhar de "segue-me" à Liliana e dirigi-me à zona menos circulada da escola, podíamos assim estar sozinhos sem interrupções inoportunas. Ao pouco de chegar eu vi-a a chegar a ela, com passo firme e decidido, pronta a responder pelas suas ações qual assassino orgulhoso à entrada do seu julgamento. Chegou ao meu lado, estávamos cara a cara depois de éstas semanas de irritante espera. Eu estava pronto, ela estava muito pronta. Só faltava que eu preguntasse o que tinha estado às voltas na minha cabeça.

-Porquê?