Halloween-A Festa

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Já tinha o assunto do disfarce arrumado e comecei a despachar-me para um dia escolar cheio de documentários com temática sombria. Conversámos muito sobre a festa e eu voltei a pergunta:

-Vocês já sabem o que vão ser na festa?

-Eu vou ser um carismático Tony Stark- Respondeu o bom do Pedro.

-E tu Li, ontem estavas indecisa entre... Acho que tinhas dito ou Krueger ou Secretária- Relembrei-lhe.

-Este ano vou ser um assassino com garras, reservo a camisa e os óculos para o Carnaval- Sorriu, então, da maneira mais inocente que podia, sabendo ela que tanto eu como o Pedro percebíamos que ela tinha tanta inocência como podia ter qualquer Exibicionista.

-Vais comprar a máscara onde?- Questionou o nosso amigo.

-Comprar, eu?- Riu-se sarcasticamente, e não me admira nadinha- Até parece que não me conheces. Até prefiro passar o dia sem comer nada do que ter de comprar seja o que for no bar. Odeio gastar o meu próprio dinheiro e os meus pais não me pagariam a máscara. E é por isso que os convenci a pagar-me um curso de caracterização cinematográfica e vou ser eu quem faça a maquilhagem para ser o giraço do Freddy.

-Então sabes fazer esse tipo de coisas?!- Disse emocionado- Vou-me disfarçar de Zombie e precisava mesmo muito de arranjar alguém que me ajude com as feridas, o sangue e essas cenas. Podias-me ajudar?

-Com certeza, posso fazer-te feridas bem fixes e em lugares giros para ficares uma Zombie Sexy- Aceitou ela, imediatamente a dizer coisas estranhas.

Eu agradeci e o tema ficou fechado para nós duas. Por outro lado, o Pedro pareceu muito interassado nesta última parte da Zombie Sexy e eu fiquei com a sensação de que ele ainda pensava nisso mesmo depois de varias aulas. Mas o dia acabou e ele não disse nada.

Umas horas mais tarde, eu já estava na casa da Li, a ser coberto em maquilhagem que me deixou pálida e cheia de nódoas negras. A Lililiana tinha ficado especialmente feliz por me encher de sangue e próteses para cortes onde eu tinha feitos os rasgões na roupa. Sei que já tinha falado disto, mas insisto que a minha pele era muito mais sensível e que sentir esses pingos de sangue falso a descerem-me pelas costela... faziam sentir coisas novas e pensar em outras que não eram adequadas. A Liliana quase se desmanchava a rir ao ver-me com os olhos fechados e a morder o lábio. Mas tinha sobrevivido e agora esperava sentado no chão, a olhar como a minha melhor amiga deformava a sua bonita cara.

Estando ela despachada, fomos os dois até à festa, onde com facilidade encontrá-mos o nosso Tony. Tinha um vestido imitação de Armani e um corte de barba facial estilo Stark bastante realista para ser falso. Ficava bem e penso que tenha pensado o mesmo de mim, pois sem dúvida tinha cortado muito em casa. Os cortes estavam de uma maneira exagerados que se não chega a ser pelo sangue debaixo, até dava pra pensar que era um novo tipo de fato de banho, amostrava muita pele e eu tinha ficado "Sexy" de mais e nós, rapazes presos em corpos de raparigas, não gostamos muito de atrair olhares masculinos e eu estava a atrair muitos olhares alí dentro.

A melhor parte da festa tinha sido que a quantidade de Reggaeton tinha sido praticamente nula e também que algumas colegas e outras adolescentes que eu conhecia tinham aparecido com os mais variados e criativos e chamativos e sensuais disfarces e eu tinha tido a oportunidade de apreciar as vistas sem ser visto como um perverso. Também topei piada à Liliana a pregar partidas e a assustar aos mais pequeninos da festa.

A pior parte da festa foi o facto de que por estar muito "gira", vários rapazes foram tentar pescar o meu numero de telemóvel. Por sorte tinha lá o meu Iron Man para me salvar e afastar esses nojentos todos. Porém ele fosse parcialmente um deles, ele não parava de dizer o bem que tinha ficado, fiquei com pena de que as lentes de contacto brancas não assustaram o suficiente como para evitar as 4 vezes que reparei que ele estava a olhar diretamente para o meu decote em V. Ele é meu amigo e como rapaz que me considerava, percebia a situação; eu próprio tinha tido momentos de fraqueza com alguns dos conjuntos da Li.

Disto já não me lembro bem, não me lembro bem do final da festa, lembro-me que tinha uma banda que tocava em direto cada 10 canções preparadas, lembro-me ter havido uma espécie de concurso de disfarces do qual a Li dizia que se eu participasse, ganhava. Mas do final não me lembro bem, mas não penses que foi por andar a beber, eu não bebo, o álcool deveria estar proibido, na minha opinião.

Sei que ao final da festa eu estava tão mocado que mal podia andar. Também não me drogo! Tenho hiper sensibilidade às vibrações, fico mal disposto se são muito fortes e se estou exposto a elas durante muito tempo. Mas sem dúvida estava nesse estado devido à minha nova sensibilidade adquirida com este corpo. A Liliana e Pedro sabem bem disto e dizem eles que quando me viram dar sinais de estar prestes a desmaiar, pegaram em mim e levaram-me à casa dele, que ficava muito perto da festa.

Acordei ao dia seguinte com uma jaqueca que me fez soltar umas poucas de lágrimas silenciosas. Foi... curioso acordar sem calças na cama deles, com ele sentado num cadeirão, a dormir ao pé da cama. Tinham-me lavado a caracterização das pernas, imagino que para não sujar a cama e tinham posto as minhas coisas todas na secretaria dele. Levantei-me sem fazer barulho, vesti-me, agarrei as minhas coisas e depois de acordá-lo o suficiente para dizer que ia-me embora, sai da sua casa, à espera de que ninguém de dentro ou e fora da casa percebesse.

De volta à escola fizeram-me saber que tinha sido a Liliana a tratar de mim, roupa e maquilhagem, o que me deixou muito mais descansado por saber que não tinha sido o Pedro. O tema ficou por ai, fiquei contente de que o Pedro não comentasse mais nada sobre o facto de eu ter dormido na sua casa, coisa que eu achei que tinha sido muito querida da sua parte.

Sem o mais mínimo resquicio de dúvida, tinha sido um Halloween interessante.

Parecia um SonhoWhere stories live. Discover now