FAIXA 02 - rock you like a hurricane

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FAIXA 02 - rock you like a hurricane

A primeira coisa que ela percebeu quando acordou foi que não estava em sua cama, e que havia alguém ao seu lado.

A coberta bege estava jogada no chão e a única coisa que cobria seu corpo era um fino lençol branco. Ainda deitada na cama, Odessa olhou para as amplas janelas de vidro, vendo que o sol começara a nascer, tingindo o céu de púrpura e laranja.

Silenciosamente, levantou-se, procurando pelas suas roupas e celular.

Seu vestido preto estava jogado atrás de uma cômoda e o sutiã preso na lateral de um espelho antigo pendurado.

Fechou os olhos, pensando se valia a pena ou não procurar sua calcinha, afinal, poderia ser um caso perdido e ela só precisava descer dois andares até o seu quarto.

As batidas de The Hills tocando baixinho a fizeram ter um sobressalto por um momento, as lembranças da noite passada ao som da música dançando na mente nublada.

O homem deitado de bruços na cama era cubano, se lembrava disso pois seu alemão era fofo com o sotaque, e haviam se encontrado no bar do hotel. Ele havia a olhado por tempo suficiente para finalmente chegar ao seu lado e oferecer um cosmopolitan. Riu quando ele fez o seu pedido, como se ela não tivesse bebendo vodca a viagem inteira antes dele aparecer ao seu lado.

Não se lembrava do seu nome, e não fazia diferença; só lembrava das mãos ásperas percorrendo seu corpo e dos lábios que procuraram pelos dela.

Mas, principalmente, se lembrava da única coisa que ele lhe disse:

Você tem uma beleza exótica.

Aquilo tinha acabado com qualquer vontade de transar novamente com ele.

Simplesmente tinha virado para o outro lado da cama, e caído no sono. Aparentemente, o homem ao seu lado tinha se sentido satisfeito, pois ele não a procurou mais.

Odiava quando diziam isso.

Não era um animal raro, um produto importado, ou algo esquisito que causasse estranheza aos outros.

As pessoas se referiam a beleza exótica como um elogio, porém era ofensivo.

Aquilo já tinha enchido o seu saco mais vezes do que gostaria de lembrar.

Sentindo-se com raiva e muita fome, Blissova catou o celular ao lado da cama, as sandálias, vestido e saiu do quarto.

Ela abriu e fechou a porta três vezes, batendo bem forte, gerando um estrondo alto.

Foi o suficiente para fazê-lo se levantar da cama gritando, como um velho ranzinza.

Odessa jogou a cabeça para o lado, o analisado perante a luz do dia.

— Eu estava bêbada realmente — disse.

Vadia — grunhiu ele.

Ela riu, e mandou um tchauzinho no ar, batendo a porta uma última vez.

Dois andares depois, e de banho tomado, pediu serviço de quarto e ficou olhando para a janela enquanto comia.

O celular estava em mãos, lendo e relendo a mensagem do seu irmão.

Gostava de fingir que aquilo não a machucava, a falta de amor dos seus pais, a sensação de solidão que sentia, e o quanto tudo às vezes não parecia bom o suficiente.

Tinha chorado a noite inteira alguns dias após a mensagem. Chorar era bom, limpava a alma, e fazia você pensar com clareza.

Pelo menos era o que Odessa achava, porque assim que o dia nasceu, ela havia feito uma mochila com algumas mudas de roupas, enchido o tanque do carro, e dirigido por quase duas horas de Munique à Salzburgo, na Áustria.

The Yellow and Black PlaylistWhere stories live. Discover now