FAIXA 17 - crazy little thing called love

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FAIXA 17 - crazy little thing called love

Erik encarou os ponteiros do relógio, e o estudou por um momento. Números romanos grandes pintados de preto, fundo branco e liso. Madeira escura envolvida em pinceladas precisas de verniz canela e arabescos entalhados.

Era quase seis da manhã, e fracos raios de sol se infiltravam pela janela e cortinas a temperatura parecia estar entre os seis graus. Não tinha conseguido dormir mais que sete horas. Parecia que o sono tinha o abandonado.

Logo Ekaterina iria levantar e começar a gritar pela casa, afirmando que já estava tarde para todos ficarem na cama até aquele horário.

Ele riu silenciosamente, imaginando que em outra vida, a senhora de quase setenta anos, foi uma técnica de futebol.

A avó da namorada era uma mulher e tanto. Odessa havia lhe contado que nasceu na Crimeia, onde mais tarde migrou para Moscou e entrou no Bolshoi. Teria continuado como bailarina se uma lesão no joelho não tivesse atrapalhado seus sonhos.

Mas a vida dela não terminou ali. No final dos anos setenta, conheceu Dimitri, um obstinado estudante. Ele sempre deixava uma rosa em sua mesa no restaurante onde trabalhava, informando que sempre escolhia a flor mais bonita do buquê porque era o que ela merecia: o melhor.

Depois de meses dessa forma, ela finalmente resolveu dar uma oportunidade ao rapaz, o que os levaram ao casamento na Ucrânia, na cidade perto do mar, em uma das casas mais antigas da região.

As filhas nasceram alguns anos depois, quando Ekaterina já perseguia seu novo sonho, a culinária, e Dimitri olhava para as estrelas todas as noite no telescópio que tinha em uma das torres da casa, ouvindo alguma música antiga.

Erik adorou a história de amor, mas amou de verdade a parte do telescópio.

Seria perfeito.

Odessa moveu a cabeça sob seu peito, puxando seus pensamentos para ela, presa em seus braços, onde esperava que ficasse sempre.

Ele afastou uma mecha de cabelo escuro que caia pela testa, vendo a ideia de um sorriso surgir e sumir como fumaça dos lábios segundos depois.

Ele deslocou seu corpo do dela, braços e pernas entrelaçados, e a ouviu dar um suspiro frustrado. Virou as costas para o outro lado, a coberta escorregando pelos ombros, a pele macia e reluzente.

Como é possível sentir tanta saudade de alguém que está do seu lado?

Durm beijou o ombro dela, e a cobriu. Olhou em volta do quarto, procurando por seu casaco e calças, que Blissova não teve o cuidado algum de deixar dobrado em um lugar de fácil localização.

Encontrou as peças escondidas atrás de um armário e, enquanto se vestia, procurando o par de botas embaixo da cama, engoliu seu remédio. Já estava acostumado a tomá-lo sem água — o comprimido era bem pequeno — e de manhã, de modo que não se sentia cansado ou com sono durante o dia.

Deixou o quarto em passos lentos e sem ruídos, conectando os fones de ouvido ao celular enquanto descia as escadas.

Iria matar sua curiosidade.

No andar de baixo, com o silêncio da casa, ele analisou a parede com os retratos dos Blissova.

O sobrenome Rihani, em letras cursivas, estava escrito na foto que mostrava Arastoo e Warda com os pais. Outra foto mais em cima, Ekaterina e Dimitri sorriam para a câmera, o mar azul atrás deles.

Havia outra foto que chamou sua atenção. Uma mulher olhava seriamente para as lentes que capturaram sua imagem em preto e branco como num filme antigo. Ela tinha cabelos longos, olhos profundos, maxilar forte, e um corte profundo na bochecha direita. A impressão que dava era que alguém — ou algo — tinha cortado a pele clara. Usava um uniforme militar.

The Yellow and Black PlaylistOnde histórias criam vida. Descubra agora