Triunfo

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- O Senhor nos proteja e nos dê sua bênção! - Falou o Padre.

- Amém! - Respondeu a igreja em uníssono.

- O Senhor nos volte sua face e se compadeça de nós!

- Amém!

- O Senhor os abençoe em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Por todos os lados pessoas tocaram as testas, depois o ventre, em seguida o ombro esquerdo e direito, reproduzindo a cruz em seu gesto.

- Ide em paz, e o Senhor vos acompanhe.

- Graças a Deus! - Foi a resposta decorada e perfeitamente reproduzida pelos fiéis.

As pessoas começaram a dispersar ao fim da celebração. Muitas, contudo, ficaram para dar uma palavrinha com o Padre depois que ele voltou da clássica procissão de encerramento, onde, acompanhado pelos coroinhas, saía em fila para a sacristia, onde elogiava o desempenho de todos e agradecia ao Senhor. Sempre solícito, ele atendia a todos com paciência. Era muito admirado e querido na comunidade.

- Padre, ficou sabendo das meninas desaparecidas? Deu no jornal... perguntavam os fiéis.

- Sim, eu soube - ele vira notícias sobre as manifestações. Vamos todos orar por essas meninas. Que possam voltar a seus lares em segurança com a graça de Deus.

Após a celebração ele foi ao próprio quarto para tomar um banho frio e relaxante. Estava muito satisfeito com a própria perspicácia. Relembrando o que fizera, sorriu.

Ele retirou o corpo de Vivian do túmulo na madrugada anterior e o levou no porta-malas do carro até a casa do noivo, onde ele agora morava sozinho. Seguindo o plano, ele bateu à porta e se identificou como o Padre que iria casá-los.

"Ah sim, claro" dissera Ricardo, sem desconfiar. " Conheço você da igreja, Padre. Ela falava muito de você. Entre!"

E o padre entrou. Sentou-se no sofá indicado pelo jovem estudante e puxou assunto. Disse que estava preocupado com Vivian, que a polícia fôra até a igreja, mas que pareciam perdidos.

"Eles também vieram aqui" Ricardo disse. "Fizeram um monte de perguntas".

"E não desconfiaram de você?" Perguntou o padre. "Não quiseram saber se você tinha um álibi ou coisa assim?"

"Ah, claro que desconfiaram de mim" O jovem respondeu. "Mas eu estava na casa de amigos, tenho três testemunhas como prova disso. Além do mais, nunca fui sequer rude com Vivian, pelo contrário; a tratei com carinho sempre. Acho que meu depoimento os convenceu de minha inocência".

Era tudo o que o padre queria ouvir.

"Mas porque veio aqui tão tarde?" Perguntou Ricardo. As duas da manhã haviam acabado de passar.

"Porque tenho um suspeito. Acho que sei quem levou Vivian" Respondeu o padre.

Ricardo ficara visivelmente tenso com a informação.

"E quem é?" Ele perguntou, desesperado.

"Chegue mais perto" pedira o Padre, indicando que queria dar a informação ao ouvido do rapaz.

Ele chegou perto mesmo. Menino tolo. Quando se inclinou para ouvir a informação, o padre puxou uma faca pequena da manga e enterrou-a no coração dele. Por um instante Ricardo pareceu não entender; olhou para o próprio peito, onde destacava-se o cabo da lâmina. Em seguida, olhou para o Padre.

"O meu suspeito é você" ele disse, sorrindo. Ricardo permaneceu calado, e assim desabou. A mancha de sangue corria a se alastrar por sua camisa. O Padre arrastou-o até o banheiro, pegou alguns rolos de de papel-filme no carro e enrolou-o com alguma dificuldade, para que não sujasse de sangue a casa. Em seguida, retirou o corpo de Vivian do porta-malas e a levou até o quintal do rapaz, onde, com uma serra, separou cada membro em pedaços, colocou em um saco de lixo e jogou no fundo da propriedade. Em seguida entrou na casa, pegou algumas roupas do jovem, todo o dinheiro e documentos, e colocou no porta-malas, onde também depositou o corpo do ex-noivo. Levou-o até o cemitério, onde a cova em que Vivian estivera permanecia aberta; Lá ele colocou o cadáver do rapaz que amara Vivian, com as roupas e documentos. O dinheiro, ficou com ele. Em seguida encheu novamente o buraco de terra, feito que só terminou pelas cinco e meia da manhã. Só faltava uma coisa a ser feita; pegou o carro e dirigiu até um orelhão distante, de onde ligou para a polícia, fazendo uma denúncia anônima contra Ricardo.

E agora, no chuveiro, sorria sozinho, mas extremamente satisfeito. Sabia que aquela vaca chamada Sarah Hoffman teria que admitir que o noivo era um forte suspeito. Desaparecera com as roupas e dinheiro, e o corpo da noiva fôra encontrado aos pedaços em seu quintal. Eram provas consistentes e suficientes para retirá -lo do radar da polícia.

Era o sabor da vitória em seus lábios. Bebeu uísque outra vez , até secar a garrafa, de tão satisfeito que estava. Em seguida, deitou-se para dormir; há dias não conseguia um bom sono, principalmente por conta de suas atividades no cemitério nas madrugadas.

A garrafa caiu de sua mão quando o Padre deslizou para um sono escuro, o sorriso de triunfo ainda em seus lábios.

O CaçadorDove le storie prendono vita. Scoprilo ora