t r i n t a e c i n c o

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Ela está fugindo de mim

ela está correndo

ela corre, corre, corre

corre.

Radiohead - Creep

Desço as escadas e encontro Ingrid sentada no sofá, quando me ver ela se assusta e me olha intrigada.

- O que está fazendo aqui? – pergunta com o cenho franzido.

- Sou eu quem deveria perguntar isso, o que você está fazendo aqui? – aponto meu dedo para ela. – E como conseguiu entrar?

Garota mais esquisita, entra na casa do nada e ainda pergunta o que eu estou fazendo aqui, pelo visto as pessoas estão cada vez mais folgadas.

- Vim ver a Emerson. – responde simples.

- Ela está dormindo. – cruzo meus braços e me sento no outro sofá.

- Soube do que aconteceu. – começa. – E eu sinto muito, meu irmão é um babaca.

O meu também.

- Na verdade, ele é mesmo. – falo e ela me olha fazendo careta, quem mandou falar do irmão babaca? Eu hein.

Ingrid se levanta mal-encarada e vai até a porta, mas antes ela se vira e me olha com desdém.

- Antes de falar mal do meu irmão, olhe para o seu primeiro. – e sai batendo os pés.

Não respondo, ou melhor, ela não me deixou espaço para responder.

Mas é claro que posso falar do meu irmão, porque, entre ele e Brian o meu é bem pior, além de assassino aos catorze anos é um traidor de quinta categoria.

Com a intenção de ignorar qualquer pensamento que seja sobre Eneko pego o meu portfólio e vou desenhar na beira da piscina, como Jade ainda dorme (o que ultimamente ela anda fazendo muito), acho que desenhar pode me fazer bem.

Começo os primeiros esboços em formato de um olho extremamente escuro e capaz de me fazer ficar perdido, meus dedos desenham o olho com facilidade como se eu fosse expert em fazer aquilo – o que em parte é verdade.

Termino de desenhar seus olhos faço uma linha fina para seu rosto e começo a desenhar seus negros fios de cabelos, com a imagem perfeita dela na minha mente poderia desenhar quantas vezes eu quisesse e ainda não me esqueceria de cada detalhe de seu corpo.

Continuo a desenhá-la que não percebo quando alguém respira atrás de mim, me assusto e quando me viro Jade me olha com os olhos cheios de lágrimas.

- Meu cabelo era loiro. – diz em um tom de melancolia.

Olho surpreso para ela e fico tentando imaginá-la sendo loira, seria linda do mesmo jeito.

Nota mental: da próxima vez preciso desenhá-la loira.

- Por que pintou? – pergunto.

- É como se o preto deixasse transparecer o que minha alma realmente é.

- O que quer dizer com isso?

- Que eu sou escuridão. – ela desvia os olhos. – Mas você não, você é luz, minha luz.

Quando ela diz isso um nó se forma em minha garganta e fico incapacitado de dizer qualquer coisa, por isso todas as roupas pretas que ela nunca tira.

Algumas pessoas usam preto para da impressão de magreza, ela usa para mostrar o que é, para mostrar o que tem por dentro.

Jade senta ao meu lado e fica com os olhos fixos na piscina sem dizer mais nenhuma palavra.

- Ei. – seguro em sua mão. – Você não é escuridão.

Ela olha para minha mão é ri com desprezo.

- Não tem como você saber. – diz.

- Mas eu sei. – aperto a mão dela. – Você é apenas uma pessoa que foi machucada demais e não acredita mais no bem das pessoas, mas eu acredito, mesmo depois de tudo, porque quando vejo você eu não vejo escuridão, quando eu te vejo, vejo bondade. – engulo em seco. – E é dessa bondade que sai minha esperança nas pessoas.

Termino de falar e Jade levanta a cabeça para me olhar, suas lágrimas que antes estavam presas começaram a cair e vê-la tão vulnerável mexeu comigo. Jade nunca demonstrava ser de carne e osso, e quando demonstrava era por pouco tempo é só alguém que estivesse realmente prestando atenção perceberia.

E eu percebi, percebi todas as vezes em que ela desviava os olhos para não deixar passar o que ela estava sentindo, EU PERCEBI.

Passo meus dedos por suas lágrimas e fico imaginando como alguém teria coragem de quebrar seu coração, as palavras de Ingrid sobre a bondade de Jade estar querendo sair mexeram comigo, porque sinto que cada vez mais essa bondade está se deixando mostrar.

- Você é bom. – fecha os olhos com meu toque.

- Não, Jade, você é boa, você é a melhor pessoa que eu já conheci. – ela sorri em meio as lágrimas e beija minha mão.

- Não sei o que faria se te perdesse. – sussurra.

- Eu já disse. – seguro em cada lado de seu rosto. – Você não vai me perder.

Ela sorri com as lágrimas parando de cair e me beija.

Um beijo sem malícia, sua boca está úmida devido ao choro e ela solta todo o seu ar enquanto me beija. Nos separamos o suficiente para eu olhá-la bem no fundo dos seus olhos e com apenas um olhar ver tudo o que ela é.

Ela desvia seus olhos dos meus e seus olhos percorrem meu portfólio que estava aberto no meu colo.

- Você tem um portfólio só com desenhos meus? – pergunta rindo.

- O que te faz pensar isso? Não acha que está muito convencida?

Ela ri mais uma vez e sua risada entra pelos meus tímpanos como se fosse o melhor som que eu já ouvira.

- Sexto sentido. – respondo e pega os desenhos de mim.

Ela começa a folhear os desenhos e em cada um solta um suspiro.

- Isso é incrível. – diz encantada. – Você desenha muito bem.

- Obrigado. – respondo e ela me olha rindo com divertimento. – Não sei o que você está pensando, mas a resposta é não! – estico minhas mãos em rendição.

- Mas eu não pensei nada. – responde e coloca meu portfólio na cadeira ao lado com cuidado.

Então com rápido movimento sinto as mãos de Jade segurando em minhas pernas e em questão de segundos estamos dentro da piscina, olho para ela que ri descontroladamente.

- Oh não. – pego em minha camisa da Marvel. – Minha camisa nova.

- Sinto muito, Owen. – ela ri chamando-me pelo meu sobrenome.

Sorrio e abraço-a, Jade passa os braços ao redor do meu pescoço e a seguro deixando com que ela fique da minha altura.

Nossas testas se colam e a beijo em um movimento sagaz, Jade sorri entre o beijo e afundo nossos corpos fazendo com que Jade engolisse água e acabasse dando um tapa fraco em meu braço.

- Eu te amo, nerd. – fala com a voz rouca devido as tosses.

- Eu te amo, delinquente. – uso o apelido que meu irmão usou no dia em nos viu no quintal da minha antiga casa.

Sorrimos e puxo ela para mais perto de mim beijando-a novamente – dessa vez sem palhaçadas.

Juro (CONCLUÍDO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora