[75] mm

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Jungkook sabia onde Jimin estaria, mas nem em sonhos ele decidira aparecer daquela vez. 

Jimin já tinha revirado a casa, já tinha mudado o sofá de posição, deixando-o de frente para a parede que Jungkook havia desenhado, já tinha levado mais cobertores, porque dormir ali era um martírio gelado, já tinha levado aperitivos, mas estavam todos por abrir e, por fim, já tinha comprado mais lenha, até porque antes de conseguir realmente dormir Jimin passava tempo e mais tempo olhando o fogo exceder-se no canto da sala. 

Foi divertido, por uns dias, fingir que estava vivendo sozinho mais uma vez, e um dia voltaria a estar, mas era aborrecido. Entristecedor. Ainda para mais para uma pessoa como Jimin, que precisa de companhia. 

Era ruim viver sozinho, ele admitia. Mas o seu objetivo nunca fora viver só, sendo honesto. 

E ainda não sabia bem qual era o seu objetivo ao ir para ali durante a noite, sem nada para fazer, sem nem uma mísera televisão. 

Apenas ele, aquele sofá e aquela parede. 

E era suficiente! Só faltava Jungkook. 

E algures naquela noite, ao invés de se sentir assustado por estar ouvindo barulhos, Jimin sentiu-se abençoado, sem se mexer, fingindo dormir, não porque tinha medo, mas sim porque teria Jungkook o agarrando. 

Porque só podia ser Jungkook, ninguém mais. Mais ninguém viria por ele. 

Jungkook nem mexeu os cobertores em que Jimin estava enroscado, deitando-se por cima dos mesmos, com cuidado e tão lentamente, como se qualquer movimento abusado fosse fazer explodir uma bomba. Então ele puxou o garoto contra si, porque o sofá ainda era apertado, moldando-se ao seu corpo, passando o seu nariz pelos seus cabelos. 

Jungkook não estaria ali pela manhã, não estaria mesmo, mas Jimin não se importava, pelo menos não se importou ao perceber que Jungkook continuou a aparecer nas noites seguintes, sempre que Park fingia dormir, esperando que ele adormecesse para poder se virar para ele e ver aquele rosto bonito e definido em todo o canto. Ele saía pela manhã, sem rasto, como se não tivesse estado ali, deixando apenas o seu cheiro no travesseiro (aquele que Park adquirira quando percebera que Jungkook já dormia todo torto e podia facilitar um pouco).

Eles nunca falavam, eram amantes da noite. Eram amantes da mentira que estavam criando. Queriam-se tanto, precisavam-se tanto, mas nenhum cedia. 

Amavam-se, por favor, era óbvio. 

Mas estavam criando aquela caixinha deles, porque por mais que separados... Estavam juntos. 

E aquela rotina durou alguns dias, com Park Jimin deixando a porta aberta propositalmente, porque a primeira fora apenas esquecimento, e com Jungkook chegando quase sempre à mesma hora e saindo algures durante o verdadeiro sono do Park. 

Em uma dessas noites, farto de si mesmo, porque já lá ia mais uma semana daquele fingimento, e por mais que Jimin adorasse o contacto, o calor, os corpos, para ele era demais. Era demais saber que podia ter aquilo quando quisesse, mas tinha que se limitar às noites fingidas, mas pelos menos quentes. 

E quando Jungkook entrou, de fininho, como sempre, Jimin estava deitado no chão, de lado, em frente da lareira, deixando-se aquecer por ela, com um cobertor sobre as pernas e com o cotovelo apoiado no chão, segurando a sua cabeça na palma da mão. 

E ele não olhou, não se virou quando ouviu a porta. 

Porque era Jungkook. Só Jungkook vinha. 

Só ele. 

Quem mais queria saber de Park Jimin? 

O Jeon ficou perto dos pés do menor, em pé, e trazia um gorro nos cabelos que brilhavam com a luz reluzente do fogo em reflexo, as mãos nos bolsos, nas jeans rasgadas e habituais. 

Não falaram, não disseram nada. Não seria diferente daquela vez. 

Jungkook caiu no chão, sentou-se, deixou-se ir e segurou a mão do Park, o puxando para que se sentasse, com a manta sobre as suas pernas. 

E os joelhos um do outro, à medida que estavam sentados de frente um para o outro, tocaram-se, mas não ligaram. 

Jimin esticou o cobertor pelas pernas dos dois, com uma de Jungkook caída no chão, dobrada contra si e a outra com o pé apoiado no chão. Ele moveu a mão, tocando os cabelos completamente despenteados do menor, afastando-os para o lado. 

"Você tem vindo todos os dias." Jimin murmurou, confessando-se. 

E Jungkook sorriu, franzindo o nariz para o outro, ainda tocando os seus cabelos. 

"Eu sinto saudade." Ele confessou, com o tom mais seguro do que outro. 

Pelo menos Jimin sabia agora que não estava sonhando. 

Eles ficaram daquele modo por algum tempo, com a lareira os aquecendo, o único som sendo o da lenha crepitando, com a mão de Jungkook ficando perto da nuca do mais velho, o pulso descansando no ombro dele, sem se mexerem. 

Olhar Jungkook não era mau, Deus, era do melhor. Mas Jimin teve que fechar os olhos. 

E a sua mão na sua coluna foi do melhor, sentindo o joelho dele entre as suas coxas, enquanto se empurrava vagarosamente sobre si, deixando-o deitado no chão, com os seus narizes se tocando, a milímetros. Só milímetros. 

Hey, preste atenção. 

Eram só milímetros, daquela vez.  

Sete minutos [ji.kook]Where stories live. Discover now